A cultura do Distrito Federal vem passando por dificuldades, principalmente depois da pandemia do novo coronavírus. Com potencial para incrementar o número de postos de trabalho e movimentar a economia, o setor deve ser encarado como uma das prioridades por quem ocupar o Palácio do Buriti a partir do próximo ano.
Fomentar programas de apoio à cultura e devolver o protagonismo a importantes espaços da cidade estão entre os desafios da nova gestão, como a reabertura do Teatro Nacional Cláudio Santoro (leia mais). Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, é um dos símbolos de Brasília e está fechado desde janeiro de 2014, após recomendação do Ministério Público e do Corpo de Bombeiros, pois a edificação não atendia às normas vigentes de segurança e acessibilidade.
O Correio ouviu as propostas dos postulantes à chefia do DF para a cultura da capital federal. Os programas dos seis políticos que lideram as intenções de voto — de acordo com a última pesquisa Correio/Opinião, de 5 de setembro — incluem fomento a atividades culturais, programa de valorização do orgulho local, parcerias com o setor privado para a revitalização de espaços culturais e a ampliação do Fundo de Apoio a Cultura do Distrito Federal (FAC).
Revitalização
Candidato à reeleição, Ibaneis Rocha (MDB) ressalta que, mais importante do que gerar renda e receita para os artistas e fazedores de cultura, é necessário difundir a arte produzida na cidade. "Temos que formar plateia, qualificar a população, pois apenas assim as pessoas poderão se enxergar como artistas, ou ao menos se identificar com a ideia da cultura", acredita. "Estamos recuperando todos os espaços públicos, mas é preciso fazer mais. Cada região administrativa precisa ter um lugar em que a comunidade possa desenvolver suas manifestações culturais e temos um projeto para isso."
A candidata Leila do Vôlei (PDT) afirma que, caso eleita, vai priorizar a Lei Orgânica da Cultura (LOC). A senadora ressalta que o Fundo de Apoio à Arte e Cultura (FAC) terá editais para cada Região Administrativa. "Também iremos reabrir o Teatro Nacional Cláudio Santoro, recuperar o Centro Cultural da Ceilândia e o Cine Itapuã, no Gama", complementa. Outra proposta da postulante é a instalação do Parque Audiovisual de Brasília, com a inclusão da produção de games, e o fortalecimento da Escola de Música de Brasília (EMB). "Vamos construir o CEU das Artes, em Sobradinho e Santa Maria, além de realizar festivais de cinema e arte na rede pública de educação", promete.
Candidato pelo Partido Social Democrático (PSD), Paulo Octávio ressalta que turismo, cultura e arte são pontos que se interligam em seu plano de metas. "O segundo grande evento na área de cultura será o resgate do Programa Orgulho de Brasília, com uma grande comemoração do aniversário da cidade, resgatando a nossa história e projetando-a para o mundo", comenta. Além disso, PO afirma que, caso seja eleito, pretende concluir o projeto da orla do Lago Paranoá. "A ideia, como um todo, é passar a promover Brasília, nacional e internacionalmente."
Promoção da cultura
Leandro Grass (PV), pretende dar apoio às iniciativas culturais recuperando espaços, teatros e pontos de cultura do Plano Piloto e de todas as regiões administrativas. "Também quero promover as manifestações populares, regulamentar a Lei Orgânica da Cultura (LOC) e incentivar os conselhos culturais", ressalta. Ele defende a importância de democratizar o orçamento do setor e recuperar locais como o Catetinho, o Museu Vivo da Memória Candanga, o Memorial dos Povos Indígenas, o Teatro da Praça e outros espaços abandonados. Outra proposta do candidato para o setor, é a descentralização da Lei de Incentivo à Cultura (LIC) que, segundo o deputado distrital, ainda funciona para poucos e grandes empresários.
O senador Izalci Lucas (PSDB), candidato da federação PSDB-Cidadania e PRTB, afirma que sua principal proposta para o setor é definir políticas públicas para valorizar todas as atividades que mostrem a diversidade de Brasília, além de promover e viabilizar projetos para o fortalecimento da cultura local. "Vou reativar, revitalizar os espaços culturais como o Teatro Nacional, o Teatro de Arena do Guará, as casas de Cultura e o Cinema do Gama."
Keka Bagno (PSol) diz que é urgente a compreensão e percepção da atuação política da cultura, considerando os direitos à cidade e a equalização do orçamento para o setor em todo o DF. "É fundamental qualificar a política cultural para fazer valer e aprimorar, técnica e administrativamente, as diretrizes contidas na Lei Orgânica da Cultura", alerta. Para a candidata, também é preciso trazer respostas pontuais e efetivas às transformações socioculturais às quais a população foi submetida.
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Ibaneis Rocha (MDB)
» Criação de um banco de talentos de profissionais da cultura, onde, obrigatória e minimamente, 30% das fichas técnicas dos projetos fomentados com recursos públicos deverão ser compostas por esses profissionais;
» Fomento a atividades que possam difundir a cultura do DF em outras unidades da federação e outros países;
» Valorização e investimento em projetos culturais de povos originários, indígenas, quilombolas e de outras minorias por meio de linhas específicas de fomento e premiação;
» Implantação de políticas culturais para a primeira infância, utilizando a cultura como ferramenta de formação do ser;
» Fomento às atividades culturais sacro-religiosas;
» Conclusão do Centro Cultural de Ceilândia e criação de um para cada Região Administrativa;
» Profissionalização e modernização da gestão do Cine Brasília;
» Modernização dos espaços culturais, tornando-os mais atrativos e atuais aos visitantes, com instalações adequadas.
Leila do Vôlei (PDT)
» Criação da Feira Conhecendo o DF, evento itinerante de artesanato, cultura e gastronomia que vai proporcionar troca de conhecimento, comercialização de produtos, intercâmbio cultural e geração de renda;
» Compromisso com o cumprimento da Lei Orgânica da Cultura (LOC), principalmente no que se refere ao Fundo de Apoio à Cultura (FAC) regionalizado e com os editais anuais pagos desde o primeiro ano de governo;
» Recuperação dos equipamentos de cultura nas cidades, priorizando o Teatro Nacional Cláudio Santoro, a expansão do Centro Cultural da Ceilândia e a recuperação do Cine Itapuã (Gama);
» Implantação do Parque Audiovisual e ampliação do objeto de atuação para produção de games;
» Construção de mais dois CEU das Artes (Santa Maria e Sobradinho) e do Centro Cultural da Ceilândia;
» Festivais de cinema e artes na rede pública de educação;
» Elaboração de mecanismos de financiamento para a manutenção do patrimônio cultural das cidades.
Paulo Octávio (PSD)
» Resgatar o programa Orgulho de Brasília, grande comemoração do aniversário da cidade, resgatando a história da capital;
» Concluir o projeto Orla do Paranoá, com polos de entretenimento e lazer;
» Resgatar o Polo de Entretenimento e Artes, com incentivos e investimentos no setor;
» Desenvolver o Plano Diretor Sustentável para o Turismo: mapear e criar rotas temáticas de turismo no DF e Entorno;
» Fomentar o turismo de eventos, cívico, rural e de aventura. Promover Brasília como centro de eventos mundiais e expandir os voos internacionais;
» Implementar Rua do Lazer em todas as RAs aos domingos e feriados. Revitalizar o Parque da Cidade e o Taguaparque por meio de modelo de concessão;
» Fortalecer o esporte local e promover uma agenda nacional e internacional para eventos esportivos;
» Expandir o programa das Vilas Olímpicas para todas as cidades. Resgatar o programa Esporte à Meia Noite nas regiões de maior vulnerabilidade.
Leandro Grass (PV)
» Reabrir o Teatro Nacional para receber grandes orquestras e companhias de teatro;
» Dar apoio às iniciativas culturais, recuperar espaços, teatros e pontos de cultura do Plano Piloto e das Regiões Administrativas do Distrito Federal;
» Democratizar o orçamento do setor e recuperar locais como o Catetinho, o Museu Vivo da Memória Candanga, o Memorial dos Povos Indígenas e o Teatro da Praça;
» Revitalizar as feiras permanentes, nas diferentes RAs, para que sejam polos de referência de tradições populares e de cultura gastronômica;
» Promover o potencial cultural do turismo ecológico, arquitetônico, cívico e gastronômico, que a cidade propicia;
» Ampliar e regionalizar a aplicação da LIC, para que as empresas menores também apoiem os artistas locais;
» Fortalecer o ecossistema da produção cultural ao fomentar a economia criativa local;
» Aliar a estratégia de desenvolvimento cultural ao potencial turístico da capital federal.
Izalci Lucas (PSDB)
» Transformar o Distrito Federal na capital dos eventos culturais;
» Definição de políticas públicas para valorizar todas as atividades que mostrem a diversidade de Brasília;
» Promoção e viabilização de projetos para o fortalecimento da cultura local;
» Atenção especial aos grupos de quadrilheiros juninos, e resgate às escolas de samba do DF;
» Busca de parcerias com o setor privado para a reativação e revitalização de espaços culturais, como o Teatro Nacional, o Teatro de Arena do Guará, as casas de Cultura e o Cinema do Gama;
» Realização de programas de incentivo e de apoio aos artistas com mais de 60 anos e pessoas com deficiência;
» Criação de um ponto de apoio da Secretaria da Cultura em cada região administrativa do DF para ouvir os artistas locais;
» Viabilização de projetos que fortaleçam as mulheres, os jovens e as crianças por meio de oficinas de formação em arte e cultura.
Keka Bagno (PSol)
» Ampliar as dotações orçamentárias anuais do GDF, redirecionando para o Estado a responsabilidade majoritária das demandas do setor;
» Construir um plano de manutenção das políticas públicas, ampliar o alcance dessas medidas, com melhoria qualificada na distribuição dos recursos;
» Integrar outras secretarias na instalação de espaços para atendimento psiquiátrico, psicoterápico, odontológico, oftalmológico, fisioterapêutico e de acompanhamento à mulher em todos os equipamentos culturais do DF;
» Ampliar o Fundo de Apoio a Cultura do Distrito Federal (FAC) a pelo menos 1,5% da receita líquida corrente do GDF;
» Revitalizar dos equipamentos e complexos culturais, com acessibilidade e mobilidade acessível;
» Elaborar, com os funcionários da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, de projeto que complementa a lei da carreira de musicista;
» Contestar a Lei do Silêncio, considerando a prerrogativa que distingue música de ruídos.
E como fica o Teatro Nacional?
Ibaneis Rocha afirma que o teatro é o mais importante espaço cultural do DF. O atual governador diz que pretende iniciar a reforma do local ainda neste mandato, começando pela sala Martins Pena. "Ao mesmo tempo, estamos negociando com o Banco de Brasília, para que ele assuma o patrocínio da reforma do restante do teatro, principalmente da sala Villa Lobos. Queremos devolvê-lo à sociedade o mais rápido possível", comenta.
A senadora Leila do Vôlei também pretende reformar o espaço, caso assuma o comando do Palácio do Buriti. "Queremos fazer isso por meio de uma permuta de terreno por serviços, via Terracap, reabrindo, assim, um espaço tão importante para a cultura do Distrito Federal", ressalta a candidata.
Segundo Paulo Octávio, tirar do papel a licitação de revitalização do espaço será sua primeira grande ação de governo. "É um espaço histórico e arquitetonicamente importante para o Brasil. O Teatro Nacional aberto movimenta a cultura, traz grandes espetáculos e atrai turistas", observa. "Não há gasto quando se fala da indústria cultural. Garantir recursos para o ramo é investimento que se traduz em renda, ocupação e inclusão social."
A intenção do distrital Leandro Grass é reabrir o Teatro Nacional com o apoio do Ministério da Cultura que, segundo o candidato ao GDF, será recriado caso Lula (PT) seja eleito presidente. "Essa é uma questão que envolve a importância de criar locais de cultura e a manutenção deles, coisa que não foi feita", critica. Para Grass, a cultura do DF está abandonada. "Brasília precisa de um teatro de grande porte, além de teatros e centros culturais nas outras cidades, de forma que toda a população tenha espaço para se manifestar e usufruir da cultura local.
O candidato Izalci Lucas afirma que seu objetivo é revitalizar o espaço e colocá-lo em funcionamento, no menor prazo possível. "Vou buscar parcerias com o setor privado, já que inúmeras instituições brasileiras e estrangeiros têm projetos de apoio cultural e, certamente, se interessarão pelo esforço de retornar o espaço ao seu verdadeiro destaque local e nacional", frisa. A proposta do candidato é fazer uma reforma por etapas, liberando gradativamente as salas do teatro.
A candidata Keka Bagno considera que o Teatro Nacional é um dos equipamentos culturais de maior visibilidade no DF e, para ela, a subutilização do espaço é inaceitável. "Desde que foi fechado, as iniciativas de planejamento de um retorno gradual de suas atividades ocorreram de maneira tímida", destaca. A conselheira tutelar afirma que vai investir em transformações socioeconômicas do espaço.