Quem assumir o Palácio do Buriti para os próximos quatro anos vai ter de se debruçar sobre as demandas do entorno imediato ao Distrito Federal. Os equipamentos públicos da capital do país servem também aos moradores da chamada Periferia Metropolitana de Brasília (PMB), que compreende 12 municípios goianos. As ligações vão além da proximidade geográfica: 128 mil pessoas empregadas da PMB trabalham no DF e cerca de 100 mil cidadãos goianos desses municípios buscam os serviços de saúde em unidades da capital do país. Estima-se, ainda, que os moradores de 42,8 mil domicílios da PMB venham ao Distrito Federal para atividades de cultura e lazer. Os números são da última Pesquisa Metropolitana por Amostra de Domicílio (Pmad), divulgada em 2021 pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do DF, antiga Codeplan.
O Correio analisou os planos de governo dos seis primeiros colocados na disputa ao governo do DF, de acordo com a última pesquisa Correio/Opinião, de 5 de setembro. As poucas citações ao Entorno e à Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride) — mais ampla do que a PMB, que abrange 19 municípios de Goiás e três de Minas Gerais — são feitas, majoritariamente, nas áreas de mobilidade urbana e segurança pública. O Correio questionou cada um dos seis candidatos sobre as demais propostas para o Entorno do DF.
Em busca da reeleição, o governador Ibaneis Rocha (MDB) aborda, no plano de governo, os municípios que rodeiam a capital do país nas áreas de vigilância epidemiológica, cultura e economia. Ele pretende incentivar parcerias entre as prefeituras e o governo do DF, principalmente com o estado de Goiás. "Nós já estamos trabalhando pela integração de todos os serviços públicos entre o DF e o Entorno. Esta semana mesmo, secretários e técnicos do DF e de Goiás se reuniram, para que a gente possa melhorar principalmente as áreas de saúde, que vem recebendo recursos importantes do governador (de Goiás) Ronaldo Caiado (UB), e transporte público, que passou a ser responsabilidade do DF", afirmou à reportagem. Caiado também é candidato à reeleição.
Relação
O sistema de transporte coletivo dos municípios goianos do Entorno é responsabilidade do GDF desde julho de 2021. Ibaneis espera expandir a parceria às cidades mineiras que compõem a Ride, além de estender os serviços públicos compartilhados. "Outras áreas também serão beneficiadas com essa relação mais próxima dos dois governos, para que a população, tanto das cidades de Goiás quanto do DF, tenham melhores serviços públicos. Em seguida, vamos levar a mesma questão para o governo de Minas Gerais."
Ex-vice-governador do DF, Paulo Octávio (PSD) defende, nas propostas de governo, o desenvolvimento de parcerias com as prefeituras da PMB, por meio da integração dos sistemas públicos de transporte, inclusive do metrô do DF com os demais modais. O empresário também propõe articulação entre os órgãos de segurança pública da capital do país e do Entorno, além da criação de rotas turísticas do DF e da PMB.
"Uma das metas do nosso governo é a integração do transporte público, inclusive com a possibilidade de um tíquete único entre o Entorno e o DF. Como a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) passou os ônibus do Entorno para o Distrito Federal, assumiremos efetivamente este serviço e buscaremos a integração, inclusive viabilizando ônibus novos e tarifas melhores para o Entorno", destaca o candidato do PSD.
Sobre a segurança pública, Paulo Octávio afirma que o acordo de colaboração entre a segurança do DF e os municípios do Entorno. "Há pouco relacionamento, com possibilidades mínima de interação entre as corporações. Essa cooperação vai ser retomada como havia durante o governo de Joaquim Roriz."
Em relação à saúde, "nós teremos os governos de Goiás e de Minas Gerais como nossos melhores amigos, sejam quais forem os eleitos, pois saberão, junto à União, buscar recursos que efetivamente atendam a população do Entorno, especialmente as cidades goianas e Unaí", acrescenta.
Leandro Grass (PV), nome da federação PV-PT-PCdoB, estabelece, nas propostas de governo, a articulação interfederativa e o diálogo com a Ride, para melhorar a qualidade dos serviços públicos. Ele pretende trabalhar propostas de maneira articulada. "Vou criar o Conselho de Governança Metropolitana, composto pelo GDF e por representantes das prefeituras da região metropolitana de Brasília. Isso se dará pela constituição de um consórcio público que terá como atribuição o planejamento, a coordenação e a execução dos serviços públicos de interesse comum", descreve o deputado distrital. A curto prazo, ele cita o aprimoramento da mobilidade urbana, por meio da integração entre o BRT Sul e o BRT Oeste com as cidades goianas, e a articulação entre os estados para ampliar o acesso dos moradores da PMB ao sistema público de saúde. "Meu compromisso é buscar financiamento federal para construir o Hospital Geral Regional."
Emprego
Leandro Grass acredita no potencial da gestão articulada para outras áreas, como educação e desenvolvimento econômico. "Vou instituir o Comitê Gestor do Complexo Industrial de Saúde, com a participação das secretarias do GDF, da Ride, da Fiocruz Brasília (Fundação Oswaldo Cruz), da Universidade de Brasília (UnB) e da FAP-DF (Fundação de Apoio a Pesquisa do DF), com foco na ciência, para produzir saúde, emprego e renda. Também vou propor a criação de um Fundo de Desenvolvimento para a Ride, a partir de legislação federal." Ele planeja, ainda, priorizar a população da PMB no acesso ao ensino superior, por meio da Universidade do DF.
O plano de governo do candidato da federação PSDB-Cidadnia e PRTB, Izalci Lucas (PSDB), propõe ação conjunta das forças de segurança do DF e do Entorno, com compartilhamento de dados e inteligência, e a superação das barreiras fiscais com as regiões mais próximas ao DF. O senador defende a promoção de parcerias entre a capital do país, Goiás e Minas Gerais. "Muitas atividades e empresas que não têm espaço para estar no DF poderiam ser colocadas em Goiás. Mas não há incentivo algum, nem mesmo fiscal." O político critica a falta de compartilhamento de informações de segurança pública entre o Entorno e o DF, como um banco integrado de antecedentes criminais. "O DF funciona de maneira analógica, nada informatizado", lamenta.
O candidato ressalta que a informatização e a tecnologia são o caminho, inclusive, para os desafios da saúde enfrentados nas regiões. "Nenhum estado tem mais recursos que o DF ou mais profissionais de saúde, mas sofremos aqui com a corrupção, direcionamento das licitações e falta de transparência. Em dois meses, pretendo resolver a questão das filas para, em seguida, entrar no ritmo normal de atendimento. O SUS (Sistema Único de Saúde) é universal, ele deve atender a todos. Mas o Ministério da Saúde reembolsa o DF com os atendimento feitos de pessoas fora da região. No entanto, como não temos levantamentos e informações, não conseguimos atender as pessoas com qualidade", aponta.
O plano de governo da senadora Leila do Vôlei (PDT) refere-se ao Entorno apenas no que tange a segurança pública. A candidata cita "protocolos de planos táticos integrados de repressão qualificada." Nome da federação PSol-Rede na corrida ao governo do DF, Keka Bagno (PSol) propõe, no plano de governo, medidas para a segurança pública e a mobilidade urbana para contemplar o Entorno.
Até o momento, as candidatas não retornaram o contato do Correio.
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