Suspeito de realizar um ataque cibernético no sistema do Jardim Zoológico, Marcelo Medeiro Gomes é investigado também por assédio. Funcionárias que trabalharam com ele durante o período em que foi chefe de Tecnologia de Informação (TI) do Zoo, cargo terceirizado, prestaram queixa na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) I.
No registro de ocorrência, ao qual o Correio teve acesso, são listadas diversas mensagens enviadas por Marcelo em grupos de WhatsApp. O ex-chefe de TI deixava claro a intenção de causar a demissão de uma das trabalhadoras. “Tenho nojo dessa mulher”, chegou a escrever em uma das mensagens.
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Em outras ocasiões, o homem afirmou que queria oferecer veneno para a funcionária. “Se eu colocar laxante na água dela ou na comida, você desliga a câmera?”, perguntou a outro funcionário. Ele relatava que estava contando os dias para a colaboradora deixar a empresa. “Tenho vontade de arrebentar a cara dela todo dia”, disse.
Outra trabalhadora do zoológico também relatou à polícia a intimidação que sofreu por parte do Marcelo no Trabalho. Segundo o relato da vítima, o homem costumava amedrontá-las com demissão e diversas outras retaliações. “Marcelo costumava monitorar os colegas através de câmeras e outros sistemas de tecnologia”, relata a denúncia.
Procurada pela reportagem, a assessoria jurídica de Marcelo emitiu nota informando que os fatos serão "esclarecidos em tempo oportuno". Segundo a defesa, o cliente "ocupava cargo sensível na empresa, visto que era responsável por reportar toda e qualquer conduta inadequada do direito do trabalho e regimento interno da empresa".
Sobre a instalação de câmeras, a defesa disse que foi uma iniciativa do Jardim Zoológico e que os equipamentos estavam em local perceptível, conhecido pelos funcionários. "Ocorre que tais denúncias geravam desconfortos nos relacionamentos interpessoais, assim, dentre as inúmeras condutas inadequadas reportadas pelo acusado, algumas geraram demissões".
A nota alega que as "supostas vítimas" estão difamando Marcelo fazendo "alegações inverídicas sobre sua vida pessoal". Por fim, a defesa conclui que o acusado apresentará provas e se manifestará na Justiça.
Ataque cibernético
Delegada chefe-adjunta, Letizia Fernandes de Lourenço, da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), explica que a autorização do mandado de busca, cumprido nesta quarta-feira (15/9) na casa do suspeito, era para acesso a conteúdo eletrônico. “Em junho deste ano, recebemos a comunicação do Zoológico informando o ataque ao sistema. Eles contaram que um dia, depois da saída de um funcionário terceirizado, ficaram sem acesso à internet e ao sistema de bilhetagem. Fomos ao local junto com a perícia e a equipe conseguiu preservar vários acessos do gestor”, conta.
Letízia detalha que a polícia comprovou que os arquivos tinham sido apagados. “Inclusive dados sobre a saúde dos animais, uso de medicamentos e tratamentos veterinários, que caso não fossem recuperados, poderiam levar à morte dos mais debilitados. A investigação conseguiu recuperar parte dos arquivos e identificou o nome do computador que acessou o sistema remotamente, o que não é permitido pelo Zoológico”, afirma.
Segundo a delegada-adjunta, após atuar como terceirizado, o suspeito tinha deixado aplicativos e programas que permitiram o acesso por fora da rede. “As suspeitas eram caídas no funcionário, até mesmo porque ele era o especialista que atuava na área. Com a comprovação da perícia, descobrimos o nome de usuário dele. Depois de apreender o equipamento com o mandado de busca, estamos aguardando a perícia dos objetos. O suspeito já tinha sido ouvido e negou qualquer tipo de envolvimento. O inquérito agora vai apontar o crime que ele cometeu”, aponta.
Letízia conta que a motivação do ataque ainda não foi descoberta. “Ele já tinha o acesso ao sistema e vinha preparando tudo para ter acesso remoto e às áreas que não eram permitidas. Não sabemos se ele apagou esse arquivo por vingança, equívoco ou para apagar algum rastro de delito anterior que ele cometeu”, pondera.
Se condenado, o suspeito pode pegar pena de até 12 anos de prisão. “Também verificamos o possível crime de peculato, em razão dele ter retirado alguns equipamentos do Jardim Zoológico alegando que eram dele. A pena de peculato é de até 12 anos de prisão, que pode ser somada a pena do crime de ataque cibernético”, conclui a delegada.
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