Carros de luxo, movimentação milionária e até envolvimento de policiais militares. Assim funcionava uma quadrilha especializada em lavagem de dinheiro por meio de pontos de jogo do bicho instalados no distrito Federal. De maneira hierarquizada e com divisão de tarefas, o grupo era composto por células de contabilidade, de apoio, de assessoria, de gerenciamento, de segurança e de recolhimento de numerário. Quarenta e três mandados de busca e apreensão foram cumpridos pela Polícia Civil do DF (PCDF), mais de R$ 1 milhão em espécie e R$ 20 milhões em veículos foram apreendidos no âmbito da operação Téssera, desencadeada na manhã desta quarta-feira (14/9).
Segundo as investigações coordenadas pela Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), o grupo criminoso movimentava entre R$ 5 milhões e R$ 7 milhões por mês. Dos 43 mandados de busca cumpridos nos estados do Rio de Janeiro, Goiás e em cidades do DF, como no Gama, em Samambaia, no Guará, em Vicente Pires, no Riacho Fundo, no Paranoá, em Ceilândia, em São Sebastião, na Asa Norte e no Cruzeiro, sete ocorreram num hotel de Águas Claras com salas comerciais, que servia como base central para a contabilização do dinheiro. No total, 128 carros foram apreendidos.
A quadrilha agia da seguinte forma. Nas bancas para as apostas, espalhadas pelo DF, os apostadores iam fazer os jogos, e o esquema gerava o dinheiro em espécie. O valor arrecadado era transportado pela célula responsável e deixado em algumas centrais em regiões da capital para que o montante fosse contabilizado.
Depois disso, o dinheiro era encaminhado ao hotel em Águas Claras, onde era feita a soma final, o pagamento dos envolvidos da organização, bem como o pagamento dos prêmios dos ganhadores. O que sobrava era enviado, na maior parte das vezes, por meio de transporte terrestre, para o Rio de Janeiro, onde mora o líder da quadrilha, de 59 anos. Em algumas ocasiões, eram feitos depósitos bancários.
O chefe do esquema visitava com frequência o DF para coordenar as atividades de arrecadação e conferir as quantias a serem transferidas para o Rio de Janeiro. Na capital fluminense, o líder tem uma agência de revenda de veículos utilizada na lavagem de dinheiro. De acordo com o delegado da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco) Jorge Teixeira de Lima, a dificuldade de apurar os valores obtidos pela quadrilha está no fato de que, por ser um jogo de contravenção penal que movimenta muito dinheiro em espécie, o montante acaba entrando e se pulverizando automaticamente.
“O chefe do grupo vinha a cada 15 dias para fazer um controle contábil, ajustes na própria organização, às vezes demitir um gerente e contratar outro, fazia os pagamentos e retornava para o Rio de Janeiro. Junto com ele, geralmente vinham comparsas para fazer o transporte em via terrestre do dinheiro”, destacou o delegado, pontuando que a escolha do meio de transporte seria uma forma de não chamar a atenção de entidades financeiras devido a movimentação de grandes valores.
Envolvimento de PMs
Ao menos oito policiais militares do DF e um policial penal do Estado de Goiás ativos e da reserva são suspeitos de envolvimento na quadrilha. Os investigados foram alvos de mandados de busca e apreensão. Eles seriam responsáveis por garantir a segurança no transporte do dinheiro obtido com o jogo de azar entre as bancas de vendas e o ponto de centralização e a distribuição do montante. “As investigações demonstraram que eles vinham sofrendo assaltos por conta do grande volume de dinheiro em espécie. Então, eles acabaram contratando pessoas da segurança pública tanto da polícia militar quanto da polícia penal para essa parte de segurança armada do numerário que era transportado”, destacou o delegado
Em nota ao Correio, a PMDF destacou que a corregedoria da corporação colaborou desde o início com as investigações e agirá com base nas leis e regulamentos militares no ato delituoso. “A Polícia Militar do Distrito Federal não coaduna com desvios de comportamento de seus integrantes e procederá com o devido processo legal”, pontuou o documento.
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