Ao menos oito policiais militares do Distrito Federal e um policial penal do Estado de Goiás são suspeitos de envolvimento em lavagem de dinheiro por meio da exploração do jogo do bicho. Durante a operação Téssera, deflagrada nesta quarta-feira (14/9) pela Polícia Civil do DF (PCDF), os investigados foram alvos de mandados de busca e apreensão. No total, foram 43 ordens cumpridas contra a quadrilha especializada no esquema, nesta manhã, em várias regiões administrativas da capital e nos estados do Rio de Janeiro e em Goiás.
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Segundo as apurações da Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Draco), os agentes seriam responsáveis por garantir a segurança no transporte do dinheiro obtido com o jogo de azar entre as bancas de vendas e o ponto de centralização e distribuição do montante. “As investigações demonstraram que eles vinham sofrendo assaltos por conta do grande volume de dinheiro em espécie. Então, eles acabaram contratando pessoas da segurança pública tanto da polícia militar quanto da polícia penal para essa parte de segurança armada do numerário que era transportado”, destacou o delegado da Draco, Jorge Teixeira de Lima. Os policiais militares são da reserva e da ativa da corporação.
Com o objetivo de desarticular o esquema, as investigações, iniciadas em fevereiro do ano passado, conseguiram comprovar a participação de cerca de 30 indivíduos na organização criminosa e na lavagem de dinheiro relacionada à exploração do jogo do bicho. Na operação policial, foram apreendidos aproximadamente R$ 750 mil em espécie que, segundo a polícia, seria o valor arrecadado na semana, além de máquinas de contagem de dinheiro, apetrechos para a realização de apostas de jogo do bicho, bem como dez veículos de luxo, sendo um blindado.
Um homem foi preso em flagrante por porte irregular de arma de fogo. Os mandados foram cumpridos nas regiões administrativas de Águas Claras, Gama, Taguatinga, Samambaia, Guará, Vicente Pires, Riacho Fundo, Paranoá, Ceilândia, São Sebastião, Asa Norte e Cruzeiro, além dos estados do Rio de Janeiro e de Goiás.
Em nota ao Correio, a Polícia Militar do DF destacou que a corregedoria da corporação colaborou desde o início com as investigações e agirá com base nas leis e regulamentos militares no ato delituoso. “A Polícia Militar do Distrito Federal não coaduna com desvios de comportamento de seus integrantes e procederá com o devido processo legal”, pontuou o documento.
Entenda o esquema
Alvo da operação, a quadrilha especializada em lavagem de dinheiro por meio da exploração de jogo do bicho agia de forma hierarquizada e com tarefas definidas. Os integrantes do grupo se dividiam em células de contabilidade, de apoio, de assessoria, de gerenciamento, de segurança e de recolhimento de numerário. Os valores, que chegavam ao montante de R$5 milhões a R$7 milhões por mês, eram transportados para o Rio de Janeiro, onde mora o líder da organização.
As bancas para as apostas ficavam espalhadas pelo DF. Nelas, os apostadores iam fazer os jogos e o esquema gerava o dinheiro em espécie. O valor arrecadado era transportado pela célula responsável e deixado em algumas centrais em regiões da capital para que o montante fosse contabilizado. Após essa etapa, o dinheiro era encaminhado para o hotel em Águas Claras para a soma final, o pagamento dos envolvidos da organização, bem como o pagamento dos prêmios dos ganhadores. O que sobrava era enviado, na maior parte das vezes, por meio de transporte terrestre, para o Rio de Janeiro. Em algumas ocasiões, eram feitos depósitos bancários.
De acordo com o delegado da Draco, a dificuldade de apurar os valores obtidos pela quadrilha está no fato de que, por ser um jogo de contravenção penal que movimenta muito dinheiro em espécie, o montante acaba entrando e se pulverizando automaticamente. “Como eles fazem arrecadação semanal, não há uma concentração mensal a ponto de a gente conseguir aglutinar uma movimentação mensal desse dinheiro em espécie”, ressaltou Jorge. O transporte terrestre do valor também seria uma forma de não chamar a atenção de entidades financeiras devido à movimentação de grandes valores.
De acordo com o apurado, o líder de 59 anos visitava com frequência o DF para coordenar as atividades de arrecadação e conferir as quantias a serem transferidas para o Rio de Janeiro. Na capital fluminense, o chefe do grupo tem uma agência de revenda de veículos utilizada na lavagem de dinheiro. Em caso de condenação, os envolvidos poderão responder pelos crimes de integrar organização criminosa, lavagem de dinheiro e pela contravenção penal de exploração do jogo do bicho. As penas somadas podem chegar a 18 anos de prisão.
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