Investigação

Raptora de bebê liderou prática de estelionato na ala feminina do PCC

Processos obtidos pelo Correio detalham a denúncia do Ministério Público do DF feita contra Natália Santos Sousa em 2020. A mulher foi presa após pegar uma menina de 7 meses

Darcianne Diogo
postado em 13/09/2022 05:44 / atualizado em 13/09/2022 05:45
Natália foi presa e responde por subtração de incapaz -  (crédito: Redes sociais)
Natália foi presa e responde por subtração de incapaz - (crédito: Redes sociais)

A mulher presa por raptar uma bebê de 7 meses em Santa Maria coordenava uma das alas femininas da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) e atuava nos crimes de estelionato no Distrito Federal. Natália Santos Sousa, 26 anos, foi alvo da operação Guardiã 61, desencadeada em 2020 pelo Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor) e foi denunciada pelo Ministério Público (MPDF) à época.

Segundo a delegada-chefe da 33ª Delegacia de Polícia (Santa Maria), Cláudia Alcântara, Natália responderá por subtração de incapaz. "Ela acumula inúmeras passagens por roubos e furtos diversos." Ela aguarda pela audiência de custódia, que deve ocorrer hoje. A mulher mora no mesmo lote com a amiga e mãe da criança, Camila Alves Santos, 24, em Santa Maria. Na sexta-feira pela manhã, ela pediu à colega para ir com a bebê a uma loja de celulares, no Novo Gama (GO), mas não retornou. Desesperada, Camila pediu ajuda nas redes sociais para localizar o paradeiro da filha Gabrielly Alves dos Santos.

Uma testemunha, moradora do Jardim Ingá (GO), contou à reportagem que, na noite de sexta-feira, Natália bateu no portão da casa dela e pediu por mantimentos, mamadeira e roupas. "Na sexta, no sábado e no domingo, ela passou lá em casa, sempre no período da tarde. Ela pediu comida, leite para a criança e ajudamos todos esses dias, mas sem saber de nada." A moradora chegou a questioná-la se ela seria mãe da criança. "A todo momento, ela dizia que era tia e que a mãe não ligava para a menina, sempre difamando a mãe", relatou.

Natália só soube dos fatos ao ver uma publicação nas redes sociais na manhã de ontem. "Mostrei a postagem para ela e disse que estava sendo dada como sequestradora e que era melhor entregar a bebê para a mãe." Aparentemente, Natália não esboçou reação quando instruída a devolver a criança e aceitou que telefonasse para a mãe.

Em entrevista exclusiva ao Correio, Natália não soube explicar o porquê de pegar a criança. "Eu ia entregar ela hoje (segunda). Não ia fugir", afirmou. A suspeita contou que caminhou por quase três horas até chegar no município do Entorno e dormiu por três dias debaixo de árvores. No entanto, negou maus-tratos à bebê. "Eu dei leite, troquei fralda e embrulhei. Jamais iria fazer mal à ela", se defendeu.

Facção

Processos obtidos pelo Correio detalham a denúncia do MPDFT feita contra Natália em 2020. À época, a operação Guardiã 61 cumpriu 14 mandados de prisão preventiva e 10 de busca e apreensão contra a célula criminosa que tentava se instalar na capital. Entre os alvos estava Natália, que foi dada como foragida.

A ligação da suspeita com o PCC era praticamente evidente. Em diálogos interceptados pela polícia, constatou-se o envolvimento de Natália com membros de alta periculosidade da facção. Segundo o MP, a mulher assumiu uma responsabilidade de liderança de "Geral da Fora do Ar", no quadro da ala feminina da organização, atuando em prol do grupo com práticas de estelionato ou "corres de cartão".

À época, a Defensoria Pública pediu a liberdade da acusada com as justificativas de que ela estaria grávida e perto de ganhar bebê e por ser ré primária. O MPDFT oficiou pelo indeferimento do pedido e considerou que as circunstâncias pessoais e a primariedade não eram suficientes para afastar a prisão preventiva.

A Justiça, no entanto, revogou a prisão preventiva da ré e determinou o uso da tornozeleira eletrônica. Na decisão, assinada em 2 de dezembro de 2020 pela juíza Ana Cláudia de Oliveira, a magistrada afirmou que não houve evidências de que a mulher integrasse ainda o PCC, uma vez que ela teria sido "advertida" pela facção por "falta de sintonia" e por ser "mal criada".

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