Eleições

Advogados e empresários são maioria dos candidatos nas eleições

A proporção de representantes dos setores no pleito é a maior desde 2014, quando corresponderam a 13% de todas as inscrições no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Neste ano, 21% se declararam em uma das profissões

Ana Isabel Mansur
postado em 07/09/2022 06:00
 (crédito: pri-0709-ricos)
(crédito: pri-0709-ricos)

Advogados e empresários são a maioria entre os candidatos destas eleições no Distrito Federal. Somados, os dois grupos têm 186 nomes e representam 21% de todos os registros inscritos na Justiça Eleitoral (885). São 118 empresários e 68 pessoas ligadas à advocacia, e as profissões ocupam o 1º e o 2º lugares, respectivamente, no ranking de ocupações do pleito de 2022. A proporção de empresários e advogados nas eleições é a maior desde 2014, quando corresponderam a 13% de todas as inscrições no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 2018, a quantidade foi de 17,3%.

De acordo com o cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, "essas duas profissões são presenças fortes e expressivas no processo eleitoral e participam ativamente dos debates. É algo nacional, que ocorre nas outras unidades federativas também, porque eles representam uma fração importante das elites brasileiras", argumenta o especialista, ao detalhar as posições privilegiadas que usufruem na sociedade. "Sem dúvida, o poder econômico conta, porque eles têm conexões e recursos, então podem autofinanciar as campanhas. São, em geral, pessoas conhecidas, que podem buscar votos com mais facilidade junto a apoiadores, influenciadores e formadores de opinião — pessoas que costumam ter dinheiro. Eles largam um pouco na frente de outras candidaturas, pelas condições econômicas e as conexões que essas construções econômicas geram."

A maior parte dos advogados e empresários candidatos busca uma posição na Câmara Legislativa (CLDF). São 118 nomes na corrida para ser deputado distrital, o que corresponde a 63,4% do total dos integrantes dos grupos na disputa. "No Legislativo, eles podem trabalhar na formulação de políticas e algumas, certamente, serão de interesse dos setores e segmentos que representam", observa André César.

Mundo jurídico

Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do DF (OAB-DF), Délio Lins e Silva Junior acha natural a participação de profissionais do direito nas eleições. Para ele, a proximidade ocorre de maneira ainda mais forte na capital do país. "É natural que advogados e advogadas se interessem por política, porque ela está presente em tudo o que fazemos no dia a dia. A OAB trabalha muitas pautas relevantes nas suas comissões temáticas, então faz muito sentido termos representação política para defender essas pautas."

Ele, contudo, ressalta o caráter apartidário da ordem. "A OAB-DF não se envolve com as decisões políticas individuais de cada advogado ou advogada. Muitos que participaram de disputas eleitorais, inclusive se afastaram de cargos relevantes na casa", aponta, sem deixar de lado a defesa da retidão. "A advocacia deve, sim, contribuir com a política, levando boas propostas e criando políticas eficientes, desde que mantenha uma relação ética. Há muita gente bem preparada para ajudar, e quem ganha com isso é a sociedade", conclui.

Profissões que 'falam'

Segundo o doutor em ciência política e especialista em elites estatais e classe política, Adriano Nervo Codato, a justificativa do ranking também está no fato de existirem algumas profissões que têm mais afinidade com o mundo político. "São aquelas que usam a palavra. Na maioria dos parlamentos pelo mundo, há algumas profissões que são muito recorrentes: jornalistas, advogados e até mesmo professores", destaca. "Então, existe quem tem mais facilidade para fazer política, seja porque reúne capital social ou conexões, seja porque está acostumado a lidar com leis, seja porque está acostumado a falar em público e conquistar audiências."

Adriano coloca a profissão de advogado como uma das que mais se destacam dentro da política, em nível mundial. "Dados do parlamento do Congresso nos Estados Unidos, mostram que por lá, tem uma taxa altíssima, embora declinante, de pessoas que vêm do mundo do direito", comenta. "Os números chegaram a 70% nos anos 1990. Em 2015, ela estava em torno de 60%", detalha o especialista.

Grandes e pequenos

Cientista social e doutor em ciência política, o pesquisador da relação entre empresários e política Ícaro Engler ressalta que a profissão se consolidou nos últimos anos entre os candidatos, porém, lembra que o termo pode ser usado de forma errônea. "No registro da candidatura, a profissão é autodeclaratória. Então, quando a gente fala de empresário, fica meio genérico, porque pode incluir aqueles que têm grandes patrimônios econômicos, mas também engloba os pequenos e médios empresários", pondera.

De acordo com Adriano Nervo Codato, outros pontos são fatores importantes para a presença massiva de empresários nas eleições. "Campanhas políticas, no Brasil, são muito caras e permitem autofinanciamento. Então, esse papel do dinheiro na política brasileira é elevadíssimo e, às vezes, os empresários querem cortar intermediários, fazendo parte do mundo da política, diretamente, e continuando os seus negócios por lá", explica. "Além disso, os suplentes de senadores também aumentam essa quantidade. Em geral, eles costumam ser empresários, porque são eles que financiam as campanhas do titular e, quando o último tem algum compromisso e precisa se ausentar, o suplente empresário entra."

O especialista em elites estatais e classe política comenta que o parlamento brasileiro é um dos maiores na quantidade de empresários eleitos, comparando com países como Argentina, Chile, Estados Unidos e França. "Os parlamentos das democracias ocidentais não têm essa taxa de empresários que tem o Brasil. Por aqui, cerca de 30% dos eleitos para a Câmara e o Senado se autodeclaram como empresários", afirma o cientista político. Para o especialista, a explicação está na falta de critérios para definir a ocupação. "Temos que pensar que existem empresários: urbano e rural; grande, médio e pequeno; executivo e dono de empresa. Então, para facilitar, coloca todo mundo no mesmo nicho, fazendo com os números sejam altos", encerra.

Colaborou Arthur de Souza

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