Um leitor desavisado, que lê esta crônica em estado ou país (quanta pretensão a minha!) mais distante dos trópicos, pode logo fazer a relação com o período eleitoral. É fato que as eleições têm o poder de elevar a temperatura no campo simbólico — como já é possível ver nas ruas, de maneira mais tímida, e nas redes sociais, com toda a potência que a polarização dos últimos pleitos tem exercido.
Mas estou falando aqui de um calor nada metafórico. A miragem turva sobre o asfalto no pico do dia não me deixa mentir. Brasília ferve. Pega fogo. E ardem junto com essas chamas — reais e metafóricas — as narinas, ressecadas como castigo infame da umidade abaixo dos 20%. Quem moldou essa realidade certamente não teve pena dos mortais que estariam circulando por aqui.
E não sem razão. Talvez a nossa estupidez mereça ser brindada com o tempo árido, e a secura não passe de um reflexo de nossos corações petrificados. Quanto amargura, hão de dizer alguns. Mas numa situação como a atual, não há espaço para rodeios ou meias palavras. É preciso ir direto ao ponto.
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E aí, quem sabe, os leitores de pontos mais afastados dos trópicos tenham razão. Essa crônica é também um pouco sobre a temperatura do país diante do processo eleitoral doloroso que temos enfrentado. Evidente que é impossível não levar em consideração as paixões quando os candidatos mais bem colocados clamam justamente pelo oposto.
A consciência, porém, meu caros, talvez seja o melhor guia para ajustar o termômetro do nosso sistema eleitoral interior e transformar a guerra em tratado de paz. Lembrar (e reconhecer) que o voto consiste em um instrumento poderoso de exercício da democracia é um primeiro passo. Depois disso, no entanto, vários outros são necessários para impedir que a febre se alastre.
Não que a temperatura alta não seja bom sinal. Na cidade, é momento de ir às ruas, ocupar parques, o Eixão do Lazer, a Água Mineral. É tempo de tomar picolé e milkshake. De se bronzear às margens do Lago, nos clubes, nas piscinas. Hora de marcar festas ao ar livre sem medo da chuva e de se programar para a maior celebração de todas quando as primeiras gotas caírem.
Na política, é sinal de que os eleitores estão interessados e nada apáticos, o que seria o pior dos cenários. Mas como a sabedoria popular já adianta, a diferença entre o veneno e o remédio é a dose. Sol em excesso queima a pele. Secura em demasia desidrata. Democracia sem justiça eleitoral morre.
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