No caminho para o trabalho, no passeio pelo shopping ou enquanto espera o transporte coletivo, pausas musicais em meio à correria do dia a dia são um presente à vida agitada dos brasilienses. Em diversos pontos da capital, os artistas inovam nas apresentações em vias públicas e dedicam a vida ao aperfeiçoamento das técnicas.
Michael Carvalho, conhecido pelo nome artístico de Maico Veloso, 26 anos, é um músico que se apresenta nas ruas de Brasília, com o violino. "Faço esse trabalho há cerca de oito anos. Principalmente, aqui, em frente ao Conjunto Nacional", conta. A paixão pelo instrumento começou quando foi sorteado para a escola de música de Brasília. "Cheguei a fazer quase seis anos de curso e, depois, virou uma profissão", narra.
As apresentações de Michael são para lá de ecléticas. Variam do pop, da MPB, do rock, da música eletrônica até composições gospel. Assim como para outros profissionais, a crise sanitária impactou muito na renda. "A pandemia foi o que atrapalhou muito o trabalho, na verdade o lockdown, porque as pessoas passaram a contribuir menos, e perdemos o serviço que tínhamos em eventos como casamentos e festas. Antes, eu chegava a ir para vários locais do país, como Curitiba e São Paulo, me apresentando. Agora, em todo local, a situação está bem complicada, então é melhor ficar por aqui", afirma.
A trajetória de Luciano Carvalho, 48, conhecido como Luno Sax, em espetáculos nas ruas começou em 2015. "Eu fui me apresentar nos locais públicos devido a um período de depressão, justamente para tentar sair (da doença), e também devido à dificuldade financeira que a depressão me causou. Para me salvar, literalmente, tanto financeiramente quanto emocionalmente, na alma", narra o apaixonado pelo saxofone.
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Aos poucos, Luno descobriu os melhores pontos da cidade para atrair o público. "O artista tem que ir onde o povo está, e isso foi o que me salvou, consegui pagar minhas contas, coloquei metas do valor que tinha que ganhar por dia. Em Brasília, tem que rebolar para ser artista de rua, porque não temos uma cultura tão forte nesse sentido", lamenta.
Instrumento inovador
Um dos poucos tocadores de serrote do Brasil, Sérgio Brum, 67 anos, é destaque no cenário musical de rua de Brasília. Para o morador de Taguatinga Sul, se apresentar é um hobby, porque não depende da atividades para manter a renda de casa. Ele se dedica há mais de quarenta anos a aperfeiçoar a técnica que desenvolveu no instrumento. "Nasci em Carangola, Minas Gerais, e me interessei com a música quando tinha dez anos, e um tocador passou na igreja se apresentando com um serrote. São poucos os que tocam no país, tanto que não existe uma escola para ensinar como utilizá-lo. Eu cheguei a abrir um curso de como tocar serrote, mas não é tão simples e nem todos pegam a técnica", detalha.
Sérgio chegou em Brasília, em 1990, e desde então apareceu em programas de televisão e criou um repertório com 61 composições usando o instrumento. "A mecânica do serrote é diferente. Toco com o arco do violino, pego o punho do serrote e o coloco no joelho. Depois, busco a nota. Foi um aprimoramento muito autodidata. Mas é claro, tem músicas que dão certo de serem transferidas ao serrote", conclui Sérgio.