Cultura

Iniciativa cria painéis de grafite em paradas de ônibus do DF

Com a proposta de revitalizar pontos de ônibus do DF e celebrar a cultura de rua, projeto expõe grafites de artistas brasilienses

Com a proposta de revitalizar pontos do Distrito Federal, grafiteiros ilustram paradas de ônibus das regiões de Sobradinho 1, 2 e na Fercal. Há pouco mais de um ano, o projeto Arte em Trânsito aproxima o grafite do brasiliense, democratizando a essa expressão cultural e derrubando preconceitos, oferecendo aos moradores da capital do país um novo olhar para a cidade.

Gabriela Pires Gomes/Divulgação - Para a finalização das obras de arte, o spray de tinta dá lugar ao pincel de pintor
Gabriela Pires Gomes/Divulgação - Projeto de Graffiti começou em 2021, com quatro voluntários. Este ano, 15 artistas participam da iniciativa
Gabriela Pires Gomes/Divulgação - Em 2021, o grupo trabalhou em oito paradas de ônibus. Em 2022, serão 15, em Sobradinho 1, 2 e na Fercal
Projeto de Graffiti/Divulgação - Este ano, o tema dos 15 painéis de grafite é o rock'n'roll

Artista plástico e grafiteiro, o morador de Soradinho Paulo Roberto Nunes observou que diversas paradas de ônibus da região estavam deterioradas. Ele, então, juntou o talento para desenhos com a vontade de viver em uma cidade mais bonita e criou o projeto. "O grafite toca as pessoas, porque é diferente de ir em uma galeria para ver uma obra de arte. Com o grafite, você tem uma obra de arte na porta de casa, na rua. Toda vez que você passa, lá está ela", explica Paulo, que destaca a participação de mais artistas.

Em 2021, Nunes e mais três grafiteiros de Sobradinho deram inicio ao trabalho, todos voluntários, com oito painéis. Na ocasião, o grupo fez vaquinhas para arrecadar dinheiro e comprar o material necessário para a pintura das ilustrações.

Com o sucesso do projeto, os artistas criaram um portfólio e foram selecionados para receber recursos do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) do Distrito Federal. Neste ano, serão 15 paradas de ônibus ilustradas por 15 artistas das três regiões, oito já concluídas. "Eu gosto de ver o grafite perto da periferia, porque é como se a gente tivesse divulgando nosso trabalho na nossa própria casa. A gente sabe que as pessoas estão vendo e valorizando aqueles artistas. A gente não é famoso, não é celebridade. Mas a gente sabe que a comunidade gosta e apoia o trabalho", afirma o idealizador.

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Poesia

Também, foram convidados 15 poetas para participarem do processo criativo das ilustrações. Os escritores foram selecionados a partir de um concurso aberto ao público, com o rock'n roll como tema. "O rock não deixa de ser uma poesia", defende Paulo. A partir dos 15 textos selecionados no concurso, os grafiteiros criaram as ilustrações que, agora, fazem parte do cenário brasiliense. Todo o trabalho resultará em um catálogo com um compilado das fotos das obras nas paradas e dos poemas. Serão 500 cópias distribuídas gratuitamente para moradores da região, divulgando a arte dos grafiteiros e dos escritores.

Joésio Menezes, poeta e morador de Planaltina, foi um dos selecionados para participar do projeto. "Mesmo tendo alguns livros já publicados e textos em coletâneas nacionais, a emoção de ver nosso trabalho estampado em painéis de grafite é única, é diferente. Comparo-a à emoção de quando vi meu primeiro livro publicado, lá em 1998", celebra Menezes.

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Auto-declarado fã de rock, Joésio defende a relação do gênero com a poesia e o grafite. "Eu vejo essa relação do rock e da poesia com o grafite como um "elixir da juventude" para ambos, uma prova de que "o sonho não acabou" e que, se depender dessa geração de grafiteiros, se assim posso chamá-la, jamais acabará", opina. "Para mim, escrever uma poesia enaltecendo o velho e bom rock e alguns nomes que deles fizeram ou fazem parte dele foi simplesmente prazeroso", diz.

Além da satisfação sentida ao participar do trabalho, o escritor enxerga a importância social do Arte em Trânsito. "Projetos como esses têm fundamental importância no que diz respeito ao uso do grafite como ferramenta de inclusão e socialização dos jovens, principalmente aqueles que vivem às margens da periferia do DF, sem perspectivas de vida e, quiçá, de ascensão social", pondera.