A curvatura em formato de asa que corta o cerrado de norte a sul e, aos olhos dos passantes, torna-se uma eterna reta permeada por concreto exposto e tortuosos galhos. Poderia ser a capital federal, mas é a Universidade de Brasília (UnB). Na vida de muitos, ambos se confundem. Alunos, professores e demais funcionários encontraram, nos corredores do espaçado campus, uma sensação de pertencimento. Para a comemoração do sexagenário da UnB, o livro Memórias e afetos, que será lançado no dia 5 de setembro, relata a história de 60 docentes e discentes — todos com 60 anos ou mais de idade — e ilustra que, mais do que a academia, a universidade ensina sobre o amor.
A ideia de homenagear a UnB e as pessoas idosas que seguem fazendo história na universidade surgiu do projeto de extensão do grupo de trabalho "Envelhecimento Saudável e Participativo", coordenado pela professora de enfermagem Leides Barroso. No livro, os entrevistados — professores, estudantes e técnicos administrativos — contam sua trajetória na instituição e o que ela representa. Entre os participantes, estão ex-reitores, alunos que ingressaram na UnB após completarem 60 anos de idade e ex-alunos que se tornaram professores.
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"A UnB foi construída por pessoas que seguem sendo pilares da universidade, independente se estão na ativa ou aposentadas. O objetivo do livro era ouvir essas histórias e mostrar que essas pessoas ensinaram e seguem ensinando, caminhando e honrando a UnB com suas interações", pontua a professora. "A universidade é um espaço de educação para todas as idades. Então, essa questão do Brasil ser um país para jovens e da universidade ser um lugar para jovens vem sendo trocada para: Brasil, um país de gerações e Universidade, um lugar que celebra gerações", avalia.
Os entrevistados também falaram sobre seus planos e os principais aprendizados do envelhecimento. "A gente está vivendo uma transição de narrativa societária em que não se falava de projeto de vida para a pessoa idosa. É uma pergunta que se fazia para jovens, talvez, para alguns adultos na questão do trabalho. Mas pesquisas internacionais mostram que após os 60 anos essa pergunta para de ser feita para muitos", observa.
Para o professor de engenharia de software Ricardo Ajax, que tem quase 30 anos de trajetória na UnB, foi uma honra ser um dos entrevistados. "Foi uma oportunidade de transmitir não só meus sentimentos de orgulho por fazer parte desta instituição, mas também de compartilhar minhas experiências ao longo desta jornada. A UnB é uma instituição que promove a inclusão participativa de vários grupos populacionais e, dentre eles, nós idosos", conta. "Considero o lançamento do livro Memórias e afetos um marco no carinho e consideração dos idosos na vida cotidiana da instituição. Nesse sentido, se sentir incluído e participativo fornece como retorno emocional a sensação de uma vida que contribui para melhorar as relações humanas e técnicas", relata.
Aprendizados
Ao lado de Leides, organizadores de todas as gerações participaram da construção da obra. Cristina Flores Garcia, 63 anos, foi responsável por representar os idosos entre os líderes do projeto. "Ser convidada para participar da criação do livro foi uma agradável surpresa. Considerei como reconhecimento de um trabalho desenvolvido por mim, de junho de 2019 a março de 2020, em uma instituição de longa permanência para idosos (ILPI). Enxerguei como uma chance de cooperação intergeracional", diz Cristina.
Gabriel Corrêa Borges, 23 anos, graduando em enfermagem, retratou uma geração mais jovem. Ele relembra que durante a produção do livro pôde se inspirar e se surpreender com os relatos. "É muito importante que histórias como essas sejam divulgadas e difundidas na cidade e na UnB, para que mais pessoas vejam a importância da construção de uma narrativa que seja a favor de uma universidade para todas as idades, sem preconceitos e sem discriminações. Assim, é possibilitado um melhor preparo aos futuros profissionais que sairão daqui", avalia. "Assuntos acerca do envelhecimento e das propostas intergeracionais precisam, cada vez mais, serem discutidos para ganhar mais visibilidade e equidade na sociedade", complementa.
A bacharel em Relações Internacionais Nanahira de Rabelo e Sant'Anna considera as narrativas uma fonte de muita sabedoria. "É impressionante a riqueza das diversas experiências e lições de vida compartilhadas. Do agendamento ao registro das entrevistas, pude retomar contatos com pessoas muito importantes em minha trajetória acadêmica e profissional e conhecer novas inspirações. Realizei intercâmbios, tanto com as pessoas entrevistadas quanto com as demais organizadoras. Mostramos que é possível trabalhar de forma intergeracional, aprendendo uns com os outros, unindo e complementando talentos em favor de uma obra que celebra a nossa universidade", aponta.
Marisete Safons, professora da Faculdade de Educação Física, defende que realizar as entrevistas foi como visitar a intimidade do passado dos participantes do projeto. "Foi como ouvir uma história sobre a construção da vida tendo a UnB como pano de fundo. Das entrevistas que realizei, destaco a paixão relatada pelos entrevistados pela universidade. O amor pela instituição e o sentimento de gratidão é muito forte na fala das pessoas. A vida da UnB vibra na vida das pessoas e vice-versa", finaliza.
Serviço
Lançamento do e-book Memórias e afetos
Transmissão on-line via canal do Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares da UnB: youtube.com/c/CanalCeamUnB
Dia/hora: 5 de setembro, às 16h30
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