Festa grega

Comunidade Grega de Brasília abre a tradicional festa Panighiri

Fundada há 57 anos, a Comunidade Grega de Brasília convida o público para o Panighiri, que é comemorado no último final de semana de agosto na Grécia, quando é celebrada a colheita da uva, no verão do país banhado pelo Mediterrâneo

Brasília nasceu e cresceu tomando o posto de cidade do futuro, de um sonho que então começava a se tornar realidade, em um país que se encontrava em franca transformação. Famílias vinham de todos os lugares. O resultado: um turbilhão cultural. No entanto, essa diversidade não se limita às fronteiras do território nacional. Comunidades estrangeiras também embarcaram na aventura traçada por Juscelino Kubitschek.

Ao lado de nordestinos, mineiros e japoneses, gregos também empregaram a força braçal para erguer a tão sonhada nova capital da República. Embora o tempo seja implacável na transformação de pessoas e lugares, os pioneiros da Grécia conseguiram fundar uma comunidade com o intuito de preservar, manter e repassar para as novas gerações os costumes e tradições do país que é o berço da civilização ocidental. E claro que isso é celebrado por cerca das 600 famílias membros da comunidade. A oitava edição do Panighiri é o momento de festejar toda essa herança, com direito a comidas típicas, dança, música e a tradicional quebra de pratos.

Pioneiros com sotaque grego

Staikos Georges Tzemos, 86, é um dos membros mais antigos da comunidade. Chegou ao Brasil em 1959, com apenas 22 anos. Desembarcou no Porto de Santos (SP) em 18 de maio. Dois dias depois, já estava em Brasília, onde já tinha irmãos esperando para ajudar no empreendimento do ramo de confecções na Cidade Livre (hoje Núcleo Bandeirante). "O que eu vi quando cheguei foram os barracos e uma Brasília em obras", rememora o pioneiro.

Tzemos relata que havia cerca de 1800 gregos na Cidade Livre, que atuavam principalmente no comércio. Muitos foram embora por causa de um grande incêndio que atingiu quase todos os barracos e as lojas da região. Mas ele e seus irmãos insistiram em Brasília e, em 1962, fundaram o Magazine Bibabô, uma das maiores lojas de departamento da época, que também serviu de abrigo para o consulado grego em uma Brasília ainda com estrutura diplomática incipiente.

Foi nesse período que Staikos e outros compatriotas se reuniram e fundaram a Sociedade Helênica, hoje chamada de Comunidade Grega de Brasília, que conta com uma Igreja Ortodoxa e salão de festas. "A importância de preservar a cultura grega é que somos um país muito antigo. São mais de 8 mil anos de história e sobrevivemos a todo esse tempo", conta Staikos.

Da segunda geração, Lambrini Messinis, 32, sabe bem do valor dessa tradição. Moradora de Taguatinga, ela nasceu em Brasília e é filha de pai e mãe gregos, que chegaram aqui antes mesmo da fundação da cidade, ainda nos anos 1950, e se instalaram na antiga Cidade Livre. A cultura do país dos pais sempre foi muito presente na sua vida. Desde os oito anos de idade já praticava a dança tradicional grega, influência dos genitores.

Aos 12, as aulas de uma professora enviada pelo Estado grego para a comunidade de Brasília a compeliu a se aprofundar na arte. Hoje, ela é professora e integra o grupo de dança Ílios, uma das atrações da festividade da comunidade que tem seus pais como dois dos fundadores. "São nossas raízes. Apesar de ter crescido aqui, a gente faz o máximo para manter e passar isso para as novas gerações", conta Messinis. A celebração também terá shows das bandas Samos, de Brasília, e Elliniki Kompania, de São Paulo, embalados pelo som característico do bouzouki, instrumento de cordas tradicional da Grécia.

Fundada há 57 anos, a Comunidade Grega de Brasília é presidida por Konstantinos Kobos, 51. Assim como Lambrini, ele também faz parte da segunda geração de imigrantes gregos da cidade. Kobos explica que o Panighiri, que tem semelhança com a brasileira festa junina, com música, dança e comidas típicas, é tradicionalmente festejado no último final de semana de agosto na Grécia, quando é celebrada a colheita da uva no verão grego.

Como não poderia faltar em uma legítima festa grega, o encontro vai contar com a tradicional quebra de pratos, que Konstantinos adianta serem feitos de gesso, para que não ocorram acidentes. "Essa comunidade foi fundada pelos nossos pais e avós e, hoje, cabe a nós preservar, manter e difundir tudo que eles realizaram. A festa é uma prova concreta de que fazemos isso", orgulha-se Kobos.

O Panighiri é celebrado anualmente desde 2016, quando foi lançado o livro Os argonautas do Cerrado, de Vassiliki Constantinidou. A obra é resultado de um trabalho de pesquisa histórica da escritora grega, com mais de 100 entrevistas e vasto acervo fotográfico que remontam a trajetória dos imigrantes gregos na construção da capital federal. O lançamento veio no aniversário de meio século da fundação da Comunidade Grega de Brasília.

 

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