Diversão

Projeto ensina o beabá do carnaval para escolas do DF

O projeto chega ao seu quarto módulo com aulas de mestre sala e porta-bandeira, alas coreografadas e comissão de frente, ministradas até setembro, no Eixo Ibero-Americano e outras regiões do DF

Girar em torno do Cruzeiro ao som do frevo, subir e descer a tesourinha com o samba na ponta dos pés ou percorrer as vias com adereços e carros alegóricos é a apoteose da folia de Momo. O que poucos imaginam é que, para o enredo fluir, cada detalhe é costurado nos bastidores por profissionais que vivem do carnaval. Gente movida à paixão e para quem conhecimento e técnica são indispensáveis.

Em Brasília, o projeto Escola de Carnaval, da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, oferece justamente o beabá da folia para os trabalhadores da festa e para os que desejam enveredar por essa atividade econômica. Para o presidente da Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc), umas das maiores agremiações do DF, Rafael Fernandes de Souza, o projeto não só capacita os profissionais da cadeia produtiva, como mobiliza as agremiações para a retomada dos desfiles.

Com um jejum de oito anos, ele acredita que é o momento para escolas de samba e carnavalescos do Distrito Federal se prepararem para a grande festa que se avizinha. "Sem falar das trocas com os profissionais do carnaval do Rio de Janeiro, que vieram ministrar as oficinas em Brasília. Há muita vontade de voltar a desfilar", relata o presidente.

O projeto apresenta todas as etapas de produção da maior festa popular brasileira, dos desenhos de figurino e escolha de materiais, passando pela dança e performance dos desfiles, até a confecção do relatório das atividades artísticas. Dividido em quatro módulos, que atendem públicos diferentes, é possível cursá-los separadamente ou optar pelo pacote completo.

Setembro ritmado

O quarto módulo do projeto está com inscrições abertas para descortinar os segredos de mestre sala e porta-bandeiras; alas coreográficas e comissão de frente de uma escola de samba. As aulas serão ministradas por profissionais do Rio de Janeiro. Após a formação, os alunos desenvolvem oficinas abertas ao público. As inscrições são pelo site www.escoladecarnaval.org.br e ficam disponíveis enquanto houver vagas.

Até 15 de setembro, os alunos que tiveram aulas com o Mestre-Sala Claudinho e pela Porta-Bandeira Selminha Sorriso, ambos da Beija-Flor de Nilópolis, ministram as oficinas de descentralização — mestre sala e porta-bandeira, no Gama, Paranoá e Cruzeiro, com 86 vagas disponíveis para o público externo. Com parte teórica e prática, o intuito é dividir com a comunidade a riqueza da história do carnaval e dos saberes obtidos com os profissionais nas regiões administrativas do DF.

Já a disciplina de alas coreografadas, com 22 vagas, será entre 29 de agosto e 2 de setembro, na antiga Funarte, com Fábio Batista e Dhu Costa, da escola de samba carioca Grande Rio. Eles apresentarão a importância do planejamento e da execução de qualidade de alas coreografadas.

Experiência

Conhecido pelas coberturas televisivas dos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro, Milton Cunha é o curador da Escola de Carnaval. Com vasta experiência em curadorias em carnavais no Brasil e em outros países, o carnavalesco e cenógrafo se debruça sobre o projeto desde outubro do ano passado. Em fevereiro, desembarcou em Brasília para iniciar os trabalhos práticos.

Ele explica que são quatro eixos artísticos: artes da administração, voltado para os gestores das agremiações; artes da escrita, voltado para narrativas e temas para blocos, sambas-enredos e composições; artes da dança, dividido em oficinas para passistas, mestre-sala e porta-bandeira e alas coreografadas; e artes visuais, a mais extensa, responsável por desenvolver habilidades em transformar textos em fantasias, alegorias e adereços.

Para além do trabalho de capacitar os profissionais do carnaval de Brasília, Milton também fez o esforço de resgate da história da folia na capital. "O protagonismo de algumas das agremiações foi algo que me incomodou. Então, eu decidi me reunir com os presidentes de todas as 22 agremiações participantes e traçamos uma linha do tempo de cada uma delas ao longo da história do carnaval de Brasília. Engana-se quem acha que é algo recente. São 60 anos de história!", destaca o curador.

Ao se deparar com tanto material, como um ponto de convergência de culturas de todo o país, Milton confessa que se emocionou, principalmente pelas manifestações culturais em sua maioria de origens periféricas. "Fiquei chocado com o fato de essa história não ser algo tombado."

Fundador da Unidos da Vila Paranoá, David do Samba está aproveitando a oportunidade. "Para a gente, a Escola de Carnaval está sendo um ganho muito grande. Nós, das as escolas de samba do DF, estávamos sem forças, mesmo antes da chegada da pandemia. Está sendo um momento de valorização e capacitação dos profissionais envolvidos com o carnaval. Agora vemos a possibilidade de voltarmos mais fortes e qualificados do que antes", anima-se.

O fim do projeto será marcado pelo lançamento de uma revista documentando tudo que foi feito durante a Escola Carnavalesca, como forma de mostrar para a cidade e para os formadores de opinião os caminhos trilhados por cada agremiação que participou do projeto. A publicação, que terá um valor histórico, também trará a linha do tempo do carnaval de Brasília e terá exemplares distribuídos no show final do projeto, marcado para outubro.

Sol Montes, subsecretária de Difusão e Diversidade Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, dá destaque ao amplo alcance da Escola de Carnaval, que capacita desde o âmbito de gestão, como foi no caso do primeiro módulo do projeto, até as fases do processo de produção, como confecção de fantasias e planejamento dos desfiles. Ela lembra que há oito anos as escolas de samba não recebiam um fomento. "A escolas não trabalham apenas durante o carnaval, é o ano todo. E o carnaval movimenta toda uma cadeia produtiva e suas comunidades de origem, além de gerar renda. O projeto é um esforço da secretaria em reorganizar e rearticular o carnaval de Brasília", conta a subsecretária.

 

Maur?cio Fidalgo/ TV Globo - Crédito Maurício Fidalgo/ TV Globo. Cultura. Carnavalesco Milton Cunha
Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação - 2022. Crédito: Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação. Cultura. Projeto Escola de Carnaval.
Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação - O Projeto Escola de Carnaval é uma atividade que envolve toda a comunidade do Cruzeiro
Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação - 2022. Crédito: Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação. Cultura. Projeto Escola de Carnaval.
Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação - 2022. Crédito: Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação. Cultura. Projeto Escola de Carnaval.
Fotos: Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação - 2022. Crédito: Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação. Cultura. Projeto Escola de Carnaval.
Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação - 2022. Crédito: Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação. Cultura. Projeto Escola de Carnaval.
Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação - 2022. Crédito: Acervo da Escola de Carnaval/Divulgação. Cultura. Projeto Escola de Carnaval.
Material de divulgação - Escola do Carnaval oferta cursos até 15 de setembro