Mobilidade

Sobre duas rodas: projeto de OnG ajuda a transformar a vida das pessoas

No Distrito Federal, vidas de pessoas são impactadas diariamente pelo uso de bicicletas. Meio de deslocamento ou de trabalho para muita gente, as bikes são um grande instrumento de mudanças

Muito mais que lazer, a bicicleta é um importante instrumento de trabalho e desloca muita gente que não pode exercer o direito de ir e vir plenamente. Além do mais, proporciona melhores condições de saúde e é um veículo sustentável. As bikes também são meio de sustento e peça essencial na vida dos que pedalam. Foi em cima de uma bicicleta que a vida de diversos cidadãos do Distrito Federal e do Entorno mudou.

Os quilombolas do Vão de Almas — área rural da Chapada dos Veadeiros — são um exemplo do quanto duas rodas podem ajudar a superar obstáculos. Obrigados a atravessar um rio para chegar a escola da região, as crianças da comunidade se molhavam durante a travessia e ficavam desmotivadas com os estudos. No entanto, em 2014, a realidade dos jovens mudou quando eles receberam uma doação de bicicletas. Desde então, os alunos passaram a fazer trajetos mais simples e rápidos, sem precisar passar por dentro do rio, chegando ao colégio muito mais dispostos a aprender.

Esses moradores são apenas alguns dos beneficiados pelo projeto Doe Bicicleta, da ONG Rodas da Paz. A proposta começou como uma forma de beneficiar crianças de escolas de áreas rurais do DF que, na época, não tinham transporte escolar regular. "Em 19 anos do projeto, nós doamos aproximadamente 6 mil bicicletas", conta Ana Júlia Pinheiro, coordenadora de comunicação do Rodas da Paz.

Neste ano, as bicicletas doadas foram destinadas a diferentes instituições. Entre elas o Instituto de Migração e Direitos Humanos, que irá direcionar as doações à comunidade indígena Café Sem Troco, residente no Paranoá. "Elas vão permitir a mobilidade das pessoas dessa comunidade na região. A doação vai contribuir muito nessa questão, porque se trata de uma zona rural, onde há problemas de transporte e de acesso", comemora Emerson Weiber, representante do instituto.

Saiba Mais

Antiga parceira do Rodas da Paz, a rede Anjos Solidários, da Vara da Infância e Juventude, também foi uma das instituições beneficiadas. "Nesse ano, nosso foco é fornecer bicicletas para organizações de acolhimento que trabalham a independência dos jovens prestes a atingir a maioridade. Procuramos focar no transporte por aplicativo que, hoje, é uma oportunidade de primeiro trabalho para esses meninos", argumenta Márcio Alves Souza, representante da rede.

No início de cada ano, o Rodas da Paz realiza a primeira. "Em 2022, nós já entregamos para o projeto de ressocialização de adolescentes infratores que são acompanhados por padrinhos", explica Ana Júlia. Para ganhar a bike como meio de locomoção e de sobrevivência, o adolescente precisa frequentar a escola e realmente estar buscando se organizar no mundo. As bicicletas vêm de doadores ou são resgatadas em bicicletários abandonados. Depois elas são consertadas e são entregues nas mãos dos beneficiados, em perfeito uso.

Além das ações do meio do ano, bicicletas são doadas no final do ano para os Correios, que procuram atender às cartas de crianças ao Papai Noel. Algumas peças de bikes também já foram aproveitadas para a criação de bicicletas adaptadas a portadores de necessidades especiais e utilizadas em projetos de geração de renda, como cursos de mecânica básica ofertados a comunidades carentes. A cada ano, cerca de 500 bicicletas são arrecadadas, consertadas e distribuídas pela ONG.

Para Rosana Baioco, voluntária da Rodas da Paz, o uso das bicicletas é fundamental até mesmo para os que não pedalam. " É um carro a menos na sua frente no trânsito, menos poluição. São muitos benefícios", avalia Rosana.

Comemorações

"Esse ano, nós resolvemos fazer comemorações que lembrem que bicicleta é solidariedade e que as bicicletas precisam ocupar espaço nas ruas", defende Ana Júlia. Além do Doe Bicicleta, a Rodas da Paz organizou uma Bicicletada em homenagem ao Dia Nacional do Ciclista na noite de ontem, saindo do Museu Nacional. O destino final foi a Infinu Comunidade Criativa, na 506 sul, onde foi preparada uma festa em comemoração à data. A celebração foi acompanhada pelo som da Dj Maiê e pelo grupo Forró Maracutaia. E os festejos não param por aí. Amanhã, a partir das 10h, a ONG se reunirá na Praça do Ciclista, localizado no Eixão na altura da 213/214 Sul, para um café da manhã aberto ao público, com direito a estreia do quarteto musical Rodas da Paz.

A servidora pública Ana Sílvia Pires, que pedala desde a infância, vê as comemorações como uma forma de conscientização. "Eu vejo o Dia do Ciclista como um ato político. A gente existe e quer respeito, a gente quer o nosso espaço no trânsito", afirma. "Essa data é para lembrar as pessoas que a bicicleta é um veículo na via e que nós merecemos a mesma atenção que os demais veículos", complementa.

 

ED ALVES/CB/D.A.Press - Neste ano, as bicicletas foram doadas a diferentes instituições
ED ALVES/CB/D.A.Press - A servidora pública, Ana Sílvia, vê as comemorações do Dia do Ciclista como um ato político
Fotos: Ed Alves/CB/D.A.Press - Rosana Baioco avalia que o uso de bicicletas representa menos carros e poluição nas cidades
ED ALVES/CB/D.A.Press - As bikes são peças essenciais na vida dos que pedalam