Em clima de troca de farpas, seis dos candidatos ao Palácio do Buriti nas eleições deste ano debateram os problemas das áreas de saúde, mobilidade, educação e segurança no Distrito Federal. Ontem (19/8), os postulantes à vaga de governador protagonizaram momentos de tensão e desconforto quando se confrontaram diretamente, no segundo bloco do programa. A ausência de Ibaneis Rocha (MDB) no debate também foi tema recorrente entre os participantes e alvo de críticas.
Candidato da federação PT-PV-PCdoB, Leandro Grass aproveitou a oportunidade para se aproximar da imagem do ex-presidente Lula (PT) e colocar o concorrente Paulo Octávio (PSD) contra a parede. "Você foi vice-governador do (José Roberto) Arruda durante o segundo governo Lula. Ibaneis disse que aquele foi o pior governo para o DF, devido à falta de diálogo entre o governo local e o presidente", relembrou Grass.
O empresário preferiu não entrar no clima de polaridade política nem criticar a gestão Arruda (PL), da qual participou. "O primeiro mandato do Lula foi um bom governo. Quando fui senador, lutei pela segurança da cidade. Minha crítica é à reeleição. Defendo mandatos mais longos. Talvez, de cinco anos, mas sem reeleição", afirmou, comprometendo-se, caso eleito, a não concorrer ao mesmo cargo.
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No entanto, o empresário não foi o único a lidar com questionamentos incômodos. No mesmo bloco, Rafael Parente (PSB) preferiu se evadir à pergunta de Izalci Lucas (PSDB) sobre quais seriam as supostas interferências econômicas e políticas que teriam feito o educador deixar a Secretaria de Educação, no governo Ibaneis Rocha. Parente havia mencionado esse episódio em debate anterior, do qual ele e o tucano participaram. "Vou preferir falar de outras coisas", reagiu Rafael.
O candidato do PSB preferiu comentar sobre problemas como violência, indisciplina e evasão observados na rede pública de ensino. "Precisamos que os profissionais estejam motivados e (que) os estudantes se sintam seguros dentro das escolas", destacou. Rafael acrescentou que pretende entregar notebooks para alunos do primeiro ano do ensino médio. "No terceiro ano, ele (o aluno) leva (o laptop) para casa."
Além disso, prometeu dar uma bolsa de R$ 100 por estudante, desde que frequentem as aulas e tenham bom comportamento. "Também vamos ter clube de ciência e programação nas escolas do ensino médio. Os meninos vão ter bolsa de R$ 400, e as meninas, de R$ 500, para que sejam incentivadas a serem cientistas", ressaltou. Izalci, por outro lado, defendeu que a entrega de material sem fornecer estrutura não é suficiente. "Vamos colocar atrativos nas escolas: mais esporte, música, uma boa alimentação", elencou.
Mulheres na disputa
No embate entre Keka Bagno (PSol) e Leila Barros (PDT), as duas candidatas destacaram a importância do respeito mútuo, pelo fato de serem mulheres na disputa. "Nós nos encontramos na Rodoviária (do Plano Piloto), e agradeço por sua receptividade e de sua equipe", comentou a senadora. Ambas concordaram quanto à necessidade de investimentos no terminal. "Fiquei estarrecida com a Rodoviária, no meio da capital (do país), do cartão-postal de Brasília. Sem elevador, com tráfico e sujeira. O governo faz isso (deixar como está) para justificar uma privatização", completou Leila.
Keka criticou a falta de investimento no transporte público e na infraestrutura do terminal. "Falta interesse de governança, (para) mobilidade, (além de) segurança para as mulheres que são vítimas de assédio (...). E as tarifas do transporte, elevadas, não correspondem ao modelo que temos hoje", avaliou. Keka enfatizou, ainda, os casos de violência de gênero. "Desde 2015, quando tivemos a Lei do Feminicídio, a cada 16 dias, uma mulher é assassinada no DF", disse a candidata da federação PSol-Rede, em referência a reportagem veiculada pelo Correio em 22 de março.
Rafael Parente e Keka Bagno trataram do mesmo assunto. Ele lamentou o crescimento da violência contra mulheres e outros grupos sociais. "Os casos de feminicídio, (de violência) contra meninas, contra (a população) LGBT, minorias, idosos têm crescido muito. Precisamos de medidas efetivas com relação às mulheres, que perpassem a educação, (bem como) medidas de prevenção e formação de policiais, até na questão de discriminação dentro das delegacias de polícias (...). Com punições mais exemplares", defendeu.
Gestão na saúde é ponto crítico para o DF
A situação da saúde no Distrito Federal foi outro tema debatido com profundidade pelos concorrentes. Paulo Octávio lembrou, em pergunta para Leila Barros, que Brasília tem o maior orçamento para a saúde do Brasil, mas a população continua em filas. O empresário se disse preocupado com a gestão e prometeu que o secretário de Saúde dele, em um eventual governo, “vai começar (o trabalho) no dia 1º (de janeiro de 2023) e terminar quatro anos depois”.
Leila avaliou que nos últimos 16 anos, a capital do país sofreu com uma má prestação de serviços. “Hospitais envelhecidos, estruturas sucateadas”, classificou. A senadora afirmou que o plano de governo dela prevê a criação de hospitais em regiões administrativas que precisam dessa estrutura. “São Sebastião tem uma demanda histórica. Já destinamos emenda parlamentar (no Congresso Nacional), vamos priorizar o Hospital do Guará, que está sufocado e sobrecarrega o HRT (Hospital Regional de Taguatinga), e (construir) um hospital do Pôr do Sol e Sol Nascente”, pontuou.
Paulo Octávio defendeu, ainda, a valorização dos servidores da Saúde. “Ele precisa trabalhar com disposição, (receber) horas extras. Uma coisa importante é o mutirão de saúde. É inadmissível as pessoas (esperarem) em filas intermináveis. (É necessária) a participação das redes privada e pública. A meta é (fechar) dois meses (de parceria) para acabar com as filas do DF”, comentou.
No questionamento de Izalci Lucas para Leandro Grass, o tema foram as comissões parlamentares de inquérito (CPIs) da Câmara Legislativa do DF. “Encontramos diversas irregularidades. Tivemos as compras dos testes. Na mesma semana em que o Sesc (Serviço Social do Comércio) comprou a R$ 18, eles (representantes do GDF) compraram a R$ 180. E o mais grave: entregaram o produto que o mundo inteiro estava recolhendo por não ter eficácia; por isso, a operação se chamou Falso Negativo”, lembrou Izalci.
Grass lamentou a situação com críticas ao GDF: “(É o) governo mais criminoso na área da Saúde. Principalmente para as pessoas que tiveram alguém que sofreu. Teve falta de insumos, faltou luva, analgésico. Um cenário de guerra dado pelo Ibaneis”, finalizou.