A ausência do governador Ibaneis Rocha (MDB) no debate entre os candidatos que disputam o Palácio do Buriti, promovido pelo Correio e pela TV Brasília, não impediu que os demais políticos focassem na discussão de temas importantes para a população do Distrito Federal. Os adversários, no entanto, lamentaram e criticaram a falta de Ibaneis. "É um gesto de covardia, fraqueza e incompetência", reagiu o distrital Leandro Grass, da federação PT-PV-PCdoB. O senador Izalci Lucas (PSDB-Cidadania) cobrou do governador explicações sobre "o caos que estamos vivendo", e Keka Bagno (PSol-Rede) atribuiu o não comparecimento à "perversidade" de Ibaneis. Até mesmo Rafael Parente (PSB), que foi secretário de Educação do atual chefe do Executivo local, reclamou da ausência e afirmou que "o governador amarelou".
No primeiro bloco da sabatina, os jornalistas do Correio abordaram questões ligadas à saúde, educação, segurança pública, geração de empregos, orçamento secreto do governo federal e remuneração das forças de segurança e habitação. Ibaneis seria o primeiro a responder às perguntas, de acordo com sorteio feito previamente entre a produção e representantes dos partidos. Com a ausência do governador, Leandro Grass retornou os questionamentos de Carlos Alexandre de Souza, editor de política do Correio, que escolheu o ex-vice-governador Paulo Octávio para comentar a resposta do distrital.
Perguntado sobre a gestão da saúde pública da capital do país, Leandro Grass não poupou críticas. "É importante denunciar que Ibaneis é o pior governador do Distrito Federal. Um dos melhores exemplos disso é a saúde, que vive o pior momento da história do DF. Ibaneis mentiu em 2018, quando disse que resolveria o problema da saúde do DF. Ele ampliou o modelo do Instituto Hospital de Base e criou o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges), um ninho de corrupção, um verdadeiro fracasso." Para Paulo Octávio, o quadro da saúde do DF é "triste, apesar de a capital receber o maior orçamento federal para a área." "A solução está na gestão. Ter um secretário (de Saúde) que comece à frente e se mantenha na pasta. Faltam metas", criticou o empresário, ao prometer que, se eleito, o secretário ficará até o último dia de mandato.
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Em seguida, Rosane Garcia, subeditora de Opinião do Correio, trouxe a educação para o centro da conversa. Izalci Lucas respondeu à jornalista e Keka Bagno comentou a resposta. "Entrei na vida pública pela educação. Fui relator do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica) e presidente da Comissão do Novo Ensino Médio", começou o senador. "Quando fui secretário de Ciência e Tecnologia, trouxe a educação profissional. Vamos implantar a educação integral no DF, com laboratórios de ciência, esporte, cultura, lazer e banda larga, para que as escolas sejam atrativas para os estudantes." A candidata do PSol defendeu o caráter público e universal da educação. Ela destacou que, em meio a crises econômicas, diversas famílias recorrem às escolas públicas devido à queda na renda. "É urgente a ampliação dos colégios (públicos), não só os que oferecem ensino fundamental e médio, mas também as creches."
Emendas secretas
O caráter regionalizado do debate não impediu que o cenário nacional estivesse presente na sabatina. Colunista político do Correio, Luiz Carlos Azedo questionou a senadora Leila Barros (PDT) sobre a destinação de emendas para o Distrito Federal feitas por meio do orçamento secreto. A parlamentar se disse "tranquila" em relação ao escândalo do governo federal. "Meu nome não consta nessa lista. Quem me conhece, sabe do meu trabalho e comprometimento com a transparência", respondeu. Ao citar recursos repassados ao GDF, Leila denunciou o relacionamento com a gestão de Ibaneis. "Trouxemos R$ 1,5 bilhão para acudir a saúde do DF e destinamos R$ 115 milhões em emendas parlamentares, mas tivemos dificuldades de diálogo com o GDF e com a falta de transparência, que, inclusive, se refletiu no desastre da gestão da pandemia no DF", denunciou.
Ana Maria Campos, editora de política local, relembrou o compromisso que o então candidato Ibaneis Rocha fez, em 2018, com as forças de segurança da capital do país, ao prometer a equidade salarial com a Polícia Federal. A readequação, contudo, não saiu do papel. Ao responder à jornalista, Keka Bagno relembrou a falta de reajuste aos demais servidores do Distrito Federal. "Estão sem dignidade, sem supervisão nem formação técnica. É preciso questionar: quem cuida de quem cuida de nós? Diversas categorias não têm sido valorizadas, mesmo aquelas que não pararam de trabalhar durante a pandemia." Nesse mesmo assunto, a candidata do PSol citou a militarização das escolas públicas, que classificou como "violência contra os estudantes e contra a própria polícia." A gestão compartilhada de algumas escolas do DF entre as secretarias de Educação e de Segurança Pública foi implementada durante o governo de Ibaneis. "É importante melhorar a inteligência das polícias, para que os policiais retomem o trabalho nas comunidades."
Leandro Grass comentou a resposta da adversária e reforçou a ligação com o ex-presidente Lula (PT), de quem é o candidato oficial ao governo do DF. "Precisamos de um amplo debate sobre a reestruturação das carreiras. A segurança pública foi mais uma promessa mentirosa de Ibaneis. Vamos buscar essa equiparação, para valorizar nossos policiais e forças de segurança e promover justiça e paz."
Questão fundiária com sustentabilidade
A ocupação irregular do solo do DF foi questionada por Denise Rothenburg, colunista de política do Correio, a Paulo Octávio. A jornalista citou o projeto de lei recém-aprovado pelo Senado Federal que reduziu em 39,6% a Floresta Nacional de Brasília (Flona) para regularizar os assentamentos 26 de Setembro e Maranata, próximos a Taguatinga e Vicente Pires. Chamando a capital do país de “síntese do Brasil moderno”, o candidato reforçou a ligação com o ex-governador Joaquim Roriz, ao relembrar a gestão que “deu oportunidade de moradia para as pessoas.” “Sou a favor da regularização, do patrimônio das famílias. O DF sofre com déficit habitacional. Tenho metas e projetos para que todos vivam com dignidade. O que foi tirado da Flona tem de ser reposto, para Brasília continuar a cidade mais florida e ambientalmente bonita do Brasil.” Leila Barros destacou, ao comentar a resposta do empresário, o compromisso com a sustentabilidade. “A regularização precisa acontecer com responsabilidade.”
A última pergunta do bloco ficou a cargo da colunista Ana Maria Campos, e o assunto escolhido foi a geração de empregos. A jornalista questionou Rafael Parente sobre programas de incentivo fiscal e concessão de créditos. Para o candidato, a solução está no estímulo ao crescimento do ecossistema de inovação e das startups. “Muitas empresas não encontram, aqui no DF, ambiente propício e precisam se mudar para São Paulo, por exemplo, onde o dinheiro está. Queremos melhorar isso”, prometeu o candidato. “Vamos criar uma seleção para que 2 mil jovens — mil brasilienses e mil de outras regiões do Brasil — possam estudar, morar e ter empresas no mesmo local. Eles serão formados pela UnB (Universidade de Brasília), faculdades particulares e internacionais e vão criar soluções para o governo, com empresas de tecnologia nas mais diversas áreas. Vamos usar recursos do Fap (Fundo de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal) e ter parceria com o setor privado, além de exonerar impostos para os pequenos e médios negócios.”
Izalci Lucas concluiu a primeira parte do debate e comentou a observação do adversário. “A experiência é importante. Em termos de desenvolvimento econômico, aprovamos, há oito anos, uma lei que permite ao DF dar o mesmo incentivo às empresas que os estados do Centro-Oeste. Infelizmente, não teve efeito nenhum, porque nenhum governador trouxe de volta para o DF as empresas que mudaram para Goiás, por exemplo. Nós vamos trazê-las”, prometeu.
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