Preservar, reconhecer e valorizar o potencial histórico de conjuntos arquitetônicos, móveis e até do que não é material é essencial para a construção da cultura de um povo. O dia 17 de agosto foi a data escolhida para promover reflexões sobre a importância da preservação desses espaços que contam a história. No DF, o brasiliense tem o privilégio de ver, viver e circular numa cidade inteira tombada como patrimônio cultural da humanidade, feito que completa 35 anos em 7 de dezembro. Brasília tem tal honraria justamente porque é composta por monumentos, edifícios ou sítios de extrema importância do ponto vista histórico.
Encantada ao entrar na Catedral pela primeira vez, Ellen Mondego, 37 anos, mora no DF há 14 anos e conta que costumava frequentar muito o centro da capital quando os filhos eram pequenos. No entanto, mesmo com eles crescidos, ela tira um tempo para revisitar os lugares que tanto ama. "Eu sou uma maranhense, apaixonada por Brasília. Uma cidade bonita, que encanta e que enche os olhos", destaca a moradora de Ceilândia Sul. "Todas as vezes que eu venho aqui é como se fosse a primeira vez", comenta.
A data importante para conscientizar a população sobre os patrimônios é em homenagem ao historiador e jornalista Rodrigo Melo de Andrade, responsável pela criação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1937. O órgão é o responsável pela proteção e preservação dos bens culturais nacionais, edifícios, centros urbanos e sítios arqueológicos.
José Salustiano, 45, apresentava para a esposa, Lucineide Alcântara, 42, a Praça dos Três Poderes. Tirando fotos, a cearense e nova moradora de Santo Antônio do Descoberto, no Entorno, apreciava a paisagem da capital. "É tudo muito bacana", comenta Lucineide sobre o museu a céu aberto, acrescentando que o lugar favorito é a Catedral. Terceirizado na Câmara dos Deputados, José nasceu em Brasília e enfatiza a relevância dos monumentos. "A gente vê muitas construções importantes e vários lugares marcantes. É maravilhoso ter isso tão perto", conta.
Com uma área de 112,25km² e tombado nos âmbitos distrital e federal, o conjunto urbanístico?arquitetônico de Brasília é considerado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, sendo o único bem contemporâneo a merecer tal reverência. Segundo o Iphan, a principal característica da cidade é a monumentalidade, determinada por quatro escalas: monumental, residencial, bucólica e gregária, além da arquitetura inovadora.
Marco no século
Projetado por Lucio Costa, o conjunto urbanístico-arquitetônico de Brasília foi inscrito no Livro de Tombo Histórico pelo Iphan em 14 de março de 1990. O arquiteto e urbanista e vice-presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do DF (CAU-DF), Pedro Grilo, destaca que a capital é, de fato, a única cidade moderna tombada. "Isso é um motivo de muito orgulho para a arquitetura brasileira. Se constituiu com certeza um marco na história do século 20", pontua o especialista.
Grilo ressalta que Brasília vai além do tombamento em si, pois a construção da cidade já é um marco. "Se pegar Brasília, é uma cidade inteiramente moderna tanto no seu urbanismo como na sua arquitetura. São mais de 1,5 mil blocos construídos e a maioria deles foi feita logo no começo da cidade. É um conjunto imenso de prédios", comenta o arquiteto.
O especialista acredita que a manutenção predial é o melhor caminho para conservação e preservação das estruturas e das características das construções antigas e históricas. "O que acontece muitas vezes é que os edifícios acabam sem manutenção muitos anos e chega num ponto que as pessoas decidem que o edifício não é mais legal, porque ele está muito velho e estragado e acabam fazendo reformas ultrarradicais que trocam todos os materiais originais do prédio, deixando ele descaracterizado", enfatiza Grilo.
Na semana do Dia do Patrimônio Histórico, o conselho está distribuindo o Selo CAU-DF que reconhece o valor histórico das edificações não monumentais de Brasília. Nesta terceira edição, nove edifícios de escritórios e uma escola pública serão contemplados com a certificação. "A gente escolheu dez edificações do cotidiano da cidade que não são normalmente identificadas como patrimônio para dar o selo justamente por estarem bem conservadas há cerca de 60 anos", destaca Grilo.
Os prédios escolhidos são: Edifício Camargo Corrêa, Edifício Morro Vermelho, Escola Superior de Defesa, Receita Federal, Sede dos Correios, Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI), Tribunal Regional Federal (Sede II), Tribunal Regional do Trabalho (Anexo I), Departamento Nacional de Infraestrutura e Transportes (DNIT) e o Bloco A da CLN 111.
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