Uma criança de 10 anos morreu na madrugada dessa terça-feira (16/8) em uma colisão entre dois veículos na Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB). Lucas Cavalcante estava com os pais em um Fiat Uno quando o carro foi atingido na parte traseira por um Hyundai i30, de cor preta, conduzido pelo policial militar Carlos Roberto de Carvalho Neto. O menino morreu no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), para onde foi levado pelos bombeiros inconsciente, com traumatismo cranioencefálico (TCE) grave e hemorragia intensa. O velório será nesta terça-feira (17/8), a partir das 12h30, na capela 2 do Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul.
O soldado, que entrou na PM em 2019, estava de folga. No momento do acidente, havia uma garrafa de cerveja aberta dentro do Hyundai, ao lado do freio de mão. Imagens publicadas pelo policial em uma rede social cinco horas antes da tragédia mostram ele bebendo com amigos em um bar, em Samambaia.
Carlos Roberto saiu ileso, recusou-se a fazer o teste do bafômetro e demorou mais de cinco horas até ser submetido ao exame clínico de alcoolemia — foram duas horas para ele ser conduzido a 27ª DP (Recanto das Emas) e mais três horas e meia até ser levado o Instituto de Medicina Legal (IML) para o exame de alcoolemia.
O pai da criança, que tem 41 anos, não sofreu ferimentos e foi transportado para o HBDF com crise nervosa. A mãe, 40, também foi atendida no Hospital de Base, com dor no quadril.
Amigo da família, Abner Santos, 22, conhecia Lucas desde 2013 e viu o garoto crescer. Os parentes ainda estão muito abalados e, de acordo com Abner, o pai de Lucas está inconsolável. "Meus pais foram na casa deles hoje. O pessoal da igreja foi lá visitá-los, o pai do Lucas está desesperado, sem saber o que fazer", relatou.
Embriaguez ao volante
Para o professor de medicina social na Universidade de Brasília (UnB) David Duarte Lima houve falha no protocolo da ocorrência. Segundo ele, toda essa demora para ser realizado o teste clínico pode ter comprometido o resultado do exame, que deu negativo.
"O procedimento padrão é imediatamente fazer o exame de alcoolemia, com policial de trânsito treinado para observar o estado geral do indivíduo, com o laudo dele dizendo as características do condutor — que pode servir de prova", afirma.
David Duarte Lima sugere que o policial apresentava claros sinais de embriaguez ao volante. Ele acredita que, como a colisão se deu por trás do Fiat Uno, onde estavam os pais da criança, significa que o policial estava com velocidade inadequada. "Pelos amassamentos, provavelmente ele estava a 40km/h a mais que o outro carro, mas somente o laudo da perícia pode concluir", analisa o professor.
Conforme a série histórica do Departamento de Trânsito (Detran-DF), ocorreram quatro mortes de crianças e adolescentes de até 17 anos em acidentes nas vias do Distrito Federal, de janeiro a junho deste ano. Em 2021, foram cinco óbitos, nessa faixa etária, no mesmo período.
De janeiro a julho de 2021, o Detran-DF registrou 13,8 mil autuações por alcoolemia. Neste ano, foram 19,4 mil casos — 40,5% a mais.
Investigação
De acordo com a Polícia Militar (PMDF), o procedimento padrão foi cumprido. Foi emitido um auto de infração pela recusa do condutor em passar pelo bafômetro, no qual consta que ele estava com os olhos avermelhados.
Em nota, a corporação afirmou que crimes de trânsito não são considerados delitos militares e descartou a possibilidade de investigação na Corregedoria-Geral. "Por isso, a investigação é feita pela Polícia Civil e (foi) encaminhada à Justiça", informou.
O delegado-adjunto da 27ª DP, Diogo Carneiro, revelou que o PM alegou ter sido fechado pelo outro veículo enquanto voltava do bar, em Samambaia, para o Cruzeiro, onde mora, e que permaneceu no local do acidente para prestar socorro às vítimas.
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