Selo

14 feminicídios neste ano

Dois casos de violência contra a mulher chocam o DF. Adriana dos Santos, 49 anos, foi encontrada morta em um canteiro na Epia. O corpo de Luciana Gomes, 34, estava no apartamento onde morava com os filhos e o assassino

Dois crimes violentos contra a vida de mulheres foram registrados ontem, no Distrito Federal. No Sol Nascente, no apartamento em que morava, Luciana Gomes da Costa, 34 anos, mãe de quatro filhos, foi encontrada morta com sinais de violência. O companheiro dela confessou o assassinato. A segunda vítima de feminicídio é Adriana dos Santos Leite, 49 anos. O corpo dela estava em um canteiro da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), sentido Estrutural, a cerca de 300 metros do Shopping Popular, com marcas de estrangulamento. Com esses casos, Brasília acumula 14 feminicídios neste ano.

Luciana e o companheiro tinham um relacionamento há três meses. Em depoimento realizado na 23ª Delegacia de Polícia (P Sul), ele entrou em contradição sobre as informações prestadas e confirmou ter matado a vítima. À frente do caso, o delegado-chefe da 23ª DP, Gustavo Farias, disse ao Correio que a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) recebeu uma denúncia, inicialmente, de uma morte natural. Ao chegarem ao local, a corporação constatou que Luciana apresentava marcas de estrangulamento, o que levou a equipe a iniciar as investigações. "Nós apuramos que o companheiro foi a última pessoa que teve contato com a vítima. Ao observar, a polícia trouxe o criminoso para a delegacia para colher o depoimento, e ele entrou em contradição, confessando o crime para nós, sem entrar nos detalhes", detalhou o delegado.

A polícia acredita que o assassino saiu para trabalhar na manhã de ontem e deixou o corpo de Luciana na residência. Após retornar, ele entrou em contato com a PCDF e tentou criar um cenário para se livrar da culpa. "Ele tentou armar um teatro para enganar as pessoas e a polícia. Há notícias de que ele era uma pessoa ciumenta, que tentava controlar a rotina de Luciana e desconfiava dela constantemente. Nós escutamos a mãe da vítima, que confirmou que a filha tentava romper o relacionamento", conta o delegado Gustavo. Preso em flagrante, o homem tinha histórico de agressão, enquadrado na Lei Maria da Penha, e, agora, responde por homicídio qualificado pelo feminicídio e emprego de asfixia.

Residente há quase um ano na Quadra 700 do Sol Nascente, Luciana havia relatado à família que o relacionamento era conturbado e que o namorado tinha comportamentos violentos. Horas antes de ser assassinada, ela encaminhou mensagem para a mãe na noite de terça-feira, Valéria de Sousa Gomes, 57. "Ela estava nesse relacionamento há cerca de três meses. Pediu para eu salvá-la, porque estava infeliz. Eu falei que me sentia de mãos e pés atados e disse que amanhã (ontem) cedo iria ver ela. Mas aí, às 10h, meu filho chegou na minha casa contando o que tinha acontecido", lamenta Valéria.

Suspeita de abuso

O outro caso investigado como feminicídio é o de Adriana dos Santos Leite, 49 anos. A mulher foi encontrada morta no canteiro da Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia), sentido Estrutural, com sinais de estrangulamento por plástico filme. As informações são do delegado-adjunto da 3ª Delegacia de Polícia (Cruzeiro Velho), Douglas Fernandes, responsável pela apuração.

"Pelo estado de decomposição, ela estava morta há cerca de 5 a 8 dias. E havia um filme plástico que pode ter sido usado no estrangulamento. A vítima estava com as roupas abaixadas, mas a violência sexual será confirmada somente com o laudo da perícia", destaca o delegado. Os agentes trabalham para identificar o suspeito e localizar parentes de Adriana.

A Polícia Militar (PMDF) recebeu a denúncia de um corpo encontrado, por meio do 190. Fontes ouvidas pelo Correio destacaram que a mulher tinha o rosto machucado, a roupa abaixada até os joelhos e odor avançado de decomposição.

 

Identificar a violência

Um ponto central no rompimento da violência contra as mulheres é a vítima identificar e reconhecer que está vivendo um relacionamento abusivo. Porque, devido à nossa cultura machista na qual as mulheres são ensinadas a serem submissas aos homens, muitas naturalizam as agressões sofridas. Então, a conscientização do abuso é o que leva as mulheres a buscarem ajuda da família, dos amigos, dos vizinhos, dos psicólogos e que a levam a fazer denúncias formais nos órgãos responsáveis. A sociedade e o Estado também têm um papel importante. O governo deve que promover discussões públicas sobre relações de gênero, promulgar leis e políticas públicas eficientes, investimentos e decisões políticas. A mentalidade machista e sexista que gera a violência de gênero não muda sozinha, para isso é preciso de investimento sistemático no combate a violência de gênero a longo prazo. A sociedade tem um papel central nesse quesito, de educar as crianças, meninos e meninas, para o respeito e a igualdade de gênero.

Professora do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), Edlene Oliveira Silva