FEMINICÍDIO

Suspeito de matar mãe de oito filhos no Recanto das Emas é preso

Alisson da Silva Porto estava foragido desde domingo (7/8), quando assassinou a companheira, Deisielle dos Santos, com dois tiros no tórax. Policiais encontraram o suspeito em cima do telhado de uma casa, na Quadra 302 do Recanto das Emas

Suspeito de assassinar Deisielle dos Santos, 29 anos, Allisson da Silva Porto, 26, foi preso na noite dessa segunda-feira (7/8), no Recanto das Emas. O investigado era companheiro da vítima e estava escondido em uma casa, na Quadra 302. Ele foi detido por policiais militares em cima do telhado do imóvel e levado para a delegacia de polícia da região administrativa, a 27ªDP. Na quarta-feira (10/8), deve passar por audiência de custódia.

Denúncias anônimas ajudaram a polícia a chegar a Alisson, segundo o delegado Diogo Carneiro, adjunto da 27ª DP. O suspeito portava uma arma calibre 32, que passará por perícia para verificar se foi a mesma usada no crime. Na noite de domingo (7/8), os oito filhos de Deisielle — todos com menos de 18 anos — ficaram órfãos de mãe.

Moradora do Recanto das Emas, ela foi assassinada a tiros, em casa. O crime, tratado como feminicídio, ocorreu na Quadra 508 do Recanto das Emas, por volta das 17h30, enquanto irmãs do suspeito e um dos filhos da vítima estavam no imóvel. Os dois disparos atingiram Deisielle no tórax. Ela foi levada para a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da cidade, mas não resistiu. A polícia acredita que o motivo do crime tenha relação com ciúmes por parte do agressor (leia Onde buscar ajuda).

Deisielle e Alisson estavam juntos havia cerca de dois anos e não tinham filhos juntos. Dos oito da vítima, sete moravam com parentes dela, e um vivia com a mãe. O relacionamento do casal era conturbado, com episódios de violência anteriores, segundo a polícia. No entanto, Deisielle não chegou a fazer boletim de ocorrência. Além disso, o suspeito tinha, ao menos, 10 ocorrências criminais registradas pela polícia, como homicídio, roubo, tráfico de drogas e ameaça. O acusado foi apreendido pela primeira vez aos 15 anos.

Saiba Mais

Alisson era monitorado por tornozeleira eletrônica desde que foi preso, há cerca de um mês, por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. À época, agentes da 27ª DP encontraram um revólver calibre 40 com numeração raspada embaixo da cama de Alisson, que estava sob investigação. "Ele foi preso e, na delegacia, desacatou os policiais. Pedimos a (prisão) preventiva, mas ele foi solto (pela Justiça) na audiência de custódia, que determinou o uso de tornozeleira eletrônica", detalhou o delegado-adjunto da 27ª DP, Diogo Carneiro de Oliveira.

No domingo (7/8), após cometer o crime, Alisson quebrou o item de monitoramento e fugiu. Nessa segunda-feira (8/8), a mãe de Deisielle afirmou ao Correio que não comentaria o caso.

Ódio ou aversão às mulheres

Na avaliação de Ana Paula Penante, pesquisadora de direitos da sexuais e reprodutivos pela Universidade de Brasília (UnB), o ciclo de violência contra as mulheres se perpetua, principalmente, em virtude de uma sociedade estruturalmente machista. Apesar dos avanços na legislação e nos serviços de acolhimento das vítimas, a especialista considera que a questão não está entre as prioridades a serem combatidas coletivamente.

“Na maior parte das vezes, as pessoas entendem a violência como uma questão individual. Também há um constrangimento da mulher em buscar ajuda. Ela tem medo de assumir uma condição frágil, de ser uma vítima. Outro fator que mantém esse ciclo é a dependência econômica: uma mãe pode não ter condições de prover para a família ou, mesmo com condições, sente-se deslegitimada na condição de trabalhadora”, observa Ana Paula Penante.

Além disso, a pesquisadora destaca uma consolidação de pensamentos misóginos — de ódio ou aversão às mulheres — na atualidade. “Isso faz com que os homens se sintam no poder, para tirar a vida ou violentar as companheiras porque se sentem superiores. Enquanto sociedade, precisamos fortalecer os espaços femininos, de acolhimento a elas. E, também, é importante destacar que a violência não nasce só de forma física nem com feminicídios. Essa superioridade é firmada cotidianamente”, destaca.

O delegado Diogo Carneiro lamenta a morte de Deisielle e encoraja as mulheres em situação de violência doméstica a denunciarem os abusos. "A partir do momento em que sofre qualquer tipo de violência — física, moral, verbal, patrimonial, psicológica —, a vítima pode ir à delegacia registrar ocorrência e pedir medida protetiva", orienta o investigador.

Morta no dia do aniversário

CARLOS SILVA*

Também no domingo, Andreza Farias Santiago, 22 anos, morreu assassinada com um tiro, na Cidade Estrutural, baleada por Romberg Farias Santiago, 40, amigo do namorado da vítima, Júlio Cézar Gonçalves, 18. O crime ocorreu de madrugada, no dia em que a jovem comemorava o aniversário. Até a mais recente atualização desta reportagem, à 0h20 desta terça-feira (9/8), o suspeito estava foragido, e não havia informações sobre o sepultamento de Andreza, que deixa uma filha de 2 anos.

Reprodução/Redes Sociais - Andreza Farias tinha 22 anos e deixa uma filha

Antes de ser assassinada, a jovem havia pegado emprestada a moto de Romberg, o que teria provocado ciúme em Júlio Cézar e levado os três a uma discussão. O trio teria bebido e, segundo as investigações, após ser ofendido pela vítima, o acusado buscou uma arma em casa e atirou no rosto dela. A jovem foi atendida pelos bombeiros, que tentaram reanimá-la por cerca de 40 minutos, e levada em estado grave para o Hospital de Base. Inconsciente, com parada cardiorrespiratória e sangramento no ouvido, ela não resistiu.

Andreza e Júlio Cézar estavam juntos havia cerca de dois meses. A 8ª Delegacia de Polícia (Estrutural) apura detalhes do crime, tratado como homicídio duplamente qualificado, por pretexto fútil e provocado sem chance de defesa da vítima. "Não havia motivação. E, com esses agravantes, ele (o suspeito) pode pegar a pena máxima", comentou o delegado-chefe, Gustavo Guerreiro.

Onde buscar ajuda

Polícia Militar
Telefone: 190
Atendimento 24 horas

Polícia Civil
Telefone: 197
WhatsApp: 61 986-261-197
E-mail: denuncia197@pcdf.df.gov.br
Site: pcdf.df.gov.br/servicos/197/violencia-contra-mulher

Central de Atendimento à Mulher
Telefone: 180
Atendimento 24 horas

Delegacias Especiais de Atendimento à Mulher (Deam)
Atendimento 24 horas

  • Deam 1 — EQS 204/205, Asa Sul
    Telefones: 61 3207-6172/6195 e 61 983-625-673
  • Deam 2 — St. M QNM 2, Ceilândia
    Telefones: 61 3207-7391/7408/7438

Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
WhatsApp: 61 996-565-008
Atendimento 24 horas

Secretaria da Mulher do Distrito Federal
WhatsApp: 61 994-150-635

Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)
Endereço: Eixo Monumental, Praça do Buriti, Lote 2, Sala 144, Sede do MPDFT
Telefones: 61 3343-6086/9625
E-mail: pro-mulher@mpdft.mp.br

Defensoria Pública do Distrito Federal (DPDF)
Endereço: Fórum José Júlio Leal Fagundes, Setor de Múltiplas Atividades Sul, Trecho 3, Lotes 4/6, Bl. 4
Telefones: 61 3103-1926/1928/1765

*Estagiário sob a supervisão de Jéssica Eufrásio