Ir e vir é um direito básico do cidadão e tal ação deveria ser feita com segurança. No entanto, até junho de 2022, 35 pedestres morreram em acidentes de trânsito no Distrito Federal. A perda da vida é a consequência extrema da insegurança de quem anda a pé nas ruas da capital. No DF, faltam calçadas niveladas e acessíveis, a iluminação das vias não é adequada e nem mesmo as faixas de pedestres são garantia de travessia segura. Com intuito de conscientizar motoristas e transeuntes, é celebrado, na próxima segunda-feira (8/8), o Dia Mundial do Pedestre, uma data marcada por reflexões sobre como tornar o ir e vir mais seguro.
Movidos pela data comemorativa, a iniciativa Semana do Caminhar é realizada anualmente desde 2017. Neste ano, entre 7 e 13 de agosto, serão realizadas atividades, como bate-papos, encontros e caminhadas, procurando buscar a valorização e promover a caminhada, uma maneira mais sustentável, saudável e social de se deslocar. O tema desta edição é O Retorno (às ruas), celebrando a retomada do espaço público depois de dois anos de pandemia. O objetivo é alertar para a importância de andar a pé para a saúde física e emocional, além de reivindicar políticas públicas que façam das cidades locais mais agradáveis e com mais oportunidades de encontros seguros e ao ar livre.
“O maior problema é que Brasília foi projetada para o automóvel desde o rascunho de Lucio Costa. Em outros projetos de cidades, as ruas foram desenhadas primeiro”, opina Wilde Cardoso, coordenador da organização não governamental (ONG) Andar a Pé, que, com o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT) e outras ONGs locais, organiza a Semana do Caminhar. A organização Andar a Pé surgiu em 2016 com o objetivo de fazer com que os cidadãos tenham uma cidade humanizada, com os pedestres como principal preocupação dos Estado e da sociedade privada.
Em meio a tantos óbitos anuais de pedestres no DF, Cardoso afirma que a primeira causa das mortes é o excesso de velocidade. “Em uma cidade como Brasília, onde a maioria das vias tem a velocidade máxima acima de 60km/h, todas as pessoas atingidas podem morrer. Nas melhores cidades do mundo, a velocidade máxima está sendo reduzida, indo de 50km/h para 30km/h em vias muito movimentadas, porque o acidente não será fatal”, explica.
“Brasília não foi feita para pedestres, ela foi feita para carros”, avalia a estudante Letícia Holanda, que perdeu a tia, pedestre, em um acidente de trânsito. Ao atravessar a rua na altura das 400 da Asa Sul, a idosa de 76 anos foi atingida por um carro e não resistiu. “O impacto foi tão grande que matou ela na hora. O motorista estava correndo em uma via em que a velocidade máxima não deveria ser tão alta”, relembra a estudante.
Saiba Mais
Moradora do Guará e usuária de transporte público, Letícia também passa dificuldades como pedestre. “Aqui no Guará não tem muito pardal perto de faixa. É pior que na Asa Sul, e na Asa Sul já é bem ruim”, avalia a estudante. “Eu acho as calçadas no Guará péssimas, são super esburacadas. No Plano Piloto também, principalmente na Asa Norte. Não vejo como um local acessível para cadeirantes, eu quase não vejo rampa, tem muito lugar que só tem escada.”
Conscientização
“O pedestre não está em risco nas faixas de pedestres. O problema é o pedestre que não vai às faixas”, declara Marcelo Granja, diretor de Educação do Detran. Segundo ele, foi registrado, neste ano, apenas um pedestre que veio a óbito ao atravessar na faixa de pedestres. Com diversas iniciativas programadas para a semana de comemoração, a instituição de trânsito quer resgatar o compromisso do pedestre com o uso da faixa. “O foco da nossa campanha é reforçar a ideia do pedestre a não correr o risco de atravessar fora da faixa”, diz o diretor.
Ao longo do mês, o Detran pretende realizar ações abordando pedestres nas ruas do DF. A instituição preparou atividades que trabalham com o lúdico dos transeuntes, como apresentações de mímicos e repentistas, teatros e contações de histórias voltados para crianças em escolas e shoppings, cursos para professores da Secretaria de Educação, grupos de idosos e ciclistas e até mesmo cursos para pedestres. A intenção é que as atividades continuem sendo realizadas ao longo do ano.
Serviço
Semana do Caminhar
Abertura da Semana do caminhar
7 de agosto, às 9h30
Eixão, altura da 211 Norte
Um safari pelas calçadas do Setor Hospitalar
8 de agosto, às 15h
716 Sul
Um pé de prosa sobre a W3 e a mobilidade urbana
13 de agosto, às 10h
Infinu Comunidade Criativa
* Estagiário sob a supervisão de Sibele Negromonte