A pouco mais de 100 dias para a Copa do Mundo de 2022, começou a contagem regressiva para a abertura do torneio que agita a rotina dos brasileiros. No período que antecede o grande evento — entre os amistosos, convocação e o pontapé inicial — o que nunca pode faltar são os álbuns de figurinha, hobby marcante em época dos jogos mundiais.
No Distrito Federal não é diferente. Com a chegada do álbum prevista para o dia 15 de agosto, a paixão já toma conta de multidões, que procuram um lugar para comprar as figurinhas, trocar as repetidas e completar o álbum. Um desses pontos é a Banca do Brito, instalada há 38 anos na 106 Norte.
O espaço se tornou um point em 1998, a partir de uma brincadeira de pai e filho. José Gonçalves Brito, 58, fez uma competição com seu filho: a primeira pessoa que preenchesse o álbum ganharia um brinde. A brincadeira ganhou fama e de lá para cá já foram seis Copas — agora a sétima — com centenas de colecionadores nos arredores do estabelecimento à procura das figurinhas que faltam.
Mesmo com os altos preços dos álbuns e dos pacotes de figurinhas (veja quadro), o jornaleiro está com boa expectativa para este ano. Além da alta procura, o movimento pode ser maior com as pessoas querendo matar a saudade. "Foi praticamente eu que plantei essa ideia, em 1998. Hoje tem um ponto forte em Águas Claras, na Asa Sul, no Guará, e eu queria que abrissem mais pontos na Asa Norte. Aqui fica muito cheio", sugere.
O jornaleiro se preocupa com o engarrafamento que se forma na entrada da quadra na época de Copa. "O povo reclama demais, fecha o bloco, carro para todo lado, estacionam na frente da garagem, não consigo receber meu caminhão de entregas. O ideal é não virem de carro ou estacionarem nas outras quadras", pede.
Saiba Mais
Brito coleciona momentos vividos no trabalho. Entre os mais marcantes, em 2014, quando a Copa foi no Brasil, muitos estrangeiros passaram pela banca, o que resultou até em entrevista para televisões do Panamá. Mas o mais especial é ver a fila em volta da loja antes mesmo de abrir e poder reparar na felicidade dos outros em completar o álbum. Para o jornaleiro, a satisfação não tem preço.
Outro dono de estabelecimento tradicional é Lourivaldo Soares Marques, 84, da banca da 108 Sul, inaugurada em 13 de fevereiro de 1960. Além de vender figurinhas, o local se tornou ponto turístico por ser a banca mais antiga de Brasília. Com 38 álbuns já reservados na pré-venda, a esperança também é de melhores vendas.
Aos que passarem entre duas grandes árvores — dois fícus italianos — que ornamentam os arredores da loja, senhor Lourivaldo planeja uma recepção de pompa. "Vou receber esse álbum de agora com bandeirolas e muita festa. Aqui vai estar tudo enfeitado para os fregueses ficarem motivados para sentar e trocar a figurinha", declara.
Mais um para coleção
Do outro lado, os fanáticos já estão ansiosos pela chegada do álbum do Catar. O estudante Marcelo Henrique Ponte, 21, reservou tudo na pré-venda e está contando as horas para completar o novo item, que será o quinto da coleção. O mais especial deles é o de 2010, quando o jovem passou dias precisando de apenas uma figurinha para completar, mas não achava, até que seu professor de judô encontrou a que faltava e o presenteou.
O daquele ano, inclusive, foi especial para a paixão de Marcelo virar amor, pois foi o primeiro que ele colecionou sozinho, já que antes era ajudado pelo pai, o principal influenciador. Outro marcante foi o de 2014, que completou duas vezes, uma delas só com figurinhas que ganhou "batendo bafo".
Para preencher todas as 670 figurinhas, o jovem já sabe qual será o primeiro passo. "A troca será ainda mais necessária nesse ano, considerando o alto valor dos pacotes. Fiquei triste com o valor, mas a paixão para completar é maior. Já havia um dinheiro que reservo para compras e com certeza utilizarei para comprar os pacotes", compartilha.
Opinião compartilhada pelo analista de dados Eduardo Santos, 25, morador do Gama, que começou a colecionar em 2006 com o tio e o irmão. Ansioso pela chegada do álbum, o jovem não quis adquirir o novo item pela pré-venda porque se diz nostálgico e prefere ir à banca comprar.
Por mais que o favorito dele seja o de 2014, por ter sido no Brasil, a história mais marcante foi no de 2010, na Copa da África do Sul. "Eu colecionava junto do meu irmão e fui para a direção da escola por estar trocando figurinha em sala de aula. Achei que ia ser advertido ou suspenso, mas o diretor só queria trocar figurinhas também. Trocar é a parte que mais gosto. O processo de colecionar, comprar, colar, abrir pacotinho, tudo para mim é uma experiência e tanto", conta.
Outro apaixonado por álbuns é o publicitário Lucas Fermon, 26, que começou a colecionar em 2002, mas não chegou a completar. Depois disso, de quatro em quatro anos ele fica vidrado na Copa, acompanha todos os jogos possíveis e sempre aproveita para ter mais um álbum na coleção, que inclusive serve de fonte para pesquisar os resultados e jogadores que participaram do campeonato. Entre os que já tem, o mais especial é sempre o próximo, porque dá ainda mais valor para os outros.
O morador da Asa Norte diz que ficou assustado com o preço dos pacotes de figurinhas. "Em 2006 custava em torno de R$ 0,50, passou para R$ 0,75 em 2010, R$ 1 em 2014, R$ 2 em 2018 e agora está R$ 4", lamenta, mas afirma que vai fazer os esforços possíveis para completar. "Sei que para gastar R$ 40 por dez pacotes vou ter que abrir mão de outras coisas da vida para economizar", programa.
*Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado