Quase uma década e meia após ser colocado no papel, o Parque Burle Marx — no Noroeste — ainda vai demorar para ser uma realidade. Criado como uma compensação pela derrubada de árvores do cerrado, o local está longe de estar totalmente disponível para a população de Brasília. O atraso acontece desde a idealização do parque, conforme explica o professor de urbanismo e planejamento urbano da Universidade de Brasília (UnB), Benny Schvasberg. "O Plano de Manejo foi elaborado em 2008. Cerca de 10 anos depois, a Terracap contratou equipe multidisciplinar para a revisão do plano, definindo o zoneamento, as atividades permitidas e não permitidas, além de diretrizes, programas e ações que o viabilizaram", afirma.
Foi uma longa espera, até que o plano finalmente começasse a ser executado. A ordem de serviço, que marcou o início das obras da primeira etapa de intervenções no parque, foi assinada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB) em 29 de julho de 2021. Naquele momento, a expectativa do Governo do Distrito Federal (GDF) era de que a infraestrutura, com diversos equipamentos de lazer para a população, fosse entregue até dezembro do mesmo ano. No entanto, ela só foi entregue quase um ano depois, em 1º de julho de 2022.
O GDF entregou, na primeira etapa, uma portaria, banheiros e uma infraestrutura planejada para a prática de esportes e lazer gratuitos. A Ilha Oeste tem uma quadra poliesportiva, duas quadras de areia para a prática de vôlei, futevôlei e beach tennis, duas quadras de tênis e um campo de futebol. Dois parquinhos infantis também foram construídos, além de um ponto de encontro comunitário (PEC), um bicicletário, bancos e pergolados para o descanso dos frequentadores. Também já foram concluídos o cercamento e a ciclovia na W7.
O plano é entregar a segunda ilha, virada para a Asa Norte, ainda neste mês e, no próximo ano, construir a terceira ilha de infraestrutura. O governo local não indicou datas e destacou que está em fase de licitação a complementação da ciclovia, assim como da pista que envolve o parque, no lado da Asa Norte. "O local passou por anos de degradação e requer uma grande intervenção para recuperação ambiental. Por isso, está sendo viabilizada a contratação de serviço de recuperação por meio de um PRAD (Plano de Recuperação de Áreas Degradadas). A previsão de entrega total é até 2024", ressalta nota do GDF.
Com construções de alto padrão, os imóveis do Setor Noroeste foram vendidos com o conceito de integrar um bairro ecológico. Para Benny, a demora na conclusão do parque faz com que, tanto o Noroeste quanto o Distrito Federal fiquem incompletos. "Torna-se um bairro inacabado do ponto de vista ambiental e de equipamentos urbanos coletivos de lazer, entretenimento esportivo e cultural", destaca. "Também empobrece a paisagem urbana de toda a cidade, especialmente da Asa Norte", complementa o especialista.
Perigo iminente
Quem sabe bem como é ficar esperando pela inauguração da infraestrutura, é a servidora pública Flávia Hass, 45 anos. Moradora da quadra 107 há sete anos, ela afirma que nunca teve uma opção de lazer próximo ao local onde reside. Apesar de estar feliz pela abertura do parque, Flávia comenta ser perceptível que o parque foi inaugurado às pressas, por uma questão eleitoreira. "Tanto que a gente ainda consegue observar alguns restos de obra na quadra de beach tennis", aponta. "Lá, tem uma tábua que está com os pregos virados para cima. Isso é perigoso para uma criança, que gosta de brincar na areia, pois ela pode acabar se machucando feio", alerta a moradora.
Flávia ressalta que o parque era uma obra prometida há muito tempo. Desbravando algumas trilhas que existem no local, junto ao seu namorado, ela percebe que ainda está inacabado. "Não tem quase nada. A ideia, por si, é boa, mas precisa terminar", frisa a moradora da 107, que também reclama da falta de iluminação no local. "Não existe, o que é perigoso. Não tenho como mandar minha filha para cá, sozinha, em um horário mais perto de escurecer", observa.
Medo do abandono
O auditor fiscal e morador da quadra 310 Marcello Lara, 51, também destaca a falta de luz artificial. "Isso chama bastante atenção e incomoda. A maioria das pessoas trabalham durante o dia, por isso elas podem usar somente durante o fim de semana", comenta. Ele afirma que ficou impressionado, positivamente, com os equipamentos instalados, contudo, considera que existem dois pontos que precisam melhorar. "Não existe um estacionamento próprio para o parque. Isso é ruim para quem mora aqui. Não moro perto e costumo vir de carro. Como não tem, acabo tendo que procurar vaga nas quadras", detalha.
A outra questão citada por Marcello é sobre a manutenção do espaço. "A gente sempre vê isso, o poder público inaugura, mas depois de um tempo abandona, não cuida, e fica sem utilidade", pondera. "Aqui mesmo, que é um espaço novo, já tem um portão quebrado", aponta o auditor fiscal. Em relação aos questionamentos, o GDF informou que o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) monitora e realiza manutenção em todas as unidades de conservação de forma periódica, incluindo o Parque Burle Marx.