Uma carta aberta com mais de 70 linhas e divulgada nas redes sociais foi a solução encontrada pela irmã mais velha de Janayna Amanda, 21 anos, Gillian Borges, para expor tamanha dor, tristeza e revolta pela perda da jovem. A empreendedora foi brutalmente assassinada a facadas pelo namorado, Eliezer Rodrigues, 30, dentro de casa, em Santo Antônio do Descoberto (GO), no Entorno do DF. Após ficar escondido por cinco dias, o agressor se apresentou ontem à delegacia e foi preso temporariamente.
Na publicação, Gillian traz relatos sobre o relacionamento conturbado entre a irmã e o cunhado. Brigas constantes, agressões na frente de familiares e amigos e violência psicológica eram problemas recorrentes no namoro. Na noite de domingo, o casal discutiu na residência, no bairro Mansões Bittencourt. Nesse momento, Eliezer pegou uma faca e, com tamanha brutalidade, desferiu ao menos 20 golpes contra o pescoço e o tórax da jovem.
Após cometer o feminicídio, Eliezer comunicou o crime a um parente e confessou que teria sido o responsável. De acordo com os familiares da vítima, um primo do acusado foi até a casa para confirmar a informação e constatou o feminicídio. Já os parentes de Janaína, souberam da trágica notícia por vizinhos. No dia seguinte, na segunda-feira, os investigadores da Delegacia de Santo Antônio do Descoberto conseguiram a prisão temporária de Eliezer, deferida pela Justiça do Estado de Goiás. Ontem, o homem, na companhia de advogados, resolveu se entregar em Águas Lindas (GO). “As investigações seguem no sentido de esclarecer as situações do fato”, declarou o delegado à frente do caso, Pablo Santos Batista.
Desabafo
Logo no começo da carta, Gillian descreve a publicação como um alerta para as mulheres e dá detalhes de um episódio trágico ocorrido com a irmã Janayna no final de maio. No dia 24 daquele mês, enquanto familiares e amigos estavam reunidos, Eliezer enforcou e agrediu a jovem com murros na cabeça e puxões de cabelo. Um dos irmãos da vítima interveio na briga. “Através dessa agressão, nós, a família dela que tanto a ama, intervimos e a afastamos desse monstro, conversamos com ela, imploramos para ela sair fora, ela disse que tava tudo acabado, que não queria mais e que não precisava fazer o ‘BO’, pois não voltaria para ele e nunca mais iria se submeter novamente a receber esse tipo de tratamento de homem nenhum. Alguns dias do ocorrido, ele começou a pedir para voltar, ficou atrás dela, até que um dia, chorando, (ela) falou para minha mãe que o amava e que era dependente dele emocionalmente”, desabafou.
Ainda segundo o relato da irmã, a mãe implorou para que a filha não reatasse o namoro. “O Eliezer Rodrigues veio até à casa da minha mãe, pediu perdão, disse que amava minha irmã, que nunca mais iria acontecer esse tipo de coisa. Não tinha muito o que fazer, pois ela já estava decidida, e minha mãe, para não ficar longe dela, teve que aceitar, então Janayna voltou e ainda foi morar com ele, apesar de todos os pedidos da minha mãe para ela não sair de casa.”
No domingo, a família recebeu a triste notícia do assassinato da jovem. “O mundo caiu sobre nós”, descreve Gillian. “Uma mãe que vivia cuidando e zelando pela sua filha, perdeu sua caçula assassinada por um homem que cresceu com os irmãos, que entrou na casa dela pedindo perdão, dizendo que amava sua filha e que iria cuidar dela. E ele devolveu sua filha em uma poça de sangue com quase 30 facadas nas regiões do abdômen, das mãos pois tentou se defender e o pescoço.” Ao final da carta, a irmã pede por Justiça e frisa que, nada trará a jovem de volta, mas evitará que outras mulheres sejam novas vítimas.