Ary era o tipo de profissional que tinha jornalismo na veia. Sim, o exercício da profissão corria em seu sangue e o levava especialmente às periferias, em busca de histórias pelas quais nem todos se interessavam. Foi assim quando as mães de Luziânia choravam o desaparecimento de seus meninos e só encontraram voz a partir da escuta de Ary. A série de reportagens escritas por ele e publicadas pelo Correio levou à descoberta de um assassino em série — o maníaco de Luziânia — e rendeu um prêmio de jornalismo extremamente celebrado por Ary: o Embratel Centro-Oeste.
Ary Filgueira já não contará mais histórias por aqui. Morreu aos 48 anos, às 5h18 dessa quinta-feira, no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), onde estava internado há uma semana para tratar de uma infecção e teve parada respiratória. O velório será nesta sexta-feira, no Cemitério do Gama, Capela Templo, das 8h30 às 10h30. O enterro será às 11h.
O amor à profissão é uma das lembranças mais fortes da amiga e jornalista Naiobe Quelem. "Como profissional, ele sempre foi uma pessoa muito intensa, honesta, que odiava injustiça e que perdia a paciência quando via alguma covardia", afirma. Os dois se conheceram em 2000, na redação do Correio, e foram amigos desde então. Naiobe o acompanhou no hospital até os últimos dias de vida.
"Quando ele acreditava em uma coisa, era bem obstinado e ia até o final. Quando ele recebeu a denúncia do caso de Luziânia, muita gente não levou a sério, mas ele não largou o osso até descobrir o que aconteceu", recorda Naiobe.
Nas redes sociais do Correio, amigos e conhecidos de Ary deixaram as últimas homenagens ao jornalista. "Um grande amigo, da minha infância e adolescência. Mais do que um profissional competente, nos deixa precocemente um ser humano incrível", escreveu Kleber Peixoto.
Jornada
O jornalista Renato Alves define Ary como um repórter nato. "Ele sempre lutou muito para ser o que queria ser, um repórter. E conseguiu. Era um repórter nato. Fuçava, brigava pela notícia. Sempre preocupado com as questões sociais, sempre lutando contra injustiças, sempre brigando pelo que acreditava", conta.
Mara Puljiz, colega de trabalho, considerava Ary um grande parceiro de coberturas investigativas. “Ele tinha um senso de justiça muito apurado em defesa dos menos favorecidos. Muitas vezes se deixava levar pela emoção e nem sempre era compreendido. Ary vai fazer muita falta. O jornalismo perde um guerreiro, um gigante", lamenta.
O motorista Luis Medeiros Neto conta que Ary era, para todos, um grande amigo no ambiente de trabalho. “Ele sempre foi excelente, eu adorava sair com ele desde a época que começou na redação, quando ele fazia o Grita Geral”, recorda. Quase sempre juntos pelas ruas do Distrito Federal, a dupla aproveitava o horário de almoço para passar na Feira dos Bandeirantes, já que o jornalista era fã de comida nordestina.
Ary fez parte da equipe do Correio durante 21 anos. Foi contratado aos 15 como office boy e, em 2004, passou a integrar a equipe de jornalismo da editoria de Cidades. Ao longo da carreira, atuou em veículos como Rede Globo, Metrópoles, Jornal de Brasília e Isto É, além do Governo do Distrito Federal (GDF).
Compartilhar a bancada de trabalho com Ary era garantia de riso e de aprendizado. Ele batia o ponto e sumia. Voltava no fim do dia com histórias que, muitas vezes, rendiam página inteira. Dessa vez, Ary sumiu diante dos nossos olhos de forma tão abrupta, que é difícil acreditar na sua partida tão precoce. Mas seu olhar, sua risada, as lembranças das pautas compartilhadas, dos plantões, tudo isso, ficará na memória de quem teve a honra de caminhar junto dele nessa jornada aqui na Terra.
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