Janaína Nunes Araújo, 44 anos, que morreu no Hospital Regional do Paranoá, por volta das 5h da última quarta-feira, e ficou mais de 36 horas com o corpo na unidade de saúde até que policiais civis fossem buscá-la para realizar a necrópsia no Instituto de Medicina Legal (IML).
Procurada pelo Correio, a Secretaria de Saúde disse que os questionamentos deveriam ser enviados à Polícia Civil do DF (PCDF), que informou que o corpo da vítima foi recolhido e encaminhado ao Instituto de Medicina Legal (IML) para formalizar o serviço. A companheira de Janaína, a autônoma Iomar Fernandes Torres, explica que os médicos do hospital pediram 24 horas para concluir o teste de covid-19 no corpo, para não infectar outras pessoas. O resultado foi negativo.
Iomar lembra que decidiu ir com a companheira ao Centro de Referência de Assistência Social (Cras) durante oito dias em busca do Benefício de Prestação Continuada (BPC), pois a mulher tinha problemas psicológicos e não conseguia oportunidades de emprego.
Na última ida ao Cras, junto com uma comadre, elas decidiram passar a noite, com o objetivo de garantir o auxílio. “Como foi cancelado na segunda-feira, decidimos dormir na terça-feira porque estávamos na lista que havia sido confirmada”, relata.
Segundo Iomar, Janaína — que fazia tratamento psiquiátrico desde 2012 — estava com os pés inchados, teve síndrome do pânico e ansiedade durante a madrugada, com aproximadamente 50 pessoas na fila. “Senti que ela estava começando a ficar muito ansiosa por volta das 4h e a levamos para o meu carro, onde ela se encostou no banco do motorista e pediu para respirar um pouco, mas desmaiou em seguida”, relata Iomar.
Iomar acrescenta que desde 2018 ajudava Janaína a pagar remédios em tratamento particular, o que custava quase R$ 1 mil em medicações. A médica aconselhou que Janaína fosse ao Cras para solicitar um encaminhamento do INSS ao Benefício de Prestação Continuada (BPC). “Na pandemia a gente não teve mais condições, mas aí conseguimos pegar quase 90% no SUS (Sistema Único de Saúde), além de uma vaga para a psiquiatria e saúde mental do posto de saúde, no início deste ano”, detalha.
A companheira lamenta o ocorrido e diz que o episódio de Janaína sirva de exemplo para não ocorrer com outras pessoas. “Espero que a morte dela não tenha sido em vão, e que isso possa melhorar o sistema que temos hoje, de organização estrutural dentro das secretarias que fazem esse tipo de atendimento, para que outras pessoas não precisem morrer, porque idosos de quase 80 anos estavam dormindo na fila quando estávamos lá”, desabafa Iomar.
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