A música é uma forma de expressão e é capaz de despertar diferentes emoções. Para os que desejam trilhar o caminho artístico, dúvidas e desafios podem desencorajar a abraçar o legado musical profissionalmente. Conhecendo esse percurso, um grupo de artistas e produtores musicais do Guará decidiu levar aos estudantes da rede pública de ensino da região informações sobre os sabores e dissabores de seguir a vocação artística.
Frente ao projeto Arte Como Ofício, sete trabalhadores da música — Nelson Latif (arranjador), João Pedro Mansur (multi-instrumentista), Ismael Rattis (multi-instrumentista), João Vitor Dutra (produtor musical), Marcos dos Santos (produtor musical), Dila Caju (produtor musical) e o artista Kojo Yebooah — perceberam a necessidade de falar aos mais jovens e compartilhar os melhores caminhos para os que sonham em se profissionalizar no segmento. Os desafios do mercado competitivo e o esforço atrelado ao talento estarão entre as abordagens ministradas pelos palestrantes.
Cerca de 30 estudantes da regional de ensino do Guará participam das oficinas do projeto, que iniciaram na última sexta-feira. Ao todo, serão cinco encontros com duração de 45 minutos cada, entre agosto e setembro. O conteúdo das abordagens é estruturado nos eixos: educação e música; músico de apoio; produção audiovisual; projetos culturais.
Para marcar a conclusão do projeto, os alunos participarão com os artistas de um concerto de encerramento apresentado à comunidade do Guará. O projeto tem apoio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal e busca incentivar os estudantes rumo aos primeiros passos na carreira como músicos e artistas.
Ampliando horizontes
O educador musical Ismael Rattis, 39 anos, um dos responsáveis pelo projeto, ministra palestras em escolas sobre educação musical. O artista pretende unir essas vivências ao amor pela arte. Ele defende que a música precisa estar mais presente nos ambientes de ensino e que é importante mostrar que um músico pode oferecer mais do que shows, turnês e composições. Segundo ele, é importante buscar novas formas de aprendizagem, não para rivalizar com professores, mas para que os jovens também possam consumir novas formas de enxergar o mundo.
“A gente quer colaborar com o nosso conhecimento, compartilhando aquilo que fazemos no palco e no estúdio. Queremos incluir o jovem dentro do universo da música”, afirma. Para Ismael, a arte é muito importante na formação de pessoas, principalmente, na faixa etária de alunos que o grupo encontrará durante o ciclo. Além disso, atrair os estudantes para atividades além das aulas regulares os ajuda a se conectar com a comunidade, reforçar laços e entender a importância do espaço.
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Arte do encontro
Conhecido como Lubardino — alter ego em homenagem ao avô — João Vitor Dutra, 29, vai debutar como oficineiro. Ainda que não tenha a mesma prática em escolas, como os colegas, carrega o amor pela música. Compositor, produtor, arranjador e tudo o que a arte lhe permitiu ser, ele vem de uma família de músicos, e é grato pelos conhecimentos que foram passados de geração em geração. Lubardino admite que muitos jovens não têm o mesmo privilégio de ter proximidade com as camadas artísticas.
Ele acredita que, sem os familiares, provavelmente não teria encontrado a música na rua ou na escola. Uma realidade enfrentada por muitos adolescentes. Na visão de João, a iniciativa pretende justamente favorecer esse encontro, para que os estudantes saibam que há chances de inserção no mercado musical, ainda que seja difícil e competitivo. “Queremos trazer a noção para as pessoas de que a música capacitada pode gerar retornos. É possível mostrar isso trazendo nossa experiência e influência como profissional”, reforça.
Ansioso e empolgado, Dila Caju, 22, diz que as expectativas para o contato com os alunos são positivas. Ao lado dos demais integrantes, ele pretende levar motivação e manter a chama acesa pela música no coração de todos os que estiverem presentes durante a programação. “A proposta da oficina é justamente essa. Mostrar quais são os caminhos possíveis dentro do ofício da música”, ressalta o multi-instrumentista. Para ele, a troca com a garotada também vai ser importante do ponto de vista artístico. Estar abraçado em novas experiências como essa também o faz crescer como profissional.
O mais velho do grupo, Nelson Latif, 57, afirma que a ideia é ampliar o projeto, já que nesta primeira edição só os inscritos terão acesso às oficinas. Compositor, produtor musical e multi-instrumentista, ele é formado em sociologia e tenta mesclar a parte teórica com a prática artística para ensinar. “Sou músico desde que me entendo por gente.”
A atual edição passará por quatro escolas de ensino médio do Guará — duas em agosto e duas em setembro, mas eles não pretendem parar. Os músicos querem disseminar a arte como forma de aprendizagem e inserção no mundo. "Começamos a pensar em ampliar para Sobradinho. Vamos tentar levar para os quatro cantos do DF e do planeta”, brinca o artista.
*Estagiário sob supervisão de Juliana Oliveira
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