MATERNIDADE

Crônica da cidade: O amor é inegociável

"A única conclusão a que pude chegar durante esses poucos anos de maternidade é: me cobrar menos"

Mariana Niederauer
postado em 15/08/2022 19:02 / atualizado em 15/08/2022 19:09
 (crédito: Unsplash/Reprodução)
(crédito: Unsplash/Reprodução)

Quando nos tornamos pais de primeira viagem, também nos tornamos especialistas em dúvidas. Das mais banais às complexas. A que horas coloco para dormir; a que horas acordo; quanto de leite oferecer; qual a melhor roupa para o momento; se é hora de levar à emergência; que pomada usar; qual fralda comprar; e por aí vai.

Meses depois, já começamos a nos sentir PHDs em diversos desses temas e, se encontramos alguém que está prestes a ter o primogênito, logo disparamos vários "conselhos" com a intenção de tornar mais fáceis os primeiros dias da próxima mãe e do pai. Acontece que essa equação montada em nossas mentes depois de vividos todos os momentos intensos do puerpério, provavelmente, não funcionariam sequer se tivéssemos o poder de voltar no tempo. Que dirá na rotina de outro casal, ou mãe, que se insere em contextos totalmente diferentes, ainda que na mesma classe social.

Temos uma mania de nos intrometer na vida dos outros e achar que a nossa opinião realmente será relevante. Bando de ingênuos. É claro que uma ou outra recomendação, talvez, seja de alguma serventia à família em construção, mas ouvir e acolher é sempre mais importante do que tentar resolver problemas insolucionáveis por natureza, e que, às vezes, só o tempo poderá sanar.

Eis que vem o segundo filho e é a sua vez de testar todas as suas teorias pós-estreia na maternidade. Com uma lista do que deu certo e do que não se pode repetir na segunda tentativa em mãos, seguem os navegantes seguros. Receita para o sucesso... Só que não. Outros problemas se colocam e atropelam os antigos. E mesmo para esses velhos conhecidos as formas corriqueiras de solução teimam em não funcionar. O caos está em curso e não há nada que você possa fazer para contê-lo. Exceto uma coisa. Vamos chegar lá.

E é quando você está no auge do seu cansaço que se aproxima um casal empolgado, grávido do segundo filho e ansioso por saber como será a chegada do rebento. Há alguns meses, encontramos dois amigos nessa situação. Eles nos perguntaram como estavam as coisas e, depois de viver todo o roteiro exposto nas linhas anteriores, apenas respondemos: "Vocês verão". No último fim de semana, nos reencontramos. Eles, já com o bebê no colo, é que nos disseram: "Pois é, nós vimos", entre sorrisos sinceros e exaustos.

A única conclusão a que pude chegar durante esses poucos anos de maternidade é: me cobrar menos. Deslizes vão acontecer. Na maioria das vezes, basta admitir o erro e pedir desculpas, mesmo (e principalmente) para os bebês e crianças bem pequenas. Não seja violento com o seu filho — não use castigo físico nem xingamentos. E saiba que existe apenas uma coisa de que todos eles realmente precisam para crescerem felizes e saudáveis: amor. O amor é inegociável.

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