O candidato ao Governo do Distrito Federal Izalci Lucas (PSDB) foi o segundo da série de entrevistas que o Correio Braziliense fará com os postulantes ao Palácio do Buriti. Ao CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília —, o senador afirmou que caminhou pela capital federal e encontrou realidades diferentes do que o governador Ibaneis Rocha (MDB) divulga sobre o seu governo, ao longo dos últimos três anos e meio. O tucano ainda disse que pretende unir a segurança pública, nomeando, em uma espécie de rodízio, o secretário de Segurança do DF entre as forças. O candidato, em conversa com a jornalista Denise Rothenburg, enfatizou também que pretende perdoar a dívida dos servidores do DF no Banco de Brasília (BRB). "Por que não faz isso para os servidores (perdoar a dívida)? Tem policial devendo hoje R$ 400, R$ 500 mil por causa da pandemia. E aí? O governo não faz nada", disse.
Você é candidato oficial da federação PSDB-Cidadania. Já pacificou todo aquele tumulto?
A gente acabou tendo vários tipos de chantagem, até financeira. As pessoas acham que compram todo mundo, que convencem todo mundo. Não entrei na política por carreira. Brasília é considerada a capital da esperança, capital das oportunidades. Eu cheguei aqui em 1970 com 13 anos, e estou onde estou graças a isso.
Então ofereceram dinheiro para você deixar de ser candidato?
Além de chantagem, ameaças... Esse tipo de coisa acontece. Mas isso é irrelevante, o que a população precisa saber é que, primeiro, me preparei para isso. Antes de ser deputado, inclusive, eu lancei o cheque educação; fui professor a vida toda e juiz do tribunal (TRT-10). Lancei a Associação Brasileira pela Educação de Qualidade (ABEDUQ), (com) mais de 100 mil alunos que, a partir daí, nasceu o projeto do Prouni, que é o cheque educação, surgido em Brasília nos anos 1990. Depois fui (deputado) distrital, (deputado) federal e agora senador. Fui diretor do Serviço de Limpeza Urbana (SLU) e duas vezes secretário de Ciência e Tecnologia. Então me preparei para isso, desde 2011.
O seu suplente no Senado (Luiz Felipe Belmonte, do Cidadania) é vice de Paulo Octávio. Não é um contrassenso ver o seu suplente em outra chapa?
Eles acham que podem manipular, induzir, cooptar ou chantagear para que a gente desista da candidatura. Eu não vou desistir, tanto que agora é oficial (a minha candidatura).
Então ele (Luiz Felipe Belmonte) foi para lá para isso? Para ver se você desiste?
Ele foi buscar uma alternativa para pressionar e ver se eu desistia. Eu sou candidato.
O Cidadania vai fazer campanha para lá? E você vai fazer a própria campanha?
Não acredito nisso (que integrantes do Cidadania não irão apoiar Belmonte). Os candidatos têm a questão do estatuto (da federação), da Lei Eleitoral e partidária. Todos, não só do Cidadania e do PSDB, vão nos ajudar. As pessoas que têm compromisso com a cidade, com as pessoas, sabem do meu trabalho, da minha experiência, determinação de fazer as coisas. O que eu quero dizer é que nós temos propostas concretas.
Você começou lá atrás, desde 2011, o projeto de ser candidato ao governo?
Sim. Na política você precisa ouvir as pessoas para fazer qualquer plano de metas. Nós fizemos os planos. O plano para cada cidade, ouvindo as lideranças da cidade. Ninguém conhece Brasília mais do que eu. Eu sei a realidade. Você tem a realidade virtual e a propaganda do governo, e tem o mundo real, onde as pessoas estão passando fome; passando frio; não conseguem consulta e nem exames. Você vê que a saúde está matando. É muita falta de gestão. Tudo que o governo (de Ibaneis Rocha) prometeu na campanha, assinou, gravou, filmou... Fez diferente. O Iges-DF e a CEB estão aí para demonstrar isso. Agora, nós nos preparamos, nós temos que descentralizar. Eu fiz um projeto ouvindo as pessoas, voltado para o cidadão.
O que você traz diferente do que a gente já viu nos governos anteriores? Por que você quer ser governador do DF?
Bem, primeiro para cuidar das pessoas, né? Porque eu aprendi isso, governar é você cuidar das pessoas, principalmente aquelas que mais precisam. É dar uma saúde digna, com que a pessoa possa utilizar. Chegar lá e ter remédio, ter exame disponível. Isso é o que a população espera. Ninguém quer viver de cesta básica, apesar de que nem cesta básica tem. Você tem famílias dormindo na fila cinco, seis dias, sem tomar banho, sem usar o banheiro. Para quê? Para pegar uma senha para cadastrar e só Deus sabe quando é que vai receber (o atendimento). Fui secretário duas vezes de tecnologia, e o mundo está assim. Você quer marcar uma consulta, você aperta um aplicativo e marca. O celular vai tocar e "olha 48h" (para a consulta). Confirma? Confirma. Quando o médico te atende, você sabe quantos minutos ele ficou com o paciente; qual remédio que ele deu; quais exames que ele pediu; e a avaliação do próprio paciente que foi atendido. O problema é que aqui (no DF) não se conhece o cidadão. A gente sabe quantos são, onde moram, mas você não conhece a situação de cada um. Vamos aproveitar o IBGE, que está fazendo um grande Censo. Você só faz política pública de Estado quando você conhece a realidade. A gente conhece a realidade, mas precisamos agora identificar a pessoa por pessoa, (porque) cada ser humano é importante. A gente ouviu essas pessoas. Eu fiz um plano de meta.
Tem recurso para fazer os seus planos de metas?
É o que mais tem. Eu criei agora a Frente Parlamentar de Investimento Estrangeiro no Brasil. O que mais tem lá fora é recurso para investir. Agora, como investir numa cidade que ninguém conhece? Que ninguém sabe o potencial que é o Distrito Federal? Você tem hoje os melhores profissionais do Brasil estão aqui. Segurança, educação, saúde. O que falta é infraestrutura, condições de trabalho para o servidor. Temos servidores hoje que devem no BRB quase 40%, 50% do salário.
O que você vai fazer? Vai perdoar a dívida?
Não foi feito com os empresários? O governo fez uma Refis agora para as empresas, diminuindo inclusive o principal. Por que não faz isso para os servidores? Por que a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros, que recebem o Fundo Constitucional, e o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) exigiu a coparticipação. Tem policial devendo hoje devendo R$ 400, R$ 500 mil por causa da pandemia. E aí? O governo não faz nada? Não enxerga isso que as pessoas não tem condição? E o policial, para fazer um bom trabalho, como qualquer servidor, tem que estar com o estado de espírito tranquilo, porque ele tem filho, conta para pagar. Então, essa sensibilidade que o governo tem que ter. Nós não temos prefeito. O governador tem que fazer o papel do prefeito. Ele tem que ir lá (no local) ver o que está acontecendo, para se colocar no lugar do outro e fazer as coisas como deve ser feito.
Se você vencer as eleições, como pretende nomear os administradores regionais das cidades?
Olha, pode até alguém fazer uma indicação. O que nós fizemos e vamos fazer? Em cada cidade, nós estabelecemos um plano de metas. O que eu vou fazer na cidade? Quais são as ações? Quanto é que custa? Em que prazo eu vou fazer? Vou colocar um administrador para executar o plano, não é para ele fazer o que ele quer. Se não der resultado, tem que substituir. Você tem um plano de metas primeiro mês, segundo mês, terceiro mês e não atingiu (o plano), é tchau e bença. Nós precisamos de política pública de estado. O que ela é? A continuidade. Aqui, em Brasília, tem um grave defeito. Cada governo que entra acaba com tudo. Esse atual (de Ibaneis), nós já estamos no quinto secretário de Educação; sétimo da Saúde; sexto Desenvolvimento Econômico; e terceiro da Agricultura. Como é que você faz política pública? Mudando secretário de seis e seis meses?
Os administradores estão culpando a pandemia.
Conversa. Nunca se repassou tanto recursos para os estados e municípios, além de Brasília, como na pandemia. Nós passamos R$ 3 bilhões para saúde e sequer tivemos a prestação de conta. Eu tive que entrar no Ministério Público para eles fazerem auditoria, e o resultado foi superfaturamento, direcionamento de licitação, tudo isso. Então, isso tem que acabar. Nós não podemos ser governados na base do improviso. Temos o atual (Ibaneis), um que já foi (Paulo Octávio) e têm outros candidatos, que são meus amigos, mas que não têm experiência para governar. Qualquer empresa, se não for bem administrada, quebra. Agora, imagina o estado, uma cidade, a capital do país. Brasília tem que ser referência nacional. Porque nós temos o maior número de recursos e de qualquer qualquer estado, de maneira proporcional. Nós temos os melhores profissionais. Agora é tudo analógico. Não tem controle de nada, não tem transparência de nada. Não tem política de habitação. As pessoas tem que morar em algum lugar. As pessoas precisam de dignidade. Ninguém quer viver de cesta básica.
Comente um pouco sobre a segurança no Distrito Federal...
Teve uma colocação que não deu aumento porque o Senado votou contra o aumento… de maneira nenhuma. Quando ele mandou (Jair Bolsonaro) a proposta de paridade da Polícia Civil com a Polícia Federal, nós aprovamos na comissão. Aprovamos, no Congresso, em três parcelas. Depois, levei na casa do governador e do presidente da República o plano da Polícia Militar, Corpo de Bombeiros para equiparar, porque acredito que a segurança pública precisa ter uma integração. Não podemos ter uma política para oficiais, outra para os praças; outra para os agentes; e delegados separados. Precisamos ter uma segurança única.
Você pretende unir as forças?
Não só pretendo, nós vamos fazer, como também integração de informações. E, quero dizer aqui para os policiais militares e policiais civis. O secretário de Segurança Pública do DF não será nenhum da Polícia Federal nem do Exército nem da Aeronáutica. Será exatamente um da Polícia Civil, Polícia Militar ou vice-versa. Nós vamos fazer um rodízio. Nos primeiros dois anos, um policial militar ou um policial civil e o outro adjunto e depois vamos inverter isso. A segurança tem que estar inclusive na formação.
*Estagiário sob a supervisão de José Carlos Vieira
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"O governo fez uma Refis agora para as empresas, diminuindo inclusive o principal. Por que não faz isso para os servidores?"