Nunca a célebre frase "política é como nuvem. Você olha e está de um jeito. Olha de novo e já mudou" fez tanto sentido na política do Distrito Federal. Nos dois últimos dias do cronograma eleitoral para a realização de convenções partidárias, candidaturas ao Palácio do Buriti estão ainda na beira da definição ou do recuo. E uma situação inusitada: o União Brasil que tem um dos candidatos mais competitivos para enfrentar o governador Ibaneis Rocha (MDB) ensaia mudar de lado e apoiar a reeleição.
Um acordo vem sendo costurado para uma aliança do União Brasil com o Republicanos que exclua a candidatura do senador José Antônio Reguffe ao Palácio do Buriti. O presidente regional do partido, Manoel Arruda, fez um gesto nessa quarta-feira (4/8) que sinaliza essa mudança de direção. Num encontro articulado pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, Manoel Arruda foi ao Palácio do Planalto declarar apoio oficial ao presidente Jair Bolsonaro.
Foi uma conversa que amarrou algumas pontas. O União Brasil vinha costurando uma aliança com o Republicanos, com a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves como candidata ao Senado. Faltava o aval de Bolsonaro, que saiu nessa quarta-feira (4/8).
Na conversa, Bolsonaro disse, segundo quem acompanhou as negociações, que referendaria a candidatura de Damares ao Senado, desde que não fosse na chapa encabeçada por Reguffe. O presidente não considera o senador brasiliense um aliado pela forma como conduziu o mandato e os votos no Senado em questões importantes contra o governo.
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Assim, União Brasil e Republicanos estão juntos. Há uma possibilidade de Manoel Arruda ser o suplente de Damares. Se Bolsonaro se reeleger e a ex-ministra conquistar o mandato, Manoel Arruda poderá assumir no Senado, com o retorno de Damares para a Esplanada dos Ministérios.
Falta agora sacramentar a aliança com Ibaneis. Essa é uma estratégia ainda a ser considerada. Só por inviabilizar a candidatura de Reguffe os dois partidos já estão dando uma ajuda e tanto para o projeto de reeleição de Ibaneis. Damares e os evangélicos do Republicanos pedirão votos para Ibaneis. Ao Correio, o governador disse na quarta-feira (4/8) que ainda não havia fechado com o União Brasil. "Até sexta, tudo é possível", completou.
Mas uma coligação formal pode criar mais problemas do que benefícios. É que Ibaneis já tem candidata ao Senado, Flávia Arruda (PL), e uma aliança que favoreça Damares Alves criará atritos com o PL. Embora o partido já esteja desconfiado da movimentação. Integrantes do partido acreditam que um jogo desfavorável a Flávia e ao ex-governador José Roberto Arruda está em curso.
Por isso, Arruda tem entrado em conflito com o ex-secretário de Ciência e Tecnologia Gillvan Máximo. Ele é do Republicanos, pré-candidato a deputado federal e um grande aliado de Ibaneis. Tem feito campanha pela candidatura de Damares.
Além dos acordos eleitorais, Ibaneis tem discutido com a cúpula nacional do União Brasil sobre uma participação no segundo mandato, em caso de vitória. Segundo políticos que têm acompanhado as tratativas, estão em discussões indicações para o BRB e para a Terracap, empresas importantes no organograma do governo do DF.
Resistência
Reguffe passou a quarta-feira (4/8) em conversas com aliados. Disse a vários políticos que vai resistir e cobrar um compromisso que lhe foi feito pelo presidente nacional do União Brasil, Luciano Bivar, de que sua candidatura ao Executivo era para valer. A conversa ocorreu quando Reguffe aceitou migrar do Podemos para o União Brasil no início do ano. Ele teria liberdade para montar a chapa e conduzir a campanha.
Mas integrantes do União Brasil reclamam de que ele não conseguiu montar uma nominata forte para federal, objetivo principal de todos os partidos.
O senador brasiliense permaneceu nessa quarta-feira (4/8) sem comentar publicamente as negociações de seu partido. Mas postou uma mensagem enigmática no Instagram: "O mundo não é dos espertos. É das pessoas honestas e verdadeiras. A esperteza um dia é descoberta e vira vergonha. A honestidade se transforma em exemplo para as próximas gerações. Uma corrompe a vida; a outra enobrece a alma".
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Julgamento será retomado hoje
O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) começou, nessa quarta-feira (4/8), a julgar em repercussão geral o processo que discute se as regras da nova Lei de Improbidade Administrativa devem retroagir para abranger os processos já em tramitação e com condenação.
Do resultado desse caso, depende a candidatura dos ex-governadores José Roberto Arruda (PL) e Agnelo Queiroz (PT). Ambos têm condenações por ato de improbidade administrativa que podem ser enquadradas nas novas regras da lei que entrou em vigor no ano passado, depois de ser sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro.
Na sessão dessa quarta-feira (4/8), foram apresentados os argumentos das partes, dos terceiros interessados e do procurador-geral da República, Augusto Aras, que é contrário a que a nova lei retroaja para beneficiar quem já tem condenação. O julgamento prossegue com o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes (foto), e dos demais integrantes do plenário.
O voto do ministro Alexandre de Moraes é uma incógnita. Para alguns, o magistrado é voto certo contra a retroatividade da nova Lei de Improbidade. Mas há apostas entre advogados de que ele vai defender o oposto. Ao iniciar o julgamento nessa quarta-feira (4/8), Moraes fez uma sinalização, ao criticar a antiga lei de improbidade, de que deve votar pela retroatividade.
Para alguns advogados, há uma chance de algum ministro pedir vistas no julgamento se a tendência em plenário for pela rejeição à tese de que a lei benéfica pode retroagir para atingir quem já está condenado em ações de improbidade administrativa, que são da esfera cível.
Decisões pendentes
Reguffe e o União Brasil
A convenção do União Brasil está marcada para ocorrer nesta quinta-feira (4/8), às 18h30, no Clube da Saúde. O partido precisa decidir se vai lançar candidatura própria, encabeçada pelo senador José Antônio Reguffe, ou se vai aprovar uma coligação. O presidente do partido no DF, Manoel Arruda, tem conversado com o governador Ibaneis Rocha (MDB) e a legenda pode apoiar a reeleição, sem Reguffe na chapa.
Leila Barros e o PDT
A convenção do PDT, marcada para esta quinta-feira (4/8), às 19h30, na sede nacional do partido, deve confirmar a candidatura da senadora Leila Barros ao Governo do Distrito Federal. Dirigentes do partido, no entanto, ainda discutem possível aliança. O ex-deputado Joe Valle deve ser o vice.
Paulo Octávio e o PSD
O empresário Paulo Octávio comanda regionalmente o PSD e tem o apoio nacional para levar o partido para qualquer projeto político no Distrito Federal. Ele decidiu concorrer ao Palácio do Buriti, o que deve ser oficializado na convenção marcada para ocorrer nesta sexta-feira (5/8), às 14h, no Brasília Palace Hotel.
Izalci Lucas e PSDB-Cidadania
A executiva nacional da federação PSDB-Cidadania marcou para esta quinta-feira (4/8), às 10h, de forma virtual, a convenção que vai sacramentar a decisão de lançar o senador Izalci Lucas como candidato ao Governo do DF. Mas a deputada Paula Belmonte, vice-presidente regional da federação, promoveu uma convenção na data que havia sido marcada anteriormente, no último domingo (31/7), e se lançou candidata a cargo majoritário, como governadora, vice ou Senado. O embate vai para a Justiça. Mas a federação vai registrar a candidatura de Izalci.
Damares e o Republicanos
O Republicanos fará a convenção na sexta-feira (5/8), às 10h, e anunciará apenas no evento o projeto definido pelo partido para a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves. Segundo integrantes do Republicanos, ela deve concorrer em chapa avulsa e pedirá votos para o governador Ibaneis Rocha (MDB).