O juiz Manoel Franklin Fonseca Carneiro, da 1ª Vara Criminal do Gama, decidiu devolver o aparelho celular e um boné de Gabriel Ribeiro de Moura, amigo de Pedro Henrique dos Santos Krambeck Lehmkuhl, mordido por uma naja kaouthia em 9 de julho de 2021. Os itens foram apreendidos no âmbito da Operação Snake, conduzida pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama). O caso ganhou repercussão nacional.
O pedido de restituição dos acessórios foi apresentado pela defesa de Gabriel. Ao analisar o caso, o magistrado da Vara Criminal esclareceu que o aparelho celular dele, um Samsung J7 Prime, já havia sido periciado e, por isso, não interessaria mais ao processo e poderia ser devolvido. Os bens foram apreendidos quando estavam em posse de Gabriel.
“Assim, tendo em vista não haver dúvida quanto à propriedade dos bens e considerando que eles não interessam ao processo, defiro o pedido e determino a restituição”, disse o magistrado, na decisão. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) também deferiu parecer favorável à devolução dos itens.
"Não trafiquei animais"
Por mais de 20 minutos, Pedro Henrique Krambeck Lehmkuhl, 24 anos, se defendeu e negou que nunca teve intenção de comercializar serpentes. As declarações foram dadas na última audiência de instrução, que ocorreu em 31 de maio. Ao juiz, Krambeck colocou sobre si todas as atribuições e responsabilidades com as cobras. Além de Pedro e Gabriel, são réus no processo a advogada Rose Meire dos Santos (mãe de Pedro) e o tenente-coronel Clóvis Eduardo Condi (padrasto de Pedro).
“Em determinados manejos, precisava de ajuda. E o Gabriel era essa minha ajuda, o amigo que eu confiava. Imagina se quero mexer numa naja? Eu preciso de alguém que saiba conter aquele animal e essa pessoa era o Gabriel. Por isso acredito que ele tenha me ajudado a retirar os animais, porque ficava implícito na nossa amizade que ele poderia me ajudar em qualquer circunstância acerca dos animais. Mas os animais eram meus, o sonho era meu, a responsabilidade era minha e quem quis ter foi eu”, pontuou. (veja outros trechos do interrogatório).
Incidente
A ajuda de retirar os animais que Gabriel teria oferecido, segundo Pedro, diz respeito ao dia em que o jovem foi picado pela naja. Na noite, Gabriel recolheu cobras que estavam no local e as distribuiu entre outros endereços, incluindo a naja. No dia seguinte, em 8 de julho, o rapaz deixou a cobra perto de um shopping no Lago Sul e o animal foi recolhido por uma equipe do Batalhão de Polícia Militar Ambiental. Ao longo das investigações, os policiais recolheram ao menos 22 serpentes, todas ligadas a Pedro.
Em sua fala, Pedro contou detalhes do dia do incidente. Krambeck relata que estava fazendo práticas rotineiras de limpeza com a naja, quando foi picado. “Até hoje não consegui entender por que ela me mordeu. Como conhecedor e pesquisador, eu sabia do risco que a naja tinha, e quando ela me mordeu, pensei: ‘Isso é um sonho, não é possível que eu fui mordido’. Ela me mordeu e eu soltei ela no chão e assim que vi ela no chão, guardei, tranquei, corri para o banheiro e disse para a minha mãe correr para a casa, que eu precisava de uma UTI. [...] Ainda pedi a ela que, se eu ficasse vegetal, era para desligar os aparelhos”, afirmou.
Com necrose no braço e lesões no coração, o estudante acordou do coma dois dias depois. O tratamento dele contou com um soro antiofídico produzido com o veneno da naja kaouthia, trazido ao Distrito Federal diretamente do Instituto Butantan, em São Paulo. Havia uma única dose disponível na instituição paulista. A criação dessa espécie no Brasil é proibida por lei. Após o caso, o laboratório importou 10 doses para estoque dos Estados Unidos.
Ao longo de dois anos, Pedro descreve a sensação em ser julgado pela sociedade como um traficante internacional e fala sobre como lida com a situação. “Não é prazeroso. As pessoas me olham torto. Já fui parado nas ruas muitas vezes, mas vejo algo benéfico no fim das contas. Tem gente que vem com duas facas na mão para me pegar, e quando ficam cinco minutos conversando comigo, podem ter suas próprias conclusões que não sou esse monstro que criaram”, disse, em depoimento.
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