Acabou em ocorrência policial a disputa entre o senador Izalci Lucas (PSDB-DF) e a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF) pelo controle dos rumos da federação PSDB-Cidadania nas eleições do Distrito Federal. Izalci teve uma vitória por 13 votos a seis e conseguiu confirmar a candidatura ao Palácio do Buriti, contrariando o projeto de Paula Belmonte de se unir ao União Brasil na chapa a ser encabeçada pelo senador José Antônio Reguffe ao governo. Mas o resultado provocou uma crise.
Durante a reunião, Paula Belmonte, ao perceber que seria derrotada, ficou muito nervosa. Chorou e pediu "compaixão" ao presidente da federação, o deputado Bruno Araújo (PSDB-BA), mas o encaminhamento já era pela vitória do senador tucano. Izalci recebeu até o voto de uma senadora do Cidadania, Eliziane Gama (MA).
No fim da reunião, Paula saiu para gravar uma live em que reclamava de "violência política contra a mulher", e integrantes do PSDB contestaram. Marido da deputada, o advogado Felipe Belmonte, que é presidente do PSC-DF, saiu em defesa dela e gritou.
A presidente do PSDB Mulher, Andreia Moura, registrou uma ocorrência policial na Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), em que disse ter sido agredida verbalmente. "No fim da reunião, o senhor Felipe Belmonte chegou aos berros, gritando, chamando todos de covardes, canalhas, insistindo que a mulher dele gravasse um vídeo mentindo que estava sendo vítima de violência política", disse Andreia.
Paula Belmonte deixou a reunião abalada e, em lágrimas, postou uma mensagem nas redes sociais em que chamou de "atrocidade" a decisão da federação nacional do PSDB-Cidadania. Antes mesmo da reunião, o Cidadania Mulher havia divulgado carta aberta denunciando uma suposta violência política contra Paula Belmonte, que preside o partido no DF.
O documento, endereçado a Bruno Araújo, critica a forma como a direção nacional está conduzindo as negociações em torno das chapas majoritárias no Distrito Federal. O grupo político da deputada alega que ela reuniu partidos em uma aliança e demonstrou viabilidade política superior à do senador Izalci, que ainda não tem nenhuma legenda para fechar uma coligação.
Ao Correio, Izalci afirmou que esse embate, que já dura meses, atrapalhou a construção de alianças, mas, agora, ele poderá se reunir com representantes de partidos e oferecer espaço na chapa. "A decisão da direção nacional da federação me permitirá estabelecer as negociações necessárias para fazer uma coligação vitoriosa. Em nome da federação e com a legitimidade concedida a mim pela direção nacional, poderei articular com todos aqueles que querem derrotar o atual governador", disse o senador tucano.
Adiamento
A discussão da reunião de ontem girou entre decidir pela candidatura de Izalci ao governo do DF ou adiar uma deliberação. Paula Belmonte afirmava que havia construído uma frente de partidos que possibilitariam uma vitória contra o governador Ibaneis Rocha (MDB).
O candidato ao Palácio do Buriti seria o senador José Antônio Reguffe (União). De acordo com esses planos, Paula poderia ser a vice ou candidata ao Senado.
Mas Bruno Araújo conduziu a reunião em torno de uma conclusão pela candidatura de Izalci. Ele chegou a desmentir Paula sobre ter conversado com o presidente nacional em exercício do União Brasil, Antônio Rueda, sobre uma possível aliança em prol da candidatura de Reguffe.
No fim, Paula conseguiu seis votos a favor dela, mas foi derrotada. O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, disse que o partido foi atropelado pela executiva nacional da federação.
É que, pelo estatuto da federação PSDB-Cidadania, a formação da executiva regional daria vantagem a Paula Belmonte. O Cidadania tem maioria para aprovar qualquer deliberação. Houve, então, uma intervenção e, segundo integrantes do PSDB, o próximo passo, agora, será a destituição da executiva regional.
A convenção regional está marcada para domingo, mas, até lá, os advogados de Paula Belmonte vão recorrer à Justiça para tentar alterar o resultado. Eles aguardam a ata da reunião de ontem para definir os mecanismos legais para tentar mudar o quadro. Izalci também não pretende ceder.
Articulação
Para não ser candidato com chapa pura, Izalci terá de correr contra o tempo. Ibaneis tem ao lado dele a maioria dos partidos da centro-direita. Reguffe tem assegurado que pretende concorrer ao Palácio do Buriti pelo União Brasil, com apoio do Podemos e do Novo.
A esquerda também confirmou, em convenção, as candidaturas de Leandro Grass, pela federação PT-PV-PCdoB, e de Keka Bagno, nome da federação PSol-Rede.
Ainda estão indefinidos o Republicanos, que ficou sem rumo desde que a ex-ministra da Família, Mulher e Direitos Humanos Damares Alves foi excluída da chapa de Ibaneis, e o PSD, presidido no DF pelo empresário Paulo Octávio, que pretende concorrer ao Senado.
Izalci disse que tem intenção de convencer Reguffe a ser o candidato ao Senado da chapa, mas, na convenção do Novo, o senador do União Brasil sinalizou que o advogado Paulo Roque será o aliado dele como o nome para o Senado.