Muito já se escreveu sobre insegurança social intersubjetiva defasada da existência real de perigos. Há até um nome nas ciências sociais e psicológicas que se dá a esta insegurança intersubjetiva distante da insegurança real. É a "cultura do medo" (Glassner, 2003). Se examinarmos o número de ocorrências policiais registradas segundo a Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP/DF) em dados divulgados pelo Correio Braziliense em 12/05/22, poder-se-ia supor que o atual crescimento da sensação de insegurança intersubjetiva fosse derivada de uma "cultura do medo" já que o aumento de ocorrências registradas entre 2021 e 2022 foi pequeno.
O meu entendimento é que cresce a insegurança real. Analisemos o comportamento das vítimas após serem submetidas a furtos, roubos, assaltos, assédios sexuais e agressões físicas. As vítimas, quando pensam recorrer à polícia, esperam: reaver o objeto furtado ou roubado; ver identificada e investigada a pessoa que assaltou, que furtou ou que assediou ou a agrediu fisicamente; ver a presença constante do policiamento ostensivo e conseguir que a polícia responda imediatamente ao seu chamado.
O sistema de segurança aconselha e insiste em que as vítimas façam as ocorrências. Permitirão planejar a localização daqueles lugares de maior risco para aí fazerem as rondas do policiamento ostensivo e auxiliar na identificação dos agressores. Há portanto defasagem de expectativas: de um lado o planejamento geral, de outro, a resposta imediata. O resultado é a subnotificação de ocorrências.
O "Plano Piloto" de Brasília, tão bem expresso nas suas duas Asas Sul e Norte, com seus pilotis abertos, permite a convivência e circulação intensa de moradores, trabalhadores, comerciantes e estudantes. Além da política pública de segurança, precisamos de política de desenvolvimento social e de política de iluminação pública. A percepção social intersubjetiva responde assim ao aumento dos assaltos a pedestres, a estudantes, a trabalhadores e, em especial, às mulheres vistas como mais vulneráveis e assediáveis.