ENTREVISTA / Rosilene Corrêa, pré-candidata ao Senado pela federação PT-PV-PCdoB

DF não é mais 'ilha da fantasia'

Para a petista, senadores precisam de mais intimidade com a população, pois cenário distrital é similar ao visto no restante do país

Na disputa pela vaga que se abrirá neste ano na bancada do Distrito Federal no Senado, a pré-candidata Rosilene Corrêa (PT) avaliou a concorrência e a configuração do cenário eleitoral na capital do país. Escolhida pela federação PT-PV-PCdoB, a ex-diretora do Sindicato dos Professores afirmou que o DF enfrenta problemas semelhantes aos do restante do país, o que demanda proximidade dos senadores eleitos com a realidade da população. Confira os principais trechos da entrevista da petista ao jornalista Carlos Alexandre de Souza, ontem, no programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília.

O que a senhora vai propor com sua candidatura ao Senado?

Primeiro, que precisamos olhar para o Distrito Federal com o olhar que estamos vendo todo o país, porque as condições não são diferentes no resto do Brasil. Acredito que, de imediato, é preciso olhar o cenário tendo mais intimidade com o eleitor, com a população do DF. Existe, hoje, um distanciamento do Senado da população. Não se pode entender que o DF é uma "ilha da fantasia", porque isso acabou há muito tempo. Temos falta de emprego, desigualdade, fome, saúde — que está pedindo socorro. Percebo que as pessoas não sabem o que é o Senado, porque a ação dos três ocupantes das cadeiras (de senador pelo Distrito Federal) é distante da população. Meu papel será fazer com que a vida delas melhore.

A senhora citou que os problemas do DF são os problemas do Brasil. Quais são os maiores deles hoje?

Por onde andamos, vemos pessoas passando fome e famílias inteiras abandonadas, nas ruas. O governo diz que (o DF) está muito bem, mas não é verdade. Vemos sempre filas nos CRASs (Centros de Referência de Assistência Social), onde diversas famílias ficam dias para serem credenciadas — o que sequer significa que elas serão atendidas. A Saúde pede socorro, e o próprio governador não permitiu que (a Câmara Legislativa) abrisse uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigá-la. Se não permite, é porque tem algum temor. A Educação não tem qualquer investimento. Ao contrário: vemos a militarização como alternativa de tentar enganar as pessoas. O que precisamos é combater a violência lá fora, porque não são as escolas que a produzem. Precisamos de policiais nas ruas, não dentro de escolas. Existe uma inversão de políticas.

A chapa do governador Ibaneis Rocha é um grupo que está em evidência e quer mostrar ao eleitorado que pretende continuar no poder. Como a senhora vê isso?

A chapa apresentada é a manutenção da política que temos hoje, e tenho certeza de que a população vai reagir a isso, porque não tem ninguém — a não ser a minoria da minoria, os muito ricos — sendo beneficiado por esse modelo. Dos demais, estamos todos sendo atacados, retirados de nossos direitos. Esse grupo que se apresenta é o que aprovou as reformas da Previdência e trabalhista, a qual gerou desemprego e fome. Mais de 670 mil pessoas morreram vítimas da covid-19 por falta de cuidados, de providências não tomadas. Só no DF, foram só 11 mil mortes, e grande parte delas poderiam ser evitadas. É só lembrarmos das filas de pessoas na UTI (unidade de terapia intensiva). Essa chapa política apresentada ontem (terça-feira) é da manutenção do que temos hoje.

O presidente Lula deu entrevista ao Correio na última semana e esteve na capital federal. Como estão as conversas com ele sobre o DF? O que vocês pretendem para chamar a atenção do eleitorado?

Além do DF, temos o Entorno, que é uma preocupação. Uma preocupação dele, que se comprometeu, assim que tomar posse, a fazer imediatamente uma reunião com os governadores dos estados (da região), para que pensemos nesses problemas. Temos o Fundo Constitucional (do Distrito Federal), que é algo de que não se pode abrir mão, e, de vez em quando, temos algumas ameaças de alteração nessas regras (de repasse da União).

No cenário para o Senado, seu foco nas eleições, temos uma candidata que desponta como favorita. Mas a senhora disse que a corrida eleitoral não começou…

As pesquisas servem, neste momento, para direcionar onde precisamos atuar, mas não determinar o resultado do processo eleitoral. Em 2018, em agosto, Ibaneis (Rocha) tinha 7% dos votos, e a Eliane Pedrosa liderava as pesquisas (de intenção de voto) para governador. É muito cedo (para dizer), porque não começou o jogo eleitoral. A chapa apresentada, com a possível pré-candidata (ao Senado, Flávia Arruda), é prova viva de que assina embaixo pela continuidade e pelo aprofundamento do modelo de política que temos hoje e que é negativo. Voltando à pesquisa: temos de colocar quem é quem e de onde sai (o candidato). Sou uma sindicalista, deixei o Sinpro (Sindicato dos Professores), mas minha atuação e militância na Educação são para um público restrito. Não tenho mandato parlamentar, não tenho dinheiro para fazer propaganda e não tive propaganda do partido na televisão. A visibilidade é bem limitada e, há poucos dias, definimos minha pré-candidatura. Quando se vai para a (questão da) rejeição, é preciso trazer isso à tona, logo que a minha é baixíssima. Temos um cenário muito incerto. O jogo ainda não começou, os times (estão) se organizando.

*Estagiário sob a supervisão de Jéssica Eufrásio