Mais uma reviravolta na campanha do Distrito Federal: os dois candidatos que lideram as intenções de votos na disputa ao Palácio do Buriti, o governador Ibaneis Rocha (MDB) e o ex-governador José Roberto Arruda (PL), decidiram seguir juntos nas eleições deste ano. Os dois rivais vão evitar um embate que poderia ser sangrento, com o racha em um grupo que estava unido, e juntaram forças em nome de interesses políticos.
Ibaneis será candidato à reeleição com uma coligação ampla. Arruda concorrerá a um mandato de deputado federal, com cacife de campanha ao governo. Ao retirar o possível projeto ao Executivo, Arruda conseguiu recolocar a mulher, a deputada Flávia Arruda (PL-DF), na condição de única candidatura da chapa de Ibaneis ao Senado. Lançada por Ibaneis como aliada na corrida ao mandato de oito anos, a ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos Damares Alves (Republicanos) não será candidata ao Senado.
Damares tem duas opções: concorrer como deputada federal ou retornar ao governo Bolsonaro como ministra. A segunda opção é a mais provável. Ela poderá fazer campanha pelo país pela reeleição de Bolsonaro ao lado da primeira-dama, Michele Bolsonaro, de quem é muito próxima.
Na condição de candidata à Câmara, Damares poderia tumultuar a chapa de deputados federais do Republicanos, que hoje conta com nomes como o deputado federal Júlio César Ribeiro, que concorre à reeleição, ou o ex-secretário de Ciência e Tecnologia Gilvan Máximo.
A deputada federal Celina Leão (PP-DF) manteve-se como o nome para disputar como vice na chapa de Ibaneis. Ela foi uma das principais articuladoras da reação de Ibaneis ao crescimento de Arruda, quando costurou, ao lado do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, a formação de uma chapa em que Arruda ficaria sem dois importantes partidos da base bolsonarista na eventualidade de concorrer ao GDF.
O acordo foi selado com a chancela de Jair Bolsonaro. O presidente se reuniu com Arruda ontem à tarde que fez um relato da situação atual dos partidos no Distrito Federal divididos entre as duas candidaturas. Depois da explanação, Bolsonaro chamou no Planalto o governador Ibaneis Rocha, a deputada Flávia Arruda e Damares.
Lá, abençoou a aliança. Damares assegurou que seu líder é Bolsonaro e atenderia qualquer apelo que partisse da Presidência. Ibaneis e Arruda toparam a união dos projetos. Agora o governador e a deputada Flávia Arruda deverão se sentar para montar conjuntamente um programa de governo em torno de 10 metas, com contribuições da gestão Arruda. "Foi o melhor para a cidade e para o Brasil", disse Ibaneis ao Correio. E acrescentou: "Foi um gesto de grandeza do governador Arruda e da Damares em favor a união."
Na foto final, todos pareciam sintonizados e falando a mesma língua. "O governador Ibaneis se comprometeu a apoiar o presidente em Brasília. Com isso, as candidaturas naturais são a reeleição do governador Ibaneis e a candidatura da Flávia ao Senado. E, como eu estou voltando para a vida pública, e volto com muita humildade, vou disputar, se for possível, a cadeira na Câmara Federal", afirmou Arruda. "Se houver um percalço, que espero que não haja, eu não prejudicarei a aliança maior que é entre os dois — Ibaneis e Flávia — e esta está selada com meu apoio", acrescentou.
Há semanas, Arruda vinha conversando com Ibaneis e interlocutores sobre uma possível aliança. Mas também sinalizava a vontade de concorrer a um novo mandato ao governo desde que obteve uma liminar do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Martins, que lhe devolveu os direitos políticos.
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Para evitar confronto
A união, como em todo acordo, atende a interesses dos dois lados. Um cenário em que Ibaneis e Arruda disputassem as eleições representaria um risco para ambos. Segundo Pesquisa Quaest, divulgada pelo Correio no último domingo, eles estavam tecnicamente empatados, tendo Ibaneis, com 28% das intenções de votos, e Arruda, com 25%. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos.
O racha também poderia facilitar o crescimento de um concorrente de esquerda ao Senado. Com a divisão, se Arruda disputasse o governo, Flávia Arruda dificilmente concorreria ao Senado. É que uma campanha de governador precisa buscar aliados para compor a chapa majoritária. Arruda teria de abrir espaço para composições políticas. Mesmo como favorita, Flavia seria levada a buscar um mandato de deputada federal. Agora ela pode perder, mas começa a campanha como favorita.
Atrapalhar a candidatura de Flávia seria também um desgaste familiar, para o casal que tem duas filhas. Para o presidente Jair Bolsonaro, seria ruim porque o Palácio do Planalto impulsionar a eleição de um senador de oposição. Novata na política, Damares poderia perder a eleição ao Senado por algum candidato mais conhecido.
No caso de Ibaneis, o problema seria prosseguir na disputa ao lado de Damares, contra Arruda e Flávia Arruda, nomes que contariam com o apoio de Bolsonaro. Sem contar os outros candidatos da base do ex-presidente Lula, o deputado distrital Leandro Grass (PV), da federação PT-PV-PCdoB, além de Rafael Parente (PSB) e Keka Bagno, da federação PSol-Rede Sustentabilidade. Ibaneis vai enfrentar ainda os senadores José Antônio Reguffe (União), Leila Barros (PDT) e Izalci Lucas (PSDB).
Arruda disse ao Correio que o acordo fortalece o palanque de Bolsonaro no DF. "No plano nacional, foi uma boa composição política. A Flávia foi ministra do presidente Bolsonaro e não poderíamos permitir a desunião da base dele no DF. No campo local, há alguns ajustes. Mas foi positivo", afirmou o ex-governador.