Jornal Correio Braziliense

Três perguntas para...

Carla Pintas, professora do curso de Saúde Coletiva da Universidade de Brasília (UnB)

Como funciona a farmácia de alto custo?
É importante entender que os medicamentos de alto custo são aqueles que têm um valor alto, com tecnologia diferenciada e destinados a patologias específicas, muitas vezes raras, que são disponibilizados pelo SUS. Cada estado é responsável por sua lista de pacientes que fazem uso desses medicamentos, sendo que alguns são adquiridos pelo Ministério da Saúde e outros pela Secretaria de Saúde. Hoje, temos algumas farmácias que disponibilizam esses medicamentos no DF, mas o paciente tem que estar cadastrado e tem que ter indicação clínica. Isso porque não é um medicamento que você encontra em qualquer farmácia ou adquire facilmente.

Quais melhorias precisam ser feitas?
A farmácia de alto custo conta com um farmacêutico que faz uma anamnese para o paciente e explica como se deve usar a medicação e quais os efeitos colaterais. No entanto, verificamos uma insuficiência desses profissionais, o que causa um prejuízo ao paciente, porque ele não tem esse reforço de orientação. Muitas vezes também há uma dificuldade no acesso desses medicamentos, pela falta do insumo ou da dosagem adequada. A questão é que grande parte dos pacientes vai fazer uso da medicação para o resto da vida, então é possível fazer uma previsão de compra para impedir a falta do medicamento. Essas medicações são adquiridas por licitações, que é um processo demorado, por isso o planejamento deve ser feito para impedir esse delay (atraso) entre a falta do medicamento e o começo do processo de compra. Até porque o laboratório não produz esses medicamentos de forma rotineira como uma dipirona, por exemplo, e muitas vezes, apenas um laboratório fabrica determinado fármaco.

Quais as consequências desse desabastecimento?
Para os pacientes continuarem bem, eles precisam do tratamento. Um paciente que faz uso de medicamento pós-transplante, precisa que ele esteja disponível no tempo exato. Por isso, a compra deve ser em uma quantidade um pouco maior da habitual, com uma reserva técnica mínima. Por isso é tão necessário uma agilidade nesse processo (de compra) e não esperar que acabe o medicamento para adquirir novas unidades. Vale lembrar que nos últimos tempos, em função da pandemia, houve uma diminuição dos insumos por parte dos laboratórios farmacêuticos, o que causa ainda mais atrasos, e exige um planejamento mais cuidadoso.