Caro leitor, peço licença para me alienar pelo menos por alguns instantes. Confesso que fico um pouco cansado dos embates da intolerância, da ignorância e do negacionismo. Senti vontade de respirar outra atmosfera. Quando pensava nisso, caiu-me às mãos o livro Faíscas verbais, a genialidade na ponta da língua, de Márcio Bueno (Ed. Autêntica). As histórias são deliciosas e o autor mora em Brasília. Vamos a elas.
— Uma emissora de tevê resolveu gravar um programa especial sobre Chico Buarque. No roteiro, constava um encontro entre o compositor e o craque Pelé no campo de Chico, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. A certa altura, Pelé pergunta quantos gols já havia marcado pelo Polyteama, o famoso time de Chico. E a resposta: "Não sei... Depois do milésimo, parei de contar".
— Certo dia, o jornalista Joel Silveira participava de um debate com estudantes universitários, quando um deles perguntou por que não havia golpe de Estado nos Estados Unidos. Enganou-se quem imaginava que ele responderia com o argumento de ser um país evoluído, com instituições mais sólidas ou educação de qualidade: "É porque lá não existe embaixada americana".
— Ao ser entrevistado pelo ator Paulo César Pereio, em um programa de televisão, o humorista Jaguar, uma das estrelas do jornal O Pasquim e autor do livro Confesso que bebi, foi interpelado: "Afinal, por que bebes tanto assim, meu rapaz?!". À queima-roupa, Jaguar replicou: "Ora, eu bebo porque é líquido. Se fosse sólido, eu comia".
— Tom Jobim apreciava muito Nova York, viajava para lá a passeio ou por razões profissionais. Certo dia, alguém lhe perguntou qual era a melhor cidade para se viver, Rio ou Nova York. Tom retrucou com humor: "Nova York é uma maravilha, mas é uma merda. O Rio é uma merda, mas é uma maravilha".
— Inspirado na lista "As 10 mulheres mais bem-vestidas do ano", elaborada por um colunista social, Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, concebeu o concurso "As 10 mulheres mais bem despidas do ano". Foi um sucesso estrondoso e ele adotou o título "As certinhas do lalau'". Pontepreta participava do Jornal de Vanguarda e, a certa altura, o locutor Luiz Jatobá provocou: "Sérgio, chegou ao Rio um fotógrafo inglês muito famoso. Dizem que neste ano é ele quem vai escolher as 'Certinhas'. E aí, como é que fica? E a resposta do Stanislaw: "Não estou nem um pouco preocupado porque inglês não entende nada de mulher. Prova disso é que sempre se casa com uma inglesa".
— Em 1986, a Seleção Brasileira deu um baile na Iugoslávia no Estádio do Arruda, no Recife, vencendo por 4x2, com show particular do craque Zico. Ao se encerrar a partida, o locutor Waldir Amaral, da Rádio Globo, passou a palavra para o jornalista João Saldanha, pedindo o máximo de brevidade, pois logo em seguida entraria no ar o programa A voz do Brasil. Saldanha atendeu plenamente o pedido, com um comentário de 30 segundos: "Olha, meus amigos, o Brasil venceu por que o Zico se chama Zico. Se ele se chamasse Zicovic, ganharia a Iugoslávia."