Em fila indiana, os estudantes do Centro de Ensino Médio (CEM) de Taguatinga Norte se organizam na Trilha Ecológica do Jardim Botânico para conhecer as fitofisionomias do cerrado. As árvores tortuosas do cerradão são as primeiras a receber os 39 alunos do 1º ano do ensino médio. A visita é uma iniciativa do Projeto Cerrado Vivo, em execução há mais de 20 anos e idealizado pela professora Edijane Amaral, com o objetivo de ensinar na prática o que é aprendido em sala de aula. A reportagem do Correio, na última terça-feira (28/6), também viveu essa experiência e acompanhou a escola durante os quase 4km de trilhas feitas ao longo da manhã.
Familiarizada com o percurso, Edijane é quem lidera o caminho e indica as curiosidades encontradas em cada parada: as adaptações das plantas para o solo ácido, típico do cerrado; os cupinzeiros e a importância dos insetos, junto com as formigas, no papel de decompositores. A vegetação se transforma e a professora de geografia indica as novas fitofisionomias do bioma: do cerradão para o cerrado típico; do campo sujo para o campo limpo; da mata de galeria para o cerrado denso, por exemplo.
Saiba Mais
Edijane conta que o Projeto Cerrado Vivo nasceu do desejo de dar aos alunos a oportunidade de ter um contato mais próximo com a natureza. Assim, em 2020, o trabalho ficou entre os 50 finalistas do país no Prêmio Educador Nota 10. "A maioria dos alunos nunca sequer veio ao Jardim Botânico. Como vimos, apenas um deles já tinha visitado. Além disso, depois que fazemos a trilha, eles ficam mais atentos à conscientização e começam a identificar espécimes no dia a dia. Quando chegam à sala de aula estão super empolgados porque encontraram, por exemplo, alguma planta que vimos aqui na casa de algum familiar que visitou nas férias", detalha. A professora afirma que os alunos começam a se importar, também, com a defesa do ecossistema. "Quando tem alguma queimada, eles ficam super chateados. Eles se despertam para a importância da preservação", diz.
A educadora defende, também, a experiência que o passeio proporciona. "Durante a trilha, eles apresentam o que aprendem, trabalham o conteúdo da sala de aula, mas o que verdadeiramente marca é a experiência de beber água na fonte, de tocar nas plantas e sentir a textura, de ver as mudanças que acontecem nas características. Isso é algo que eles guardam e compartilham juntos, e é levado para a vida", opina.
Conscientização
Divididos em grupos, os estudantes recebiam, em cada parada, explicações sobre vegetações próprias. Além das informações, eles puderam sentir as transições de bioma: das temperaturas amenas do cerradão, de 26ºC, passando para o cerrado típico, com temperatura de 28ºC e queda da umidade relativa do ar, até o campo sujo, com 32ºC. A cor do solo foi outro detalhe que chamou a atenção dos alunos. Professora de Química e colaboradora do Projeto, Gabriela Pereira da Silva, explica o motivo da variação. "No cerradão o solo é vermelho vivo devido a alta presença de ferro e de oxigênio, no entanto, mais para frente veremos ele ficar em tons amarelos, depois o solo fica até mesmo cinzento, com outras características", salienta.
Para o estudante de 15 anos, Paulo Henrique Liberal, visitar o Jardim Botânico foi algo único. "Já tinha vindo uma vez aqui, mas nunca tinha feito a trilha. Desse jeito vemos a importância e a riqueza que temos e o porquê devemos proteger", afirma. Paulo já pensa no futuro e enxerga os benefícios da visita. "Diversos conteúdos do cerrado costumam cair no PAS (Processo Seletivo de Avaliação Seriada) e também no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), então vai ser positivo".
Maria Souza, 15, de cara se interessou pela temática do estudo dos biomas. "Desde o início estava muito interessada na disciplina. Agora, com a oportunidade de vivenciar tudo que foi dito em sala de aula presencialmente, ver as características da vegetação de um lugar ficando mais seco, a temperatura mais quente, isso é muito legal", comenta.
Sensorial
Durante o trajeto, os alunos tiveram a oportunidade de tocar na maciez característica da folha de pequi, sentir a umidade e o frescor próximo de umas das nascentes do Córrego Cabeça de Veado, além de aspirar o cheiro produzido pelo Breu, árvore típica. Felipe Sousa Pereira, 16 anos, diz que ficou encantado com o contato direto com a natureza. "Isso ainda ajuda a gente a aprender na prática o conteúdo da sala de aula, juntar a teoria e a prática", constata.
Maria Eduarda Gonçalves, 15 anos, concorda e diz que aprender de perto é diferente. "A gente conseguiu ver coisas que não tem como ver nas escola, como a mudança da vegetação, ou da temperatura aumentando quando as árvores iam ficando mais abertas", diz. Além da trilha, os alunos visitaram o acervo de animais do Jardim Botânico durante o período da tarde, um dos grandes interesses de Alex Paz, 17 anos. "O que mais gostei é das árvores e os bichos e os animais", disse comemorando a chegada ao destino.