Saúde e educação estão na lista de prioridades da candidata da Federação pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSol) e Rede Sustentabilidade (Rede), Keka Bagno. Ela garantiu que, caso seja eleita para governar o Distrito Federal, fará mudanças radicais nessas duas áreas. Em entrevista à jornalista Ana Maria Campos, ela avaliou que a privatização dos Hospitais de Base e Hospital de Santa Maria, além das 13 unidades de pronto atendimento (UPAs) por meio do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde (Iges-DF) não obtiveram uma resposta positiva.
Segundo Keka, houve aprofundamento da crise que se instalou nos atendimentos da gestão Ibaneis Rocha. A candidata ao Palácio do Buriti alerta para a falta de transparência do Iges, atrelado ao péssimo serviço que é oferecido.
Em relação à educação, defendeu o fim das escolas militarizadas. Para coibir a violência nas redes de ensino do DF, outros caminhos são mais acessíveis, em sua avaliação. "As escolas militarizadas não trazem segurança", disse, ontem, ao programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília.
Como a senhora vai dar largada na sua campanha?
A nossa pré-campanha iniciou em 5 de março, quando o PSol decidiu pelo nosso nome. Desde então, temos percorrido várias cidades — Ceilândia, Planaltina, Brasília, Fercal e Guará — para entender as demandas de cada região. A partir disso, iniciamos a construção do nosso projeto, que intitulamos como Programa Movimento, que envolveu mais de 90 pessoas na sua criação. Na equipe, estavam pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) como, também, pessoas usuárias de serviços oferecidos pelo governo. A partir desse programa, compreendemos que o Distrito Federal tem uma população que está em situação de fome e miséria. As políticas públicas, principalmente da saúde, da educação e da assistência vivenciam uma precarização nunca vista. Com isso, trazemos uma macroproposta que é o programa Renda Básica Cidadã. Um programa permanente para erradicar a fome no DF e fazer a economia girar, possibilitando, também, a entrada de pessoas no mercado de trabalho.
A senhora acha possível que o Lula ganhe do Bolsonaro no DF?
Sim, principalmente com os movimentos sociais de moradia, reforma agrária, movimentos negros, movimentos de mulheres. Conseguimos sentir que, hoje, existe uma unidade e convergência na política para derrotar esse projeto bolsonarista que é implementado nas instituições públicas, assim como nos parlamentos e na Presidência da República. As pesquisas têm mostrado como o Lula tem avançado no DF. Isso porque os nossos partidos da esquerda, os partidos progressistas fecharam uma coligação nacional em apoio ao presidente Lula. Isso é uma responsabilidade histórica.
Acredita que a saúde, hoje, é o principal problema do DF, juntamente da miséria e da fome?
Temos analisado três grandes situações no DF. Uma é a da fome e da miséria. Quem tem fome, tem pressa. Falamos de insegurança alimentar, que significa que as pessoas não têm o que comer. Enquanto trabalhadora da ponta, escutamos nos últimos meses cotidianamente mães vindo ao conselho tutelar, aos serviços de saúde e às escolas falando que não tinham o que dar de comer para os filhos. Ter que ouvir de uma mãe que ela deu farinha e água para o filho ou ouvir do filho que ele comeu hoje, mas a mãe não comeu é algo muito violento. Na educação, vivemos uma barbárie. Com a privatização da saúde por meio do Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) veio uma resposta de aprofundar a questão da saúde enquanto precarização. Temos dois hospitais privatizados (de Base e de Santa Maria) e as unidades de pronto atendimento (UPAs). Não faz sentido uma pessoa procurar atendimento e o exame dela ser marcado para daqui dois meses. Imagine se for uma mulher em uma situação de câncer ou outras situações que temos lidado e vai só piorando. Não temos transparência na gestão do Iges-DF. Não temos nenhuma situação de melhora nessa gestão. Se tivéssemos melhorias, estaríamos trazendo outros argumentos. O que trazemos, hoje, é que não há transparência. Os serviços não melhoraram, pioraram. E não foi por conta da pandemia da covid-19. A pandemia escancara as mazelas sociais, porque acaba tendo um acúmulo de demanda, sem evasão dela.
Se a senhora for eleita governadora vai acabar
com o Iges-DF?
A defesa que a gente faz é a revogação imediata do Iges-DF. Não tem como privatizarmos um serviço, hoje, que não tem justificativa para ser privatizado. Precisamos investir na saúde pública, e ela tem que ser gestada, sim, pela Secretaria de Saúde. Não tem como ela ser gerida por outro mecanismo. Antes do Iges-DF, tínhamos o Instituto do Hospital de Base, e foi a mesma situação. Ibaneis Rocha troca a privatização com a alegação de que não funcionava e não tinha transparência, e ele consegue piorar. Quantos secretários de Saúde não tivemos nesta gestão? Inclusive, o próprio governador se auto-intitulou secretário por um dia. Isso é uma vergonha para a população.
Como a senhora tratará a mobilidade urbana
caso seja eleita?
Precisamos compreender a mobilidade urbana para além dos carros. Compreender o que muitas pessoas chamam de transporte alternativo, mas não são. As bicicletas, os pedestres, os BRTs, os metrôs. Ônibus que não tenham preços tão exorbitantes. O DF, hoje, tem passagens como uma das mais caras do Brasil. Nada justifica isso, quando temos um transporte que é precário. Ele não circula 24 horas por dia, não atende todas as regiões administrativas e nem deixa as pessoas nas portas de suas casas. Muitos ônibus, inclusive, têm mais de 20 anos de uso. E o repasse de verba que o governador faz para empresas que são privatizadas são de milhões de reais.
Na sua gestão vai ter
escola militarizada?
De forma alguma. Para qualquer candidatura que tenha compromisso social, com direitos humanos e com crianças e adolescentes, a revogação da escola militarizada é urgente. Escola militarizada e escola militar são coisas completamente distintas. Este argumento para implementação das escolas militarizadas, que foi coibir o aumento de violências nas escolas não é verdadeiro. O que enfrenta violência nas escolas é uma rede pública de qualidade, que tenha serviços que respondam à demanda da população, esporte, lazer, cultura e assistência social com dignidade para as famílias. São mecanismos usados, de fato, para enfrentar a violência.
Às vezes, os pais são favoráveis a enviar os filhos para escolas militarizadas porque eles se sentem mais seguros. É uma questão de segurança e
não de educação?
A ideia que foi repassada não é a verdadeira. É isso que eu trouxe anteriormente. As escolas militarizadas não trazem segurança. Se trouxesse, não teríamos acompanhado esses escândalos nessas unidades. Hoje, a população, na maioria, não tem acordo com a escola militarizada, principalmente os profissionais das escolas. Será que os policiais que estão nas escolas tem acordo? Temos que ter esse debate muito aberto. Escola militarizada não é um planejamento educacional e pedagógico. Muito pelo contrário. Ela viola as diretrizes de educação básica. Não tem porquê manter esse ensino. Se queremos garantir uma escolarização boa, um processo pedagógico bom é preciso uma rede de ensino integral, escola que tenha cultura, esporte, lazer e que respeite a liberdade e diversidade de todos.
*Estagiário sob a supervisão
de Guilherme Marinho
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