Mobilidade

Acessibilidade está comprometida na região central da capital do país

Na rodoviária central de Brasília e no Plano Piloto, calçadas danificadas e esburacadas dificultam a passagem de idosos e pessoas com deficiência. A população reclama do descaso das autoridades com a cidade

Júlia Eleutério Eduardo Fernandes*
postado em 23/07/2022 06:00 / atualizado em 23/07/2022 08:29
 (crédito:  Ed Alves/CB)
(crédito: Ed Alves/CB)

Pelas ruas do Distrito Federal é fácil identificar calçadas danificadas e com buracos. Na região central da capital, a situação não é diferente. Pessoas com deficiência (PcD) e idosos enfrentam problemas ao circular pelas entre quadras e pelo comércio local do Plano Piloto. Segundo dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (Pdad) de 2021, da Codeplan, 107.923 pessoas no DF têm dificuldades de caminhar, das quais 10.379 não andam. O levantamento também aponta que 459.673 possuem baixa visão, destas, 6.787 são cegas. A pesquisa mostra ainda que 356.514 pessoas têm acima de 60 anos.

Deficiente visual, a massoterapeuta Maristela Batista, 54, mora em Samambaia Sul, mas vem constantemente para o centro de Brasília para atender os clientes. Usuária do metrô, Maristela costuma descer na estação da 112 Sul ou na Rodoviária do Plano Piloto. "A minha maior dificuldade descendo nessa estação até chegar à escola de cegos, que fica na 912 Sul, é o caminho que não é acessível. Cheio de buracos, não tem nenhum apoio e nenhum guia", conta.

Quando precisa seguir de metrô até a rodoviária, Maristela enfrenta mais dificuldades. Segundo ela, os camelôs ficam em cima do piso tátil atrapalhando a circulação. "Quando a gente vai passar, a maioria deles empurra a gente pra desviar. Nós reclamamos que eles podem trabalhar, mas respeitando o piso tátil onde pessoas com deficiência visual, constantemente, estão passando pra ir para o trabalho, pra escola, ir ao médico", comenta. "Eu mesma já caí daquela escada da Rodoviária. Desabei lá embaixo. Graças a Deus não tive nada", relembra Maristela.

Com 93 anos recém-completados, a aposentada Terezinha de Jesus, mora na Asa Sul há 62 anos e acredita que a capital está descuidada. "Eu acho que o centro de Brasília não está tão olhado. Estão sendo feitas mais obras como viadutos em vários lugares, mas aqui está abandonado nessa questão [de calçadas]", comenta a idosa cadeirante enquanto tomava um sol pela manhã na praça da entrequadra 105/106 Sul.

Uma cuidadora que passeava com uma idosa numa cadeira de rodas e preferiu não se identificar comentou que para andar com a cadeirante entre as quadras da Asa Sul é difícil, pois nem todas estão em condições boas para a passagem. "Tem dificuldade demais. Ocorre de termos que passar pela grama, porque pela calçada é mais complicado e, às vezes, é até pior. Ela fica batendo e trepidando na cadeira. É bem desconfortável para ela", ressalta a profissional que andava pela rua por falta de calçadas boas na quadra 106 Sul.

Miguel Alves, 78 anos, caminhava para ir à massagem e tomava cuidado para não tropeçar nos buracos da calçada na 108 Norte. "É muita coisa que tem que fazer e acho que muitas vezes o governo não dá conta", comenta o aposentado. "Muitas pessoas de idade enfrentam dificuldades nesta região aqui. Crianças pequenas que passam de carrinho também sofrem com essa situação", destaca o morador da quadra há mais de 30 anos.

Acessibilidade

O procurador da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Com Deficiência da Ordem dos Advogados do Brasil do DF (OAB-DF), Gerson Wilder, avalia que falta uma política pública séria voltada às pessoas com deficiência em Brasília. "A acessibilidade ainda é um obstáculo porque, como a cidade foi tombada e é patrimônio da humanidade, tem alguns locais que precisam de autorização de setor específico que esbarra nesse tombamento", ressalta.

Gerson destaca que as pessoas com deficiência têm força de trabalho na capital e são usuários das vias públicas. "Precisamos que elas [vias] se ajustem a nós", comenta. Para ele, o ideal seria que tudo que fosse planejado de infraestrutura tivesse um PcD envolvido. "Precisamos estar inseridos nessa urbanização e transformação de acessibilidade ou de transporte ou de acesso públicos para demonstrar os limites e obstáculos que nós enfrentamos", pontua.

Ao sofrer um acidente em área pública, Gerson ressalta que a ação judicial é contra o Governo do Distrito Federal (GDF). Caso ocorra numa área privada, o processo é contra o proprietário do espaço. As reclamações sobre a estrutura das vias públicas podem ser feitas para o próprio governo local e administrações regionais.

Segundo a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), de 2019 até o momento, foram feitas cerca de 557 mil metros de extensão de calçadas em todo o DF. A empresa executora de obras afirma que atua sob demanda dos órgãos e administrações.

O outro lado

Procurada pelo Correio, a Novacap, em nota respondeu: "ressaltamos que as solicitações por parte da população devem ser feitas à Administração Regional ou à Ouvidoria do DF, por meio do 162".

* Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado

 

 

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