A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) instaurou um inquérito para apurar denúncias de maus-tratos contra três crianças, de 12, 9 e 6 anos. Os irmãos moram com a mãe e o padrasto, um advogado do DF, e, segundo relato de vizinhos, eles são os responsáveis por espancar os menores dentro do apartamento onde a família mora, em Ceilândia. Em entrevista ao Correio, o pai das crianças contou que tenta conseguir a guarda dos filhos na Justiça há um ano, mas o processo está parado. Na noite dessa terça-feira (19/7), o genitor esteve na 24ª Delegacia de Polícia (Setor O) e registrou boletim de ocorrência.
Os nomes de todos os envolvidos foram censurados para proteger a identididade das crianças envolvidas.
Os episódios de agressão teriam sido percebidos por moradores do prédio, que denunciaram os vizinhos ao Conselho Tutelar. Uma mulher relatou à reportagem que, em um dia, chegou no prédio e encontrou o irmão caçula chorando e sentado ao lado do elevador. “Ele estava tremendo. Perguntei o que tinha ocorrido, mas ele não disse”, contou.
Em uma outra ocasião, em 10 de junho do ano passado, a avó da criança precisou intervir para que a neta mais velha não fosse espancada. Segundo consta no boletim de ocorrência, a mulher arrombou a porta e encontrou a mãe segurando a criança pelos cabelos. Ao tentar apartar, foi agredida pelo advogado com um cabo de vassoura.
A vizinha que também tentou intervir na agressão relatou estar sendo ameaçada pelo advogado. Em um áudio enviado ao grupo de moradores, o homem afirmou que iria “rachar a cara” dela. “Já que a senhora gosta de expor as pessoas. Mais uma vez, quero que você poste mais uma coisa, caso você poste mais alguma coisa reclamando, insinuando algo com minha família. Se a senhora postar mais uma vez, pode ter certeza que vou rachar tua cara na porrada. E pode ter certeza disso. Porque eu ia te esperar chegar para conversar contigo, mas eu vou mandar logo no grupo para esculachar essa porra, porque se você postar alguma coisa e eu me sentir ofendido ou exposto, pode ter certeza que vou lhe quebrar na porrada. E outra coisa, pode ir na polícia registrar boletim de ocorrência, porque crime de ameaça é de menor potencial ofensivo. Não dá nada”, ameaça.
Ocorrência
O pai das crianças conversou com o Correio. O homem, de 33 anos, que é consultor tributário, disse que fica com os filhos apenas aos finais de semana. “Elas (crianças) comentam pouco sobre o assunto. Por mais que eu insista, elas se sentem coagidas. Minha filha mais velha fez um vídeo escondido, que mostra a mãe gritando e xingando absurdamente.”
O pai foi intimado a comparecer novamente à 24ª DP para prestar um novo depoimento, tendo em vista um segundo inquérito em aberto na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). As crianças também serão ouvidas em depoimento especial.
O outro lado
O Correio procurou a mãe das crianças, que acusou o vizinha e o ex-marido de denunciação caluniosa. Segundo ela, a confusão começou após um desentendimento com a moradora ao lado. "Ela vem nos perseguindo por causa da sujeira que as crianças faziam no corredor. Além do barulho que as crianças fazem em casa que incomoda ela", disse.
Quanto ao pai das crianças, mulher contou que tem provas judiciais que o homem fez alienação parental e que, desde a separação, a inferniza. "Ela (filha mais velha) ficou um ano morando com o pai. Mas há sete meses, ela me pediu para voltar porque não aguentava mais ficar com ele. Ele ama seus filhos, mas eles não são prioridade na vida dele."
Questionada sobre as fotos que mostram supostas marcas de agressão no corpo da filha, a mulher defendeu que os registros são há mais de um ano e contou outra versão. "Ela (filha) estava no banheiro e não queria tomar banho. Foi então que ela se jogou no chão e se machucou. Minha mãe e avó acharam que eu estava batendo nela, então foi uma confusão generalizada. Nisso, acredito que ela se machucou", defendeu.
Denuncie casos de agressão infantil
As denúncias de casos de maus-tratos e negligência a crianças e adolescentes podem ser feitas aos Conselhos Tutelares, às Polícias Civil (197) e Militar (190) e ao Ministério Público, podendo ser noticiadas também aos serviços de disque-denúncia (Disque 100, nacional; Disque 181, estadual; e Disque 156, municipal).
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