Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) conseguiu unificar seu palanque no Distrito Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva conta com três candidaturas aliadas na capital do país. Uma delas, no entanto, tem a cara da campanha nacional. É a do deputado distrital Leandro Grass (PV), da federação PT-PV-PCdoB.
Em visita a Brasília na semana passada, Lula deixou claro que Grass encabeça a sua chapa oficial, com a professora Olgamir Amancia (PCdoB) como vice e a diretora do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) Rosilene Corrêa (PT) mirando o Senado.
O evento foi organizado pela federação e todas as imagens, banners e materiais de divulgação eram associadas a Lula, Grass e Rosilene. Grass terá o apoio da militância petista e dos principais apoiadores de Lula em Brasília. Pré-candidatos petistas como a deputada Érika Kokay, que disputa a reeleição, tem participado dos eventos ao lado de Grass e de Rosilene e nunca aparece em campanha com os outros pré-candidatos da base de Lula, Rafael Parente (PSB), e Keka Bagno, da federação PSol-Rede Sustentabilidade.
Parente e Keka fazem suas próprias campanhas, com a simpatia do presidenciável petista, mas sem poder desfrutar da chancela oficial. Não é à toa que Parente tentou ser o cabeça de chapa de uma aliança com a federação PT-PV-PCdoB. Ele queria ser o candidato de Lula em Brasília, considerando que Geraldo Alckmin, de seu partido, é o vice na chapa nacional.
Não houve acordo e Parente buscou também uma parceria com o senador José Antônio Reguffe (União Brasil) em que topava ser vice. O União Brasil, no entanto, não aceita nenhuma composição eleitoral com partidos da frente pró-Lula. "Nossa base não aceita", disse ao Correio um dirigente do União Brasil, partido que nasceu da fusão do PSL com o DEM.
Empatados
No DF, pesquisa do Instituto Quaest, publicada domingo pelo Correio, apontou uma cidade dividida na disputa nacional. O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem 36% das intenções de voto entre os eleitores do Distrito Federal. O ex-presidente Lula, 32%. A margem de erro é de 2,5 pontos percentuais para mais ou para menos, o que aponta um empate técnico.
Por isso, é possível afirmar que, assim como Bolsonaro, Lula terá influência na disputa ao Palácio do Buriti. Num dos cenários testados, Grass tem 4% dos votos, mas pula para 17% quando o eleitor considera que ele tem o apoio de Lula. Chega a um patamar que pode levar a eleição para o segundo turno, a depender do desempenho de outros candidatos de centro.
Lula e Grass vão tentar conquistar o eleitorado de Brasília. Em entrevista ao Correio, publicada na semana passada, o ex-presidente provocou Ibaneis sobre a aliança com Bolsonaro: “Vamos ver se essa aliança vai se firmar, inclusive pelo comportamento de Bolsonaro, que está longe de ser alguém confiável ou estável. Acho triste, no Distrito Federal, com tantos servidores públicos, as pessoas votarem em alguém que desrespeitou tanto o funcionalismo, como Bolsonaro", disse Lula ao Correio.
Em ato público realizado no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, a campanha de Lula colou fortemente a imagem do ex-presidente a Grass. Tanto esforço acabou criando um embate entre os candidatos da base de Lula.
Em postagem no seu Instagram na última semana, a pré-candidata do PSol reclamou do espaço que recebeu. Ela discursou como representante do partido e não como pré-candidata ao Palácio do Buriti. Rafael Parente também se manifestou nas redes sociais. A orientação partiu do coordenador nacional da campanha de Lula, Gilberto Carvalho, e tem o apoio de Gleisi Hoffmann.
Divisão progressista
O PSB, inclusive, vê com preocupação a divisão do campo progressista no DF. Na porta do período de convenções partidárias, que se iniciou ontem, ainda não há uma aliança ampla articulada.
"A gente avalia que poderia ter uma amplitude maior, o que seria bom tanto para a eleição no DF quanto para a presidencial", disse ao Correio o presidente do PSB no DF, Rodrigo Dias. "Até o dia 5 de agosto tudo pode acontecer. O que a gente faz é um apelo para o campo progressista", completa.
Parente não pretende abrir mão de sua candidatura e um recuo teria de partir de Grass, o que dificilmente vai acontecer. A federação PT-PV-PCdoB realiza a convenção regional no próximo domingo, no auditório da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI).
Na convenção, serão aclamados os nomes que disputarão as eleições proporcionais e majoritárias pela federação.
Via de mão dupla
O Psol, por sua vez, vê as alianças políticas como praticamente consolidadas e procura agora os movimentos sociais. A legenda defende a importância das candidaturas que apoiam Lula mesmo que não sejam endossadas publicamente. Porém, critica a falta de reconhecimento disso por parte da federação PT, PV e PCdoB.
"Os outros candidatos também estão no empenho. A gente sabe que é difícil dar esse espaço, mas entendemos que somos merecedores. Na federação PSol-Rede, todos os nossos pré-candidatos estão empenhados na campanha do Lula", explica a presidente do PSol no Distrito Federal, Teresinha Monteiro. "Nós vamos reivindicar sim o reconhecimento".
Segundo o deputado distrital Leandro Grass, a divisão do campo progressista no DF ocorreu por um desentendimento sobre as estratégias políticas para o pleito. "Tanto PSol e PSB são candidaturas que apoiam o (ex) presidente Lula. A nossa é apoiada pelo (ex) presidente Lula. Existe uma distinção importante".
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