Salta aos olhos o descaso com as questões ambientais no DF, precisamente no momento em que o mundo civilizado se empenha, com todas as forças, em evitar a catástrofe do aquecimento global. O arquiteto e professor José Carlos Coutinho propôs que, antes de assumir um cargo público, as excelências fizessem um curso sobre patrimônio histórico. É perfeita a recomendação, mas peço licença para acrescentar a necessidade premente de uma iniciação à educação ambiental.
Não é possível. Parece que não acompanham o que está acontecendo no mundo e, principalmente, no nosso quintal. As temperaturas são cada vez mais inclementes, e as cidades se tornam cada vez mais inóspitas. Os exemplos ou contra-exemplos pululam. Vejamos a Arena Mané Garrincha, equívoco que custou R$ 1,7 bilhão, fadado a ser um elefante branco.
Mas, a pretexto de tornar o empreendimento viável, construíram um complexo de atividades gastronômicas e esportivas que padece inteiramente da falta de um projeto ambiental. O território tornou-se mais árido do que uma paisagem lunar. Está tudo cercado como se fosse propriedade particular numa cidade perpassada de vazios e vazados. Em frente ao Tribunal de Contas do DF derrubaram as árvores e construíram uma quadra de tênis no estacionamento. Brasília virou uma cidade onde qualquer um arma a sua barraca.
O chamado Viaduto da Epig é outro projeto que prima pelo descompromisso ambiental, com implicações muito mais graves. É como se uma via expressa como o Eixão, de fluxo selvagem e de alta velocidade, atravessasse um bairro residencial. Nunca, nenhum intervenção urbanística terá impacto tão avassalador sobre a vida cotidiana do Plano Piloto quanto esse.
A operação de corte de árvores com motosserra é assustadora. Em 50 segundos, destruíram o trabalho de 50 anos da natureza, com a maior leviandade. São óbvios os indícios de que o projeto fere as escalas bucólica, gregária e residencial de Brasília, cidade tombada como patrimônio cultural da humanidade. O trânsito de pedestres, de ciclistas e de pessoas com deficiência ficará comprometido.
Cerca de 25 mil carros trafegarão pelas vias alargadas. Isso significa poluição sonora, poluição atmosférica e perigo de acidentes. Os moradores do Sudoeste já sentem os efeitos de degradação no cotidiano. E não é só isso: será preciso devastar parte do Parque da Cidade, tombado por decreto da Câmara Legislativa do DF.
Onde está a Câmara Legislativa do DF, que assiste a essa ação predatória e permanece calada? Como disse o padre Antonio Vieira, a omissão é o pecado que se faz não se fazendo. Se viaduto resolvesse problema de mobilidade, São Paulo e Rio de Janeiro não teriam problemas de trânsito.
Está na hora de pensar Brasília do ponto de vista ambiental. Querem transformar a cidade-parque em cidade-viaduto. O brasiliense precisa aprender que qualquer alteração nas escalas sutis criadas por Lucio Costa afeta a qualidade de vida na cidade. Vejam o que ocorre na 402 Norte, onde o prédio do Banco do Brasil apagou o céu.
Onde estão o Ibram, o Iphan e a Câmara Legislativa? Como essas obras, flagrantemente irregulares, foram aprovadas? E, se foram aprovadas indevidamente, onde está o Ministério Público, que prestou (e presta) serviços tão relevantes a Brasília quando outras instituições falharam? Que cidade legaremos a nossos filhos, nossos netos e às gerações futuras de brasilienses?
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