Entrevista/ Rodrigo Rollemberg, ex governador do DF

"A polarização traz a rejeição"

Ao CB.Poder, ex-chefe do Executivo local e pré-candidato à Câmara dos Deputados avalia que "Ibaneis é o maior prejudicado pela candidatura de Arruda" e destaca a necessidade de uma frente ampla de oposição ao atual mandatário do Buriti

Ana Isabel Mansur
postado em 14/07/2022 00:01
 (crédito: Carlos Vieira/CB)
(crédito: Carlos Vieira/CB)

A provável candidatura do ex-governador José Roberto Arruda (PL) ao Governo do Distrito Federal — possível graças a uma decisão liminar do presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, na última semana — é um empecilho para a reeleição do atual governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB). A avaliação é do ex-ocupante do Palácio do Buriti e pré-candidato a deputado federal Rodrigo Rollemberg (PSB), derrotado por Ibaneis no segundo turno de 2018.

Rollemberg analisou o atual quadro político da disputa a governador do DF e defendeu a candidatura do correligionário Rafael Parente ao Buriti, ontem, no programa CB.Poder — parceria do Correio com a TV Brasília. Caso a participação de Arruda na corrida eleitoral se concretize, ele pede a união do campo progressista, com pelo menos cinco nomes, para impedir um eventual segundo turno entre Ibaneis e Arruda. Para ele, o apoio do presidente Jair Bolsonaro (PL) a um dos dois candidatos pode atrapalhar a base partidária do outro postulante. "Ouvi de um ministro de Bolsonaro que, se for candidato, Arruda será o nome do presidente", revelou à jornalista Ana Maria Campos.

Como o senhor avalia a movimentação em torno das composições dos partidos?

Nunca tivemos um quadro tão indefinido e confuso tão próximo do prazo limite de definição (de candidaturas, em 5 de agosto). Até a decisão do STJ que liberou o ex-governador Arruda para a disputa, tínhamos a candidatura do atual governador e um conjunto de forças políticas com dificuldade para se compor, mas que poderia ter um quadro pulverizado, com Keka Bagno (PSol), Leandro Grass (PV-PT-PCdoB), Rafael Parente (PSB), Leila Barros (PDT), Izalci Lucas (PSDB-Cidadania) e Reguffe (UB). Eu não acredito que o atual governador tenha condições de ganhar em primeiro turno, acho que vai pontuar em torno de 35%. A nossa avaliação era de que quem fosse para o segundo turno teria grande possibilidade de unificar todo esse outro campo para derrotar Ibaneis. Com a entrada de Arruda, isso muda. Estamos em uma indefinição: será que Arruda efetivamente será candidato a governador? Se for, as forças do campo progressista, do centro-esquerda da cidade, na minha opinião, deveriam tentar uma unificação. Senão, corremos o risco de ter, no segundo turno, Ibaneis e Arruda.

O senhor acredita nisso, Ibaneis e Arruda?

Essa possibilidade existe. A campanha eleitoral é muito dinâmica. O fato é que uma possibilidade de candidatura majoritária do Arruda desorganiza a base do Ibaneis. O maior prejudicado, em um primeiro momento, é o atual governador. Ouvi de um ministro de Bolsonaro que, se for candidato, Arruda será o nome do presidente. Em função disso, partidos que estão na base do governador poderiam migrar para a candidatura do Arruda, o que enfraqueceria a de Ibaneis. Mas, isso tudo depende dos próximos acontecimentos. Percebemos que há uma tensão muito grande no campo político ligado ao governador e muitas ameaças veladas, em função das movimentações que estão ocorrendo.

Na terça-feira, houve a notícia de que Ibaneis acertou uma chapa alternativa — que, a princípio, seria com Flávia Arruda — com a deputada federal Celina Leão (PP-DF), de um partido da base de Bolsonaro, como vice; e a ex-ministra (da Mulher) Damares Alves ao Senado; ou seja, uma aglutinação de partidos da base de Bolsonaro, embora o candidato preferencial do presidente seja Arruda.

O que tem de ser avaliado é se isso é pressão para buscar uma composição ou se é uma movimentação para valer. Junto a isso, é preciso saber quem será o candidato de Bolsonaro. Essas definições são importantes para a nossa estratégia, do lado de cá.

O senhor falou de ameaças veladas. Na sua opinião, Ibaneis e Arruda se conhecem tanto a ponto de ter dossiês, acusações ou saber fraquezas do outro?

Sabemos que essa é a prática desse campo político, gravações e registros de irregularidades que podem servir como objeto de pressão. Percebemos que há muitos descontentamentos nessas movimentações, e isso, em algum momento, pode vir à tona, fragilizando as candidaturas. Já vimos acontecer, em um passado recente, então, pode voltar a acontecer a qualquer momento.

O campo de oposição está muito dividido (o senador e pré-candidato Izalci Lucas é opositor de Ibaneis, mas não de Arruda). Essa divisão, como o senhor falou em outras oportunidades, favorece esses candidatos. Há chances de acordo?

Sempre tem, até o prazo final das convenções. Toda a estratégia política depende de como vão ser as candidaturas do outro campo. Se Arruda não for candidato, não vejo problema em termos um grande número de candidaturas. Esses partidos farão mais de 50% juntos, no primeiro turno, e sabemos que o segundo turno é uma outra eleição. A dificuldade de composição está no fato de que os candidatos (da oposição) estão, mais ou menos, no mesmo patamar. Rafael Parente, menos conhecido, tem pontuado na frente de Keka, Izalci e Leandro Grass e está empatado, em algumas pesquisas, com a senadora Leila. Isso dificulta que alguém abra mão para uma composição, mas nada é impossível. Eu tenho dialogado com os demais partidos para que estejamos prontos para, na eventualidade de precisar de uma união por maior competitividade, deixar interesses pessoais e partidários em segundo plano. O importante é fortalecer as candidaturas — no nosso caso, do Rafael Parente, que tem crescido nas pesquisas e está aberto a conversas com outros partidos, por conta dessa indefinição.

A candidatura do Rafael Parente é prioritária para o PSB nacional?

Não foi. Quando ele nos procurou para ser candidato do Governo do DF, fomos muito claros: falamos do trauma de ter elegido uma senadora (Leila Barros, em 2018, que deixou o PSB em agosto de 2021 e se juntou ao Cidadania, do qual saiu, em março deste ano, para integrar o PDT), que teve todo o apoio e carinho do partido, e que, sem nenhuma razão objetiva, deixou o PSB. Acho que hoje, talvez, ela se arrependa disso, porque seria uma candidata fortíssima (ao Buriti) e teria facilidade em unificar os partidos, se estivesse no PSB. Destacamos também a necessidade de ser um candidato que defenda nosso governo, sabendo que temos de fazer autocríticas, mas que deixamos legados muito importantes para a cidade, além de ser uma candidatura de oposição ao Ibaneis. Rafael Parente cumpriu todos esses pré-requisitos, conquistou a militância do partido, e o PSB está empolgado. Ele se tornou um candidato competitivo.

Se Reguffe for candidato, existe a possibilidade de Rafael Parente ser o vice?

Até o último dia do prazo das convenções partidárias, estamos abertos a fazer a melhor construção para enfrentar e derrotar Ibaneis.

Qual é a sua avaliação sobre o impacto da eleição presidencial em Brasília, com o cenário polarizado como está, entre Lula e Bolsonaro? As pesquisas mostram essa divisão, também, aqui no DF.

Quando temos um cenário de polarização, é claro que o vínculo a um nome, em um primeiro momento, contribui para o crescimento da candidatura. Porém, a polarização traz a rejeição.

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