Em um mês, a Universidade de Brasília (UnB) registrou dois casos de violência contra a mulher no Campus Darcy Ribeiro, localizado na Asa Norte. Roubos, assédios e estupros são crimes recorrentes na instituição. O cenário negativo se repetiu na última sexta-feira, quando uma aluna de 18 anos foi violentada próximo ao Restaurante Universitário (RU). O caso gerou comoção, insegurança e revolta na comunidade acadêmica.
Ao Correio, alunas que frequentam o ambiente à noite relataram que o medo se tornou um sentimento comum. Estudante do curso de história há quatro anos, Tailane Santos, 22, disse que estar o tempo todo em estado de alerta faz parte do cotidiano das alunas. "A gente sabe que sendo mulher temos que redobrar a atenção, porque estamos sujeitas a um contexto de violência. Mas o espaço da UnB dá muita margem para a violência porque existem locais sem iluminação, vazios e sem segurança", contou a jovem.
Por volta das 19h da última sexta-feira, o medo de uma das alunas se transformou em algo aterrorizante. Ao procurar a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher I (Deam I) para registrar ocorrência às 22h, a vítima relatou que foi estuprada às 19h30 — trinta minutos após o início das aulas no período noturno — próximo ao Instituto Central de Ciências (ICC).
De acordo com a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), a jovem foi submetida a todos os procedimentos legais e protocolos de saúde estabelecidos em programa e atendimento emergencial às vítimas de estupro. Até o momento, nenhum suspeito foi preso, mas a corporação continua investigando o caso. Em nota, a Universidade de Brasília repudiou o crime e ressaltou que está prestando todo apoio necessário à jovem e família. Na noite de ontem, a reitoria afirmou que imagens das câmeras de segurança relacionadas ao fato foram entregues a Deam.
"A UnB lamenta profundamente o ato de violência ocorrido com uma de nossas estudantes na noite desta sexta-feira (8 de julho), no campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte. Qualquer tipo de assédio, abuso ou violência sexual é inaceitável e precisa ser rigorosamente punido. Desde o ocorrido, a Administração Superior da UnB, docentes, o serviço de saúde e a equipe de segurança da instituição estão em contato com a estudante e sua família, dando todo o apoio possível. A Universidade também está em diálogo com a Delegacia da Mulher para colaborar com as investigações, inclusive com o envio de imagens das câmeras de monitoramento", afirmou o texto.
Direito à intimidade
Há trinta dias, uma estudante do curso de serviço social relatou ter sido filmada e fotografada enquanto usava um dos banheiros do Instituto Central de Ciências (ICC). O caso foi publicado na página do Instagram do Centro Acadêmico de Serviço Social (Caseso), em 8 de junho. De acordo com a vítima, ela estava assistindo aula quando precisou usar o banheiro da parte superior do campus. Quando estava dentro do box, a moça percebeu que um homem estava com um celular filmando ela por cima da cabine. Ela tentou correr atrás do assediador, mas ele fugiu a tempo.
Estudante de museologia, Giovanna Chaves, 21, relata que após a última aula — que se encerra às 22h30 — ela procura estar sempre acompanhada. "O semestre acabou de começar e temos um mês de aula e dois casos de violência. Para quem é mulher, estar dentro do campus é preocupante, e, por vezes, quando precisamos usar o banheiro, por exemplo, temos que andar até outro prédio, pois os do ICC são bem esquisitos e não possuem segurança", concluiu a aluna.
Em paralelo aos relatos negativos, o Comitê de Segurança da UnB esclarece que está empenhado na melhoria e ampliação da iluminação, em aumentar as rondas no período noturno, em fortalecer campanhas de comunicação para melhorar a segurança e também realizando investimentos para capacitar funcionários, como porteiros e vigilantes.
"Colocamos câmeras em todos os campi e estamos ampliando o nosso sistema de videomonitoramento, que conta com mais de 500 câmeras e tem ajudado a resolver crimes e a prevenir situações de perigo. Ademais, o campus Darcy Ribeiro é todo aberto e integrado à Asa Norte. Assim, a Universidade também trabalha em articulação com Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar e com o Corpo de Bombeiros para que tenhamos uma universidade mais segura", alegou a assessoria da UnB.
O Coletivo Juntas do Distrito Federal marcou uma manifestação em frente ao Instituto Central de Ciências (ICC Norte) para reivindicar mais segurança às mulheres e repudiar a violência na instituição. O movimento vai acontecer amanhã, às 12h.
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