Leandro de Carvalho, coordenador pedagógico do projeto Afro em Movimento
O que motivou a criação
do Afro em Movimento?
O Afro em Movimento tem uma motivação histórica, de um passado histórico mais distante, mas também muito presente. Ele é motivado pela necessidade existente de ações que combatam e atuem para desconstruir o racismo estrutural da sociedade brasileira. Se a gente olhar em uma perspectiva histórica, mas também para o contexto presente da sociedade, esse racismo estrutural levou a população negra a ser a mais impactada pela covid-19. Além das pessoas negras terem sido as que mais morreram, elas são, hoje, por exemplo, as mais desempregadas. Quando a gente olha para o percentual de pessoas desempregadas no Brasil, 72,9% são pessoas negras. Então, o Afro em Movimento olha para essas duas demandas: a necessidade de combater o racismo estrutural histórico e a necessidade de fazer algo, no momento, urgentemente, para apoiar pessoas negras na reação ao contexto em que elas se encontram por conta da covid-19. A relação da pandemia com esse racismo histórico que existe no Brasil faz com que pessoas negras sejam as mais desempregadas, que recebem menores salários, que têm menos acesso às vagas de emprego e ocupação, que estão no encarceramento e que são vítimas de um genocídio negro do Estado.
Qual o sentimento de
tirar o projeto do papel?
Não só para mim, mas para toda a equipe do Afro em Movimento e do Instituto Janelas da Arte, o sentimento de tirar do papel é de muita satisfação. Não é um sentimento de dever cumprido, porque a caminhada e a jornada são longas, mas é uma sensação de satisfação e comunhão com a comunidade negra do Distrito Federal e do Brasil; podermos estar contribuindo, ainda que minimamente, para a reversão de quadros de dificuldades citados anteriormente. O Afro em Movimento é feito por muitas pessoas e estarmos juntos, construindo o projeto, fazendo com que ele aconteça, também reforça os laços de solidariedade dentro da comunidade.
Qual o impacto social que o projeto gera na sociedade?
O Afro em Movimento gera impactos sociais em algumas áreas. O primeiro e diretamente para a população negra é quando a gente olha para o pacote dos cursos, com a possibilidade de trabalho e renda. Primeiro, porque pessoas empreendedoras que estão fazendo o curso têm acesso a formações e capacitações que podem melhorar o seu empreendimento, ajudar a vender mais, organizar as finanças e entender melhor qual é o produto que é vendido. Então, a gente está contribuindo com isso, para o aumento das vendas e a geração de renda de pessoas empreendedoras. Segundo, as pessoas que não possuem um empreendimento, mas querem ter acesso ao mercado de trabalho, estão tendo a possibilidade de se tornar uma mão de obra melhor qualificada, portanto, mais atrativa para empresas e outras instituições empregadoras. O outro impacto do projeto é o da consciência sobre negritude. Todos os cursos, painéis e o evento têm um foco muito forte na valorização da pessoa negra, dos saberes ancestrais, na identidade negra e o que é ser negro no DF e no Brasil. O Afro em Movimento tem essa perspectiva muito forte de positivação do ser negro, da comunidade e população negra e da negritude. Isso faz muito sentido para o fortalecimento da autoestima das pessoas negras que participam. Faz muito sentido também para as pessoas brancas que estão em alguma iniciativa do projeto e têm a oportunidade de fazer letramento racial, de ter contato com todos os conteúdos e com outras pessoas negras e entender sobre negritude e racismo, contribuindo, assim, para uma diminuição da visão racista existente intrinsecamente nessas pessoas brancas que fazem parte do projeto.
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