Para os moradores que viveram a infância e a adolescência na QNF de Taguatinga, os anos 1970 e 1980 são fonte de memórias mais do que especiais. Na época, os estudantes do Sesi Taguatinga e da Escola Classe 27 de Taguatinga Norte passaram momentos inesquecíveis no setor.
"Taguatinga é nossa história", define a aposentada Shirley Caixeta, moradora da quadra. "O que a gente mais fazia na adolescência era bater papo nas esquinas da QNF. A gente tinha amigos que moravam em cada uma das 24 quadras, então a gente se encontrava na rua mesmo ou na casa uns dos outros. Nosso divertimento era esse", relembra Shirley. "Como na época a gente não tinha acesso a outras coisas, tipo clube ou cinema, essa era a forma que a gente encontrava de se manter junto", complementa o advogado Ruy Correa, que morou na QNF por 15 anos.
Os anos passaram. As crianças e os adolescentes que cresceram na QNF, se tornaram adultos, casaram, mudaram para outros lugares e acabaram se distanciando. Foi em 2016 que, movido pela nostalgia e pela saudade dos amigos, Ruy, que mora na Bahia, resolveu criar o grupo Amigos para sempre no WhatsApp, com o intuito de diminuir a distância entre os colegas do bairro. "Eu botei umas três ou quatro pessoas que mantive uma relação mais próxima e, de repente, tinham mais de 100 no grupo", relata.
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Fora do virtual
A partir do WhatsApp, surgiu um projeto maior: o encontro presencial dos moradores da QNF, ou Encontro dos Amigos da QNF. O evento, que ocorre em Taguatinga Norte, nasceu como forma de celebrar a amizade e promover o reencontro de quem morou no setor entre as décadas de 1970 e 1980. Hoje, os ex-moradores realizam a quinta edição, honrando as histórias e memórias do local. "Atualmente, o Encontro dos Amigos parece um evento cultural da QNF, está inserido na cultura de lá. Para mim, já poderia figurar como um evento de Taguatinga", avalia Ruy. A celebração terá início às 15h na Cervejaria Caixa D'Água (Bar Do Kareka), na Praça da CNF, e contará com as atrações The Funk Brothers, Os Naftalinas e Dj Liu Pinheiro para animar a tarde com muita música.
Nesta edição, os participantes terão motivos de sobra para celebrar: o encontro de hoje é o primeiro desde o início da pandemia da covid-19. "É um sentimento de alegria imenso, principalmente depois dessa pandemia. Na verdade, o sentimento maior é de gratidão, pelo simples fato de estarmos vivos", declara o aposentado Francisco Vieira da Silva. "Além de matar a saudade, nós vamos comemorar a preservação da vida, depois de passarmos por muitas dificuldades nesses últimos dois anos", diz.
Do colégio
Além de tesoureiro do evento, Francisco é participante assíduo das reuniões. Acompanhado da esposa, que conheceu durante os tempos de colégio na QNF, o aposentado encontra os amigos anualmente. "Como a gente passa muito tempo sem se ver, todo mundo volta a ser criança quando a gente se reencontra", admite.
Dentre os 130 participantes da edição, encontram-se pessoas do Distrito Federal, outros estados e países. Morando no exterior há 35 anos, o professor Carlos Menezes veio direto dos Estados Unidos para participar da celebração. "A QNF fez parte fundamental no meu desenvolvimento como pessoa", conta o professor, que morou no setor por 18 anos. "Lá, fiz amizades verdadeiras e duradouras. Algumas dessas pessoas eu procurei manter contato durante todo esse tempo. Mais recentemente, com as redes sociais, as coisas ficaram mais fáceis", explica. Sem os encontros anuais, o grupo de WhatsApp foi o que manteve os amigos conectados durante 2020 e 2021.
Nos eventos, Carlos tem reencontrado colegas que não via há mais de 40 anos. "Esses encontros nos fazem voltar ao passado. É muito emocionante poder abraçar, sorrir e ouvir as histórias das pessoas que tomaram direções diferentes nas vidas. Cada um tem uma história, e todas são igualmente importantes", pontua. "Com o passar do tempo, e com as pessoas consequentemente seguindo direções diferentes, é óbvio que as pessoas passam a pensar de formas diferentes. Isso acontece e é parte do processo. No grupo, temos discussões políticas e religiosas, o que não é fácil nos dias atuais, mas no dia do encontro esquecemos essas divergências e somos simplesmente "amigos para sempre", finaliza.
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