Em prantos, dona Maria Lúcia, 70 anos, tenta entender o acidente que matou o neto, de 17 anos, no Condomínio Privê Lucena Roriz, em Ceilândia. O estudante Davi Filipi Soares Ferreira levou um tiro acidental no peito disparado por um amigo, de 16 anos. A tragédia aconteceu enquanto os dois adolescentes brincavam com uma espingarda do tio de Davi, que é militar reformado do Exército.
O estudante foi sepultado nessa terça-feira (5/7), no Cemitério de Taguatinga. "A gente sempre acha que isso só acontece em outros estados ou na televisão. Parece que nunca vai chegar na nossa casa. Não sei como vamos conviver daqui para a frente", lamenta a avó.
Em entrevista ao Correio, a aposentada relata que, no domingo (3/7) — dia em que aconteceu o incidente —, ela havia acabado de sair de casa para ir à igreja. Pouco antes disso, durante a tarde, toda a família estava reunida na residência para almoçar. "Todos nós estávamos brincando, sorrindo e jamais imaginaríamos que tamanha tragédia fosse acontecer. Se eu pudesse saber, teria filmado nosso momento para guardar, pois era de muita alegria", desabafa.
Davi e o amigo moram na mesma rua e se conheciam desde a infância. Era costume os dois passarem a tarde juntos. Quando Maria deixou a casa, no domingo, eles ficaram com a prima de Davi, uma menina de 17 anos. "Antes de sair, eu avisei a ele (Davi) para não entrar no quarto do tio em hipótese alguma", disse a avó. O quarto a que a aposentada se refere é o do filho dela, militar reformado. Era lá que o homem guardava duas espingardas atrás do guarda-roupas: uma de chumbinho e outra letal (que ficava em uma capa preta).
A prima de Davi precisou ir à padaria e também alertou o menino para não mexer em nada do cômodo. "Eu entrava no quarto só para trocar a fronha. Meu filho brigava se a gente mexia, porque sabia que poderia ser perigoso. E, como ele não mora lá, eu só cuidava da limpeza a cada 15 dias", disse Maria Lúcia.
A notícia
Antes de chegar à igreja, Maria recebeu uma ligação de um familiar perguntando o motivo da confusão na casa dela. Sem entender nada, a mulher correu de volta para a residência, quando soube do acidente. Em depoimento, a prima de Davi relatou que, ao retornar da padaria, encontrou o adolescente ferido com um tiro, e o amigo desesperado gritando por socorro.
À polícia, o jovem que atirou contou que pensou que a arma era de chumbinho. Com a espingarda em mãos, ele conta ter brincado com Davi ao mirar para o amigo: "Imagina uma arma dessa apontada para você", teria dito o adolescente. Segundo o garoto, ao acionar o gatilho, a arma disparou e acertou o peito de Davi. A vítima ainda teria corrido para abrir o portão e pedir socorro, mas acabou caindo.
Davi foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e levado ao Hospital Regional de Ceilândia (HRC), mas não resistiu ao ferimento. A Polícia Militar foi acionada e encaminhou o atirador à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) 2 de Ceilândia. "Ele foi apreendido e responderá por ato análogo ao crime de homicídio culposo. Sabemos que foi uma enorme tragédia e, de fato, os dois eram muito amigos. Na sala da delegacia, o adolescente chorou bastante", afirmou o delegado Juvenal de Oliveira, chefe da DCA 2.
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