Protesto

Mulheres se unem em protesto após estupro de motorista de app no DF

Manifestantes se concentraram no estacionamento da Feira da Torre de TV, saindo em carreata pelo Eixo Monumental

Pessoas vestidas de rosa e unidas pela revolta. O estupro de uma motorista de aplicativo de 41 anos, na última sexta-feira (24/6) mobilizou uma manifestação de grupos de mulheres que dirigem para aplicativos no Distrito Federal, na tarde desta segunda (27), no estacionamento da Feira da Torre de TV.

Antes das 14h, horário previsto para o início do protesto, manifestantes já chegavam ao local e estacionavam seus carros. Entre elas, a líder do Mulheres Motoristas, Adriana Corrêa Andrade, 50 anos, que dirige há dois anos e meio. "O sentimento é de impotência, insegurança e desamparo. A dor da Milena* é a dor de todas. Estamos gritando por socorro.", afirma.

A motorista conta como a mobilização tomou corpo. "A divulgação por si só, funcionou. Fomos recebidas pela Secretaria de Segurança Pública hoje de manhã e nos escutaram. Estamos esperançosas de que dias melhores virão. De levantarmos às 5h, como a maioria das meninas levanta, sair para trabalhar e ter a certeza de voltar para casa em paz, sem medo. Tudo bem que não existe mais profissão segura, mas para nós, motoristas, está pior", relata.

Integrante do aplicativo para transporte de mulheres Eva Drive, Amanda de Carvalho, 41 anos, simplifica o pedido de todas: "Tudo o que as meninas querem é trabalhar com segurança, voltar para casa, trazer o sustento da família com dignidade e segurança. Merecemos esse respeito.", diz.

Milena subiu ao caminhão de som para tocar o movimento. Ao Correio, ela questionou a empresa de transportes. "Precisamos de segurança. Peguei esse passageiro e ele anunciou o assalto em corrida, em meio ao trânsito. O aplicativo fala para a gente que somos monitorados em tempo real. Então minha pergunta é: onde está esse monitoramento que não aciona a polícia no momento do assalto? Eu passei uma hora e meia com esse bandido dentro do meu carro. Fui levada para dentro do matagal, fui estuprada e ameaçada o tempo todo. Só consegui sair quando pulei do carro, mas em momento algum a segurança pública foi acionada, mostrando que não há monitoramento em tempo real", conta.

Além do dano moral, a vítima de estupro detalha os danos materiais que teve. "Cada corrida que a gente pega, pagamos uma taxa pelo aplicativo. Eles ganham milhões em cima da gente. Não é de graça. Apenas me mandaram um e-mail dizendo que a política da empresa não ressarce danos materiais. Estou com meu celular quebrado, porque arremessei o telefone para pedir socorro, fiquei sem poder rodar nesse fim de semana, que é quando ganhamos mais, o carro foi apreendido e amanhã é dia de pagar o aluguel semanal dele e eu não produzi dinheiro para pagar isso", protesta.

"Além de tudo isso, a corrida ainda foi cobrada. Recebi um e-mail deles dizendo que meu reembolso não foi aprovado, gastei combustível rodando com esse vagabundo no carro, então, quem vai pagar essa conta se eu prestei um serviço e me mandaram um passageiro que me gerou todo esse prejuízo? Que política é essa?", contesta.

A motorista destaca que o momento é oportuno para pedir por direitos. "O suporte das mulheres, que são uma parte sensível, é zero. Eu podia estar em casa: estou passando mal, sob efeito de remédios, mas estou aqui por todas. Aconteceu comigo, mas poderia ter acontecido com qualquer uma. Precisamos estar unidas. Nós quem colocamos esses aplicativos para rodar. Se não estivermos unidas, nada acontece. Precisamos de um sindicato e de um ponto de apoio", apela.

Cerca de 40 carros seguiram o caminhão de som que levava Milena, ovacionada e apoiada por buzinas dos motoristas em seus carros com balões e fitas rosas. A manifestação correu pelo Eixo Monumental, partindo da Feira da Torre de TV, às 14h50, esperando pela concentração dos manifestantes que chegavam para apoiar a causa. O protesto seguiu pelo Palácio do Buriti e tomou o sentido contrário para voltar ao ponto de partida, escoltado por um contingente da Polícia Militar.

O passageiro foi autuado por roubo e estupro, e preso na 27ª DP (Recanto das Emas).

O que diz a 99

Em nota enviada ao Correio, a empresa informa que, na tarde de segunda-feira (27/6) realizou um novo contato com a motorista parceira para entender as necessidades e oferecer o apoio devido. Leia o posicionamento na íntegra.

"A plataforma lamenta profundamente o episódio de violência e reitera que tem uma política de tolerância zero a qualquer forma de assédio ou agressão sexual. Em relação ao acolhimento da vítima, a 99 esclarece que, assim que a ocorrência foi reportada, uma equipe realizou atendimento telefônico no dia 25/06, formalizado por e-mail às 13h08. Referente ao e-mail sobre o reembolso, enviado também no dia 25/06, às 13h27, trata-se de uma mensagem automática encaminhada após o sistema analisar solicitações de pagamentos realizados diretamente no app. A empresa reitera que está à disposição para colaborar com as investigações das autoridades.

Esta matéria foi atualizada em 28/6 com o posicionamento da plataforma de aplicativo de transporte. 

**Nome fictício para proteger a identidade da vítima

Saiba Mais

*Estagiário sob supervisão de Mariana Niederauer