Indiciada pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por estelionato, a mulher suspeita de seduzir homens, fazer propostas de cunho afetivo e sexual para pedir dinheiro por meio de pix nega os crimes. Em entrevista concedida ao Correio, Ana Paula Santos do Nascimento, 30 anos, alega ter sido vítima de uma vingança por parte de um homem ao se negar a manter relações sexuais com ele. A reportagem apurou que o rapaz citado pela estudante de serviço social é um técnico administrativo terceirizado do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH).
As investigações conduzidas pela 13ª Delegacia de Polícia (Sobradinho) começaram após um homem registrar boletim de ocorrência alegando ter sido vítima de estelionato amoroso. Em depoimento, o rapaz disse que Ana o seduziu com falsas promessas de cunho amoroso e pedia dinheiro frequentemente para gastos supérfluos, como salão de beleza, bronzeamento artificial e compras de roupas. Em mensagens enviadas por aplicativo, colhidas pela polícia, a jovem diz: "Então me dá o bronze para eu fazer amanhã cedo. É R$ 159. Já vou marcar. Transfere o valor do bronze".
As denúncias são confrontadas pela mulher. Ao Correio, ela conta que conheceu o denunciante, de 30 anos, em março e os dois conversaram por quatro semanas. "Ele achou meu Instagram pelo Tinder (aplicativo de relacionamentos) e, por duas semanas, insistiu para sairmos. Aceitei, mas disse que não tinha condições, até porque ele mora em Sobradinho, e eu em Ceilândia. Então, pedi para que pagasse o Uber e o salão. Ele concordou numa boa", afirma.
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De acordo com a acusada, o primeiro encontro do casal ocorreu na companhia de mais duas amigas da jovem, em uma universidade de Águas Claras. Segundo ela, o homem se interessou de imediato por uma das colegas dela e se disponibilizou a pagar a conta dos comes e bebes de todas. Por quatro finais de semana, os dois saíram. Numa segunda vez, em um dos bares da capital, a mulher relata que o rapaz fez várias transferências de dinheiro para a conta dela. "Estávamos indo para lugares diferentes e ele depositou para mim, para eu chamar o carro de aplicativo. Os extratos mostram isso."
Denúncia
Ana Paula conta que, o fato de se negar a beijar e a manter relações sexuais com o homem, pode ter causado revolta nele. No penúltimo encontro, em uma casa de shows do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA), a mulher relata que se encontrou com outros amigos e chamou o técnico para sentar na roda, mas ele teria ficado com raiva e voltado para a casa. "Ele virou para mim e disse que havia feito o pix do bronzeamento, mas que ainda não tinha visto o resultado."
No final de semana seguinte, de acordo com Ana, os dois estiveram num evento realizado na casa de uma das amigas dela. Na festa, o técnico teria oferecido pix a todas as mulheres, menos à ela por ainda estar com raiva. "Tudo que ele fez de PIX para mim deu, no total,
R$ 576." No último encontro, em um bar do Sudoeste, a jovem diz que bebeu apenas uma dose e saiu para outro lugar mas que, em depoimento, o homem alegou que teria gastado R$ 840 com ela. "Nós nem estávamos conversando direito. Eu retornei depois apenas para ir embora com minha amiga. Ele não pagou absolutamente nada para mim", defendeu.
O delegado responsável pelo caso, Hudson Maldonado, afirma que pelos menos outras duas vítimas ficaram envergonhadas e não registraram ocorrência. Segundo o investigador, um dos homens chegou a perder todo o salário do mês
(R$ 1,2 mil) e, em outro caso, um rapaz foi ameaçado e precisou transferir um valor para não ter fotos íntimas divulgadas. "Em meio às conversas por WhatsApp regadas à sedução e fotos ousadas surgem solicitações de pix, a pretexto de arrumar o cabelo no salão, comprar roupas para encontros e bronzeamentos. As promessas vão aumentando cada vez mais e, após perceber que caiu em um golpe, a vítima se afasta e fica com vergonha de si mesmo e de denunciar", explicou.
Ana se defende. "Não existe esse negócio que eu ameaçava ele de soltar fotos íntimas caso não me pagasse e não acumulei dinheiro com golpe. Ele simplesmente se revoltou por eu não ter feito sexo. Eu simplesmente impus uma condição e ele aceitou", alegou.
Advogado de Ana, Thiago Sá, afirma que "o fato demonstra a institucionalização da torpeza do próprio denunciante que, insatisfeito por não ter sua intenção sexual atendida, ao que tudo indica, está se utilizando do aparato policial para constranger mulher honesta como sua vingança pessoal". E completa: "trata-se de homem casado, com ensino superior completo, formado em administração e que inclusive labora no Ministério da Mulher, desta feita, a vítima irá tomar todas as providências civis e criminais cabíveis, inclusive para apurar suposta denunciação caluniosa ou informação de falso delito, vez que o fato informado às autoridades é evidentemente atípico".